E se, tal como fazem para o alojamento, os peregrinos pudessem reservar, antecipadamente, o lugar de estacionamento em Fátima? E se, em vez de virem em transporte próprio ou em excursões que não os livram de filas de trânsito, houvesse um serviço que os fosse buscar à origem e os deixassem no centro da Cova da Iria com recurso a vias prioritárias?
As sugestões foram deixadas por Inês Marrazes, especialista em planeamento urbano e mobilidade, durante a conferência sobre ambiente e urbanismo, integrada no ciclo 50 anos. Cidade de Fátima, que futuro?, realizada na semana passada.
Falando dos desafios da mobilidade na era do digital, a técnica sublinhou que as mudanças trazidas pela digitalização ocorrem rapidamente e fazem-se sentir também nos territórios e na mobilidade. Consciente que “não existem soluções óptimas”, Inês Marrazes apontou alguns caminhos possíveis para colocar a digitalização ao serviço do planeamento e da mobilidade e desafiou Fátima a apostar na MaaS – Mobilit as a Service. Ou seja, a encarar a “mobilidade como um serviço que se oferece”.
“A solução não é organizar excursões. Até porque, se vou de autocarro, em dias de grandes peregrinações, tenho de esperar horas para chegar ao Santuário”, especificou a especialista.
Corredores prioritários
Na sua visão, a solução poderia passar por criar um serviço que fosse buscar as pessoas à origem, deixando-as na cidade, recorrendo a corredores prioritários, com vantagem para os utilizadores e para o território. Isto porque, com uma solução deste género, não seria necessário ocupar tanta área com estacionamento, libertando espaço para a execução de “estratégias a pensar nas pessoas que vivem na cidade”.
A par da mobilidade, a conferência abordou questões relacionadas com o urbanismo de Fátima, a partir das propostas da revisão do Plano de Urbanização que acaba de ser aprovado e que deverá entrar em vigor no próximo mês.
Assumindo que, como todos os instrumentos de ordenamento, o plano “não é perfeito”, Rute Afonso, arquitecta que integrou a equipa responsável pela revisão, alegou que se procurou chegar a uma versão “realista e flexível e mais ágil”.
Preparação da JMJ
Durante a conferência, o presidente da Junta de Freguesia de Fátima, Humberto Silva, revelou que estão já identificados cerca de 100 hectares de terreno fora da cidade que poderão ser usados para estacionamento, servido com circuitos de autocarros, durante a visita do Papa a Fátima, em Agosto do próximo ano, aquando da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Na semana passada, o presidente da Câmara de Ourém apelou ao Governo para incluir o município no rol das autarquias envolvidas na preparação da JMJ. “Ourém também tem de ter voz activa neste processo, para que possamos estar preparados para receber Sua Santidade e, sobretudo, os milhões de visitantes que virão a Fátima”, vincou Luís Albuquerque, durante o Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo.