Há cerca de 20 mil anos, na recta final do Paleolítico Superior, a Terra sofreu uma alteração climática significativa. A temperatura baixou “entre 8 a 10 graus centígrados” e deu-se início ao período climático designado por último máximo glacial.
Apesar da importância desta fase de transição, este é um período da história “pouco conhecido na sequência crono-cultural do sudoeste europeu”.
Mas, na freguesia de Maceira, em Leiria, há um local que pode trazer novas pistas sobre a forma como o Homem enfrentou esse desafio e se adaptou às alterações climáticas. Esse é, pelo menos, o desejo da equipa envolvida nas escavações arqueológicas no Sítio Portelas II, em Vale da Gunha.
Coordenados por Cristina Gameiro, investigadora do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (Uniarq), os trabalhos começaram no dia 21 de Junho e vão prolongar-se até ao próximo dia 16.
A arqueóloga explica que a campanha vem no seguimento da escavação preventiva realizada em 2009, durante a abertura de uma vala de saneamento. Na ocasião, foram identificados e recuperados “artefactos em pedra lascada atribuídos ao Paleolítico Superior”, ou seja, “produzidos e utilizados no local há cerca de 20 mil [LER_MAIS]anos”.
“Em 10 metros quadrados [a área da escavação de 2009], recuperaram-se cerca de 800 peças líticas, não só artefactos, mas também restos de talha”, conta Cristina Gameiro, que tem no Paleolítico Superior o seu principal objecto de estudo.
Por entender que “valia a pena voltar a escavar o terreno”, a investigadora concorreu ao financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia com o projecto Paleorescue – O Paleolítico Superior e a Arqueologia Preventiva em Portugal: desafios e oportunidades, que inclui a campanha de escavações em curso, na qual participam alunos da licenciatura em arqueologia da Universidade de Lisboa e Maurizio Zambaldi, geo-arqueólogo italiano.
Com as novas escavações, pretende-se “recuperar mais artefactos e reunir mais informações sobre as actividades realizadas pelas populações humanas que habitavam” aquele território durante o período em causa, “a fase de transição do gravettense ao solutrense”.
“É importante estudar e identificar as adaptações humanas à alteração climática então ocorrida, que provocou mudanças na flora e na fauna e condicionou a vida das populações
No passado, o Homem enfrentou este desafio e soube adpatar-se. Isto dá- -nos alguma esperança”, defende Cristina Gameiro, que, no último sábado, serviu de guia aos participantes no Dia Aberto que levou cerca de 120 pessoas a conhecer o sítio arqueológico Portela II.