Vai começar o terceiro ano de actividades na Escola da Floresta de Ourém e há 40 crianças inscritas, mais do que três vezes o total de meninos e meninas no grupo inicial, constituído em 2021.
A fundadora do projecto, inspirada pelo movimento Forest School, trouxe a ideia de Inglaterra, onde trabalhou no ensino público como professora do primeiro ciclo até abrir um jardim de infância ao ar livre, no Sul de Londres. Com a pandemia, Cátia Lopes regressou a Portugal e ao concelho de origem.
A antiga escola primária da aldeia de Vale Travesso (edifício cedido pelo município) é a casa da Escola da Floresta de Ourém, que actua no nível pré-escolar e resulta da iniciativa de vários encarregados de educação reunidos na Associação Uma Escola na Floresta. Muito perto, fica a Quinta da Casa Velha. É também lá, no meio da Natureza, entre sobreiros e pinheiros, que as crianças brincam e aprendem. “Tentamos ao máximo trabalhar os currículos no exterior”, explica Cátia Lopes.
O modelo pedagógico é anunciado como “mais respeitador do ritmo e da individualidade” de cada criança. As que têm problemas de comportamento, segundo a responsável, parecem adaptar-se melhor do que noutros contextos. Há “muita interacção com a comunidade local” – na apanha da azeitona e nas vindimas, por exemplo – e uma abordagem focada na “educação para a sustentabilidade” e no “contacto com a Natureza”.
Entre os meninos e meninas da Escola da Floresta de Ourém está, desde o primeiro dia, o filho de Cátia Lopes. Estão distribuídos por três grupos e cada grupo conta com uma educadora e uma auxiliar. Com idades entre os três e os seis anos, residem maioritariamente no concelho de Ourém, mas também há famílias de Tomar e da Batalha que responderam ao desafio lançado em 2021 nas redes sociais.
“De facto, apareceu muita gente”, comenta a fundadora do projecto. “Estamos a ter um crescimento que eu não esperava”. A principal motivação dos pais “tem a ver com o exterior, que não é prioridade noutros locais”, considera Cátia Lopes. E, depois, “os resultados”. As crianças passam “dias inteiros” ao ar livre e saem à rua sempre que possível.
Cátia Lopes é uma das subscritoras do Movimento Aprendizagem Ao Ar Livre, constituído por profissionais de educação, especialistas em desenvolvimento na infância e famílias, que, em Março de 2021, publicaram um manifesto em que, entre outros aspectos, apontavam como necessária uma revisão da legislação, por considerarem necessário prever a existência de estabelecimentos de educação pré-escolar que funcionem maioritariamente ao ar livre, bem como promover um número mínimo de horas de aprendizagem ao ar livre no primeiro ciclo do ensino básico, de modo a que o currículo e os objectivos pedagógicos possam ser concretizados com base na exploração livre do espaço e na utilização e manuseamento de materiais naturais como recursos pedagógicos.
“Esperamos que o próximo passo seja o reconhecimento oficial destes projectos”, afirma Cátia Lopes, que pretende que a Escola da Floresta de Ourém possa “chegar a todo o tipo de famílias” e não ser “uma escola elitista” ou “só acessível a algumas crianças”. Por enquanto só dirigido ao pré-escolar, o projecto poderá, no futuro, crescer para o primeiro ciclo do ensino básico.