“Temos música, mas não temos par para dançar”. A afirmação é de Diogo Mangas, administrador da Metalourém, a propósito da situação que se vive no sector da metalurgia e metalomecânica: muita procura, mas dificuldades no acesso à matéria-prima, que escasseia e está cada vez mais cara.
O gestor diz que a procura de construções metálicas, actividade principal desta empresa de Ourém, “está a atingir níveis nunca vistos”, mas a escassez de matérias-primas está a obrigá-la a “adiar trabalho”.
“Um simples parafuso, que há três meses nos chegava em dois dias, agora demora 15 dias ou mais. E é mais caro”, lamenta.
Ferro, alumínio, níquel, cobre e estanho são algumas das principais matérias-primas que escasseiam na indústria portuguesa da metalurgia e da metalomecânica.
A falta e o aumento do custo destes materiais são o principal entrave ao crescimento do negócio, segundo um inquérito realizado em Março pela Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal.
Citado pelo Jornal de Negócios, Rafael Campos Pereira, vice-presidente da AIMMAP, diz que devido a estas dificuldades “algumas empresas temem poder vir a ser obrigadas a parar a sua actividade a curto e médio prazo”.
A situação tem impactos no negócio a um outro nível: “temos obras em carteira, mas os preços dos materiais sobem entre o momento em que entregamos o orçamento e aquele em que os materiais nos chegam”, explica Diogo Mangas.
Face a este cenário, as empresas só “têm um caminho”, que é subir preços, entende o gestor. Mas acredita que haja as que prefiram “praticar preços antigos, para não pararem”, opção que pode prejudicar uma sã concorrência.
[LER_MAIS] Tal como os outros empresários ouvidos, também Ricardo Vieira não tem certezas sobre o que está a motivar a escassez de matérias-primas, situação cíclica que já ocorreu noutras ocasiões.
O director da Reynaers Aluminium, em Pombal, afirma que o impacto “é significativo”, alertando que vai haver uma subida de 30% nos custos de alguns materiais no próximo trimestre.
No caso desta empresa, a escassez de matérias-primas não está ainda a ter impactos, mas Ricardo Vieira admite que, a manter-se, poderá condicionar a capacidade de resposta. “Dentro de algumas semanas poderemos não conseguir entregar as obras nos prazos normais”.
Na semana passada, Mário Santos, responsável pela Escovinox, de Leiria, recebeu a nova tabela do fornecedor da chapa de alumínio e constatou que o preço subiu 20%. Além da subida dos preços, também esta empresa de serralharia civil tem de lidar com a dificuldade em obter materiais.
“Corrediças para gavetas da Blum, que é das melhores marcas, não há. O prazo de entrega é de dois meses”, exemplifica. Para não comprometer o trabalho, a empresa recorre a outras marcas sempre que possível, com o acordo do cliente.
“Ainda vamos tendo materiais: latão vai havendo, cobre também, no alumínio sente-se mais a escassez, mas não há falta”, diz Mário Santos, que admite igualmente que se a situação se mantiver acabará por afectar a actividade.
Inquérito
Inquérito
Preços “proibitivos” ferem concorrência
De acordo com o inquérito da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal, 44% das empresas inquiridas (estudo foi feito junto de mais de uma centena de associados, especialmente pequenas e médias empresas exportadoras) apontam como principais obstáculos ao crescimento a escassez e o aumento do custo das matérias-primas. “Têm enormes dificuldades em comprar e, quando as conseguem encontrar, os preços são proibitivos”, explica o vice-presidente da AIMMAP, que aponta como principal consequência a “perda de competitividade face aos concorrentes turcos e asiáticos”. Apesar de tudo, as exportações do sector deverão crescer este ano, em média, 10%, para cerca de 19 mil milhões de euros, embora não recuperem totalmente a queda de 2020. “Temos de ser cautelosos, mas tendo em conta um crescimento de 10%, em média, ainda não vamos conseguir totalmente recuperar”, explica Rafael Campos Pereira, citado pela Lusa. Num inquérito recentemente realizado ao sector, 64% das empresas esperam, este ano, ter um crescimento de 64% no volume de negócios, enquanto 50% prevêem crescer nas exportações, disse o responsável, apontando para um crescimento situado num intervalo de 5% a 20%, em ambos os casos. “Entre 2010 e 2019 tivemos um crescimento das exportações superior a 100%”, lembrou o dirigente. Em 2019 as exportações do sector representaram mais de um terço das efectuadas pela indústria transformadora portuguesa.