É frequentemente confundida com uma dor de cabeça. Mas a intensidade da dor, associada a múltiplos sintomas, fazem da enxaqueca uma patologia “muito incapacitante”, que afecta mais as mulheres do que os homens.
A nível mundial, estima-se que a doença atinja quase 15% da população, ou seja, mais “do que a diabetes, asma e epilepsia em conjunto”, frisa Sara Machado, neurologista que integra a Direcção da Sociedade Portuguesa de Cefaleias.
A especialista explica que a enxaqueca “se manifesta por crises repetidas de dor de cabeça”, que podem “durar desde poucas horas até três dias” e “repetir-se esporadicamente ao longo da vida ou mesmo várias vezes num mês”, podendo, por isso, resultar numa “grande incapacidade em várias esferas da vida (familiar, laboral, social)”.
Segundo Sara Machado, a enxaqueca revela-se através de “múltiplos sintomas”, sendo o mais frequente a dor de cabeça “forte, latejante”, em que “parece que o coração pulsa dentro da cabeça”, e “incapacitante”. A esse, juntam-se outros sintomas, como “a intolerância à luminosidade, aos sons e aos cheiros e ainda náuseas e vómitos”.
A neurologia refere ainda que, “em 20% dos casos” existe também o que se denomina por “aura”, ou seja, “a associação de sintomas neurológicos, como a alteração da visão ou da sensibilidade, com duração de minutos e totalmente reversíveis”.
[LER_MAIS] A especialista, que o JORNAL DE LEIRIA ouviu a propósito do Dia Europeu da Acção Contra a Enxaqueca, que se assinalou no passado dia 12, adianta que o diagnóstico da doença é feito pelas “características das crises de dor (como a descrição da sua qualidade, duração e frequência) e pelos sintomas acompanhantes”, “não sendo necessário recorrer a exames complementares”.
Após o diagnóstico, “é importante explicar” ao paciente que “é uma doença congénita e crónica”, mas que “pode ser modificável, conseguindo-se melhorar amplamente a qualidade de vida” de quem a sofre.
A primeira abordagem deve ser, segundo a médica, através da “terapêutica não farmacológica”, com a adopção de “uma dieta saudável com reforço da hidratação, exercício físico regular, horários de sono regulares”, e evitando o consumo excessivo de álcool e de cafeína e reduzindo o nível de stress.
“Muitos doentes melhoram se adoptarem 'apenas' estas medidas. Quando necessário inicia-se a terapêutica farmacológica”, acrescenta Sara Machado.
Sexo e genética determinantes
Se durante a infância a prevalência da enxaqueca “é igual em ambos os géneros, após a puberdade duplica nas mulheres”, com as hormonas a assumirem um papel “importante” no seu aparecimento.
O factor hormonal faz com que, por exemplo, na altura da menstruação seja frequente ocorrerem “mais crises de enxaqueca, o que está relacionado com a variação hormonal, já que nesta fase existe uma queda abrupta do nível de estrogénios”, explica Sara Machado.
A neurologista nota, contudo, que, “apesar desta importante influência, na grande maioria das mulheres as crises acontecem também fora dos períodos de menstruação”. “Só em cerca de 11% é que as crises ocorrem exclusivamente na altura do período menstrual e tendem a ser mais fortes e incapacitantes”, adianta.
A par do género, a genética é outro dos factores que influência a prevalência da enxaqueca. “Habitualmente, uma mulher com enxaqueca terá uma mãe e uma avó com enxaqueca. Há uma componente hereditária e essa não pode ser controlada”, afirma Margarida Martins Oliveira, neurocientista e nutricionista, em declarações à rádio TSF.