O melhor lugar para aprender? A Natureza. Este é o ponto de partida do projecto Escola da Mata, que está a instalar-se numa antiga casa dos serviços florestais, na Marinha Grande. Num cenário definido pelo oxigénio do Pinhal de Leiria, a proposta inclui piqueniques diários e sestas ao ar livre em camas de rede. Todas as actividades são planeadas para decorrer no exterior, desde a chegada das crianças até ao momento do regresso às famílias. De acordo com o programa inspirado no movimento Forest School, o edifício de apoio é utilizado como abrigo quando não há condições para brincar e explorar na rua.
O projecto da associação Casa da Árvore pretende ocupar o tempo com criatividade e autonomia para ajudar ao desenvolvimento de crianças entre os três e os seis anos de idade. Há uma cozinha de lama onde se inventam poções mágicas e as fadas da floresta deixam cartas com sugestões de brincadeiras. Por exemplo, montar um refúgio para animais imaginários. Sem plástico nem ecrãs de telemóvel, só com ramos, folhas e outros materiais que se encontram na Mata Nacional de Leiria.
Espírito comunitário. Cuidar de mim, cuidar do outro, cuidar da Natureza. Uma ideia construída de raiz, com pais e filhos. "O objectivo é mesmo esse: viver, viver com as pessoas, sejam adultos, sejam crianças", explica Patrícia Marcelino, presidente da Casa da Árvore, uma associação fundada em 2013 que também é responsável pela iniciativa Histórias ao Luar.
O espírito de comunidade está sempre presente, tanto no contacto com actores locais, do padeiro ao agricultor, como na partilha das responsabilidades. "No fundo, é eles viverem esse sentido comunitário e perceberem de onde as coisas vêm", conclui. "Trazer os produtos da horta, cozinhá-los, o que seja. Viver também esta questão das decisões conjuntas de uma comunidade, decidir com as crianças de acordo com o que elas estão a precisar no momento e não ser o adulto a ditar as regras. As decisões serem tomadas com o grupo e nessa consciência estarmos atentos a cuidar uns dos outros".
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Nos últimos meses, a Escola da Mata aconteceu em formato itinerante, no ambiente do Pinhal de Leiria. Com canções, passeios a pé, duendes de lã a representar os dias da semana, pinturas, castelos e, sobretudo, muita imaginação. Os temas são trabalhados por sugestão dos mais novos e a manipulação despreocupada de bolhas de ar produzidas por uma garrafa na água pode culminar inesperadamente com uma reflexão sobre o espaço que o vazio ocupa.
"Também saltamos nas poças, é muito importante". Da liberdade nasce a novidade, um passo de cada vez. "E depois é apreciar a beleza constantemente, é perceber que há aqui algo maior do que nós, que as árvores são algo fascinante, tudo muda, ontem não estava ali aquele cogumelo hoje já está, de repente vem um esquilo, de repente ouvimos um som, é um fascínio constante, uma descoberta constante que nem sempre nos contextos interiores é possível", resume Sónia Correia, vice-presidente da associação Casa da Árvore.
Apoio do município. Com uma equipa de cinco pessoas, a Escola da Mata preparase para uma nova etapa, a começar na manhã de 12 de Setembro, com a estreia das instalações localizadas na zona da Salgueira, no início da estrada que liga a Marinha Grande a Vieira de Leiria. Um imóvel propriedade do ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, cedido no âmbito de um protocolo com o apoio do Município.
As fundadoras da associação Casa da Árvore são profissionais da educação de infância e admitem que já sonhavam "há muito tempo" com um projecto como este, capaz de contrariar o ritmo acelerado da rotina moderna e as fronteiras artificiais erguidas entre paredes.
"Olhando até para aquilo que nós vemos como a oferta que é dada às crianças na sociedade, em que elas têm o jogo em que carregam no botão e produz aquele som, ou aquele boneco que serve para aquilo, aqui um pau pode ser cem coisas, mil coisas, portanto é dar espaço para que a criança tenha essa oportunidade de criar e recriar, constantemente, percebendo que isto é algo que faz parte da nossa essência e da nossa vida", afirma Sónia Correia.
Um regresso a outros tempos, com aquilo que a Natureza oferece. "Esse é o grande ponto de partida para que todos possamos cuidar da Mata: a ligação afectiva", lembra Patrícia Marcelino. Os adultos de amanhã são os novos habitantes do Pinhal de Leiria, que é também a sala de aulas da Escola da Mata.
As raízes do movimento Forest School na Europa têm mais de 50 anos. Em Portugal, foi criada recentemente uma Associação Escola da Floresta, que visa apoiar e validar a implementação e desenvolvimento desta abordagem em projectos nas áreas de educação, ensino e formação. Genericamente, a filosofia Forest School contempla actividades ao ar livre e o contacto directo com a Natureza. As sessões interligam-se através de um ciclo que envolve planeamento, observação, adaptação e revisão. O modelo dá prioridade ao desenvolvimento da autonomia e da iniciativa da criança, através das aprendizagens e experiências no exterior.