Existe um quadro no Tate Britain Museum, do pintor Geaorge Frederic Watts, chamado Hope. Não esquecerei nunca o sentimento que tive quando o vi pela primeira vez: é aquela coisa rara que acontece quando olhamos para uma coisa e nos vem à cabeça um “é isto!”.
O Hope retrata uma mulher sentada num globo, num cenário brumoso, sozinha, a tocar uma lira com uma corda só, de olhos vendados.
Não é um simbolismo particularmente subtil, mas é uma bela imagem do que é a esperança perante a desolação.
É uma coisa solitária, ao contrário da fé, que pressupõe sempre um outro, um Deus que virá de fora, do além, para nos salvar. A esperança vem de nós, temos de ser nós a tocá-la até à última corda, mesmo quando tudo à nossa volta é incerto e pouco animador.
Há uma espécie neste mundo que, não sendo particularmente forte, não sendo particularmente veloz, não sendo particularmente indestrutível, é uma coisa que mais nenhuma outra é: dotada de imaginação.
O ser humano consegue imaginar, construir coisas novas para resolver problemas, ver-se a si próprio em cenários futuros e projectar para alcançar aquilo que imaginou.
É uma coisa incrível, isto da imaginação. [LER_MAIS] O que já se inventou, aonde se chegou!
E, estranhamente, aqui estamos hoje, no tal cenário brumoso, à beira de um abismo metafórico que é tão somente a ameaça da nossa extinção, a destruir todos os dias a hipótese de futuro, convencidos de que não há-de ser nada.
Num outro momento de desespero, os soixante-huitards bem gritaram “imaginação ao poder!”, imbuídos da tal esperança que hoje se apaga cada vez mais cedo em nós, seus herdeiros. E já na altura, o mundo ouviu apenas por meia dúzia de segundos antes de continuar com a vida.
Há por aí uns loucos, umas garotas de 16 anos, irresponsáveis que faltam às aulas – porque querem ter um mundo para viver, vejam lá! – que já perceberam o que se está a passar.
Faltam às aulas para falar ao mundo, fazem greves pelo planeta, são mais sensatas que nós, que continuamos com a cabeça enfiada na areia da nossa vidinha.
Dia 24 de Maio vão fazer tudo de novo. Era bom que nos juntássemos ao grupo, com muita esperança e imaginação!
*Activista