Os segmentos da pesca artesanal que dependem de isco para operar estão a atravessar dificuldades devido à escassez deste produto, cujo preço também tem subido.
A este cenário juntam-se os elevados custos dos combustíveis, agravando a situação do sector.
A falta de isco afecta particularmente as embarcações que se dedicam à pesca do palangre de fundo (aparelhos de linhas e anzóis), que capturam espécies como peixe espada preto, goraz, cherne, ou congro, entre outras.
Mas também as embarcações de pesca local e costeira que utilizam armadilhas gaiola para a captura do polvo e de outras espécies se deparam com a “difícil contingência de não haver isco para seguirem para a faina”.
A situação deve-se à “paragem prolongada” da frota de cerco, que captura pequenos pelágios, como a sardinha ou a cavala, que servem de isco na pesca de outras espécies.
“Como é sabido, atravessa-se um período de proibição da pesca dirigida à sardinha que é um isco de excelência e que abunda nas nossas águas nos tempos que correm, segundo o que é relatado pelos pescadores”, aponta a Direcção da Organização Regional de Leiria (DORLEI) do PCP, que recentemente veio alertar para o assunto.
A situação está a resultar em “graves penalizações para empresas e pescadores, que têm que ficar amarrados ao cais por não terem forma de contornar este grave problema”,
“A falta de isco é uma realidade”, que se junta a outros problemas que o sector da pesca enfrenta, diz ao JORNAL DE LEIRIA Humberto Jorge, presidente da Anopcerco (Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco), de Peniche.
O dirigente mostra-se expectante de que a falta de isco seja ultrapassada em breve, na medida em que muitas embarcações do cerco que estavam paradas deverão retomar a actividade mais cedo do que era costume (meados de Março).
Sendo a frota do palangre de fundo “importante” no porto de Peniche, a situação está a ter impactos no concelho, até porque se junta a outro problema que é a subida dos preços dos combustíveis.
“Com o isco mais caro e os combustíveis mais caros, se os preços do pescado não acompanharem, mais cedo ou mais tarde os pescadores vão ter problemas”, sublinha o presidente da Anopcerco.
O problema sente-se também na Nazaré e noutros portos do País. “As preocupações são imensas”, na medida em que um artigo essencial para a actividade como é o isco escasseia e apresenta um custo elevado.
“Quem quer ir ao mar tem de o comprar, mesmo a preços quase proibitivos”, diz João Paulo Delgado, da Mútua dos Pescadores. “A isto juntam-se os preços dos combustíveis, resultando numa situação muito difícil de gerir”.
Também a DORLEI refere que a falta de isco “vem agravar a situação já muito penalizada pela escalada dos preços dos combustíveis”, “sem apoios nem respostas do governo nacional às necessidades do sector”.
“Exige-se, portanto, que o governo nacional, em estreita articulação com as organizações representativas do sector, encontre rapidamente soluções” para o problema da falta de isco.
A estes dois problemas conjunturais – falta de isco e preços dos combustíveis – junta-se um outro, estrutural, de cada vez mais difícil resolução: a falta de pessoal.
“É um problema que afecta embarcações de todo o País. As companhas são maioritariamente compostas por imigrantes, dos PALOP, de Cabo Verde e da Ásia”, explica João Paulo Delgado.
“Mas muitos, sobretudo asiáticos, acabam por ir embora para zonas como a Galiza ou a Bretanha, onde há uma maior valorização do pescado”, acrescenta.
Para o responsável da Mútua dos Pescadores, as soluções para o problema passam por valorizar as profissões ligadas à pesca, criar estabilidade nas relações laborais (contratos de trabalho) e pela valorização do pescado na primeira venda (dos pescadores à lota).
“A falta de mão-de-obra perdura há mais de dez anos e cada vez se agrava mais. Todos os anos há pescadores que se reformam e não há jovens que queiram ir para a profissão”, diz por sua vez Humberto Jorge.