As escolas enviam, todos os anos, centenas de livros para a reciclagem. Em causa, estão manuais que não são passíveis de reutilização, por estarem em mau estado de conservação ou por se encontrarem desactualizados em relação às metas curriculares em vigor.
Terá sido isso que aconteceu recentemente na Marinha Grande, onde uma comerciante resgatou do ecoponto cerca de 750 manuais em bom estado, evitando que fossem para a reciclagem.
O caso passou-se junto à EB 2,3 Nery Capucho e levou já à abertura de “um processo de inquérito”, segundo informa a directora do Agrupamento de Escolas Marinha Grande Nascente, Ana Carvalho, que se escusa a prestar mais esclarecimentos.
Embora reconheça que é a própria Lei que prevê o envio de manuais para reciclagem, Dulce Rosário não se conforma com o que considera ser “um desperdício”.
“A educação não pode ir para o lixo.[LER_MAIS] Haverá, seguramente, várias formas de dar utilidade a esses livros”, defende a comerciante, que, ao aperceber-se da situação e depois de tentar contactar a câmara e os representantes da escola, pôs mãos à obra e retirou os manuais do ecoponto.
Segundo conta, havia também livros de fichas “ainda empacotados com o plástico” e material escolar, como réguas, compassos, lápis, canetas e transferidores.
Depois de divulgar a situação nas redes sociais, Dulce Rosário foi abordada por algumas pessoas e por um centro de explicações que dá apoio a crianças com dificuldades, a pedir para ficarem com alguns manuais e material escolar.
Entretanto, a comerciante contactou uma organização de Moçambique, para onde serão enviados cerca de 400 livros.
Partindo deste caso, o JORNAL DE LEIRIA contactou várias escolas da região para perceber o destino que dão aos manuais que não são passíveis de reutilização, nomeadamente devido à entrada em vigor de novas metas curriculares, e a resposta foi invariavelmente a mesma: a reciclagem.
“O envio para outros países não faz muito sentido, porque os programas são diferentes e o transporte é caríssimo. É preferível canalizar essa verba para aquilo que efectivamente precisam”, alega Silvina Reis, uma das professoras envolvidas no processo de reutilização de manuais na Escola Afonso Lopes Vieira, em Leiria, dando o exemplo da parceria que a instituição tem há vários anos com uma ONG de São Tomé.
“A ajuda que damos é em função do apoio que nos pedem. Normalmente enviamos material escolar e livros de leitura”, conta.