Muitos ainda se recordarão daquela que foi a maior goleada da selecção portuguesa em jogos particulares. Estávamos a 19 de Novembro de 2003 quando Portugal derrotou por 8-0 o Koweit em pleno Estádio Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria, num dia marcante para a cidade, com o baptismo mais festivo que o novo estádio poderia conhecer.
Duas décadas estão prestes a assinalar-se. Desde então, o Estádio Municipal de Leiria tem sido palco de muitos momentos efusivos e de festa, mas também de algumas infelicidades e decepções. Mas foquemo-nos no que de melhor tem acontecido. E a memória mais recente é mesmo a subida de divisão da União Desportiva de Leiria à Liga Portugal 2, em Abril deste ano.
Mas não só de futebol se faz o Estádio de Leiria. O atletismo é também desporto-rei, com a pista de tartan a ser a casa de muitos campeões da modalidade, sem esquecer a esgrima, dança, kickboxing, tiro com arco, ténis de mesa, pentatlo moderno, xadrez, entre outras.
A poucos metros do rio Lis e nas costas do castelo, o estádio é utilizado de forma regular pela União Desportiva de Leiria SAD, Juventude Vidigalense, Bairro dos Anjos, Associação de Dança de Leiria, Casa do Benfica de Leiria, Associação de Ténis de Leiria, Associação Vícios do Campo, Associação de Atletismo de Leiria, Associação de Kickboxing Fernando Paulo, entre outros clubes.
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“É uma infra-estrutura que se foi adaptando ao longo dos anos às mais diversas exigências a que se tem deparado. Cumpre actualmente as suas funções de estádio para o futebol, com a classificação Premium (apenas existem oito no País), tem uma das melhores pistas de atletismo de Portugal, é casa de 10 modalidades desportivas, é sede de várias associações desportivas concelhias”, afirma o vereador do Desporto do Município de Leiria.
Carlos Palheira sublinha que a infra-estrutura é também palco de múltiplos eventos culturais e expositivos, sendo actualmente “muito mais acarinhado pelos leirienses em virtude de todas estas valências”, sem esquecer o facto de ter recebido o centro de vacinação durante a pandemia e acolhido a comunidade ucraniana.
Com uma estrutura inicial construída na década de 60, por iniciativa do então presidente Manuel Magalhães Pessoa, o estádio foi objecto de obras de remodelação e de ampliação com vista à realização de jogos do Euro 2004, num investimento superior a 100 milhões de euros, dos quais 88 milhões para o equipamento desportivo e 18,6 milhões para acessibilidades, incluindo a Ponte do Euro.
Segundo dados do município, neste momento, o capital em dívida é de 13 milhões de euros, com as despesas da infra-estrutura a rondarem entre os 30 mil e os 40 mil euros por mês.
Dos investimentos concretizados ao longo dos 20 anos, destacam-se as obras de manutenção e reparos em 2019, de cerca de 580 mil euros, a repavimentação da pista de tartan, avaliada em 260 mil euros, em 2020, a substituição do tapete de relvado no mesmo ano, na ordem dos 100 mil euros, e dois anos depois uma nova intervenção no relvado e no sistema de drenagem, “a maior de sempre”, de cerca de 140 mil euros.
Já a SAD da União de Leiria, antes da época 2022/2023, a par da melhoria da decoração, investiu em grandes lonas para lhe dar uma nova vida. Uma aposta que, para o vereador do Desporto, “tem tido resultados extraordinários”.
Para 2024 estão previstas “uma intervenção na cobertura do estádio, melhorias no sistema de CCTV e obras de construção civil, além da intervenção na torre nascente do Topo Norte, para instalação dos serviços distritais e locais da Autoridade Tributária e Financeira”, refere.
Recorde-se que, volvidos 20 anos, o Topo Norte, onde inicialmente existiram bancadas amovíveis, continua por acabar, com as obras a não saírem do papel. Numa entrevista concedida ao JORNAL DE LEIRIA no passado mês de Outubro, o presidente da câmara municipal referiu que a obra para a instalação das Finanças “já foi adjudicada”, estando o município “a gerir o processo com a utilização do estádio, quer pela UDL, quer pela Taça da Liga”. “Se garantirmos financiamento para o centro de negócios, a obra avança. Não tendo, só avançaremos com o apoio de uma empresa que se queira fixar. Não quero cometer os erros do passado”, revelou Gonçalo Lopes.
A venda do Estádio Municipal de Leiria, que chegou a estar em cima da mesa sem ter sido apresentada qualquer proposta, continua a não ser descartada pela autarquia, e segundo o vereador Carlos Palheira, “qualquer proposta a ser apresentada terá a necessária avaliação”. Para os próximos 20 anos, idealiza um “Estádio Municipal que continue nesta senda de grande capacidade adaptativa e que cumpra com as suas funções desportivas, culturais, associativas e de protecção civil”.
Isabel Damasceno destaca “orgulho” no estádio
À data da construção e inauguração do estádio, a autarquia era liderada por Isabel Damasceno que, decorridos 20 anos, afirma que “qualquer balanço tem de ser feito à luz das decisões tomadas na altura”. “Nesse período foi um orgulho para Leiria receber jogos do Euro 2004. Mas para os recebermos, tínhamos de ter um estádio”.
“É um estádio que conta com duas vertentes muito importantes, o futebol e o atletismo, respondendo aos anseios da população. Ficará sempre uma infra-estrutura que pode ser usada para várias valências”, salienta. Sobre o Topo Norte, refere que “foi pensado para ser uma mais-valia”. “Existem projectos muito interessantes, que eu espero que sejam concretizados rapidamente.”
UDL apresentou ao município uma “solução” para o estádio
Questionado sobre a avaliação que faz do Estádio Dr. Magalhães Pessoa, o presidente da SAD da União de Leiria destaca o facto de ser “multi-funcional”, ainda que reconheça que, “se fosse somente para uso da UDL, não poderia ter sido construído desta forma”.
“Ter a pista de atletismo, por exemplo, não nos permite ter os adeptos perto. O terreno de jogo está muito afastado das bancadas, o que não é positivo no contexto de um jogo de futebol.”
Armando Marques revela que “há uns tempos, esta administração apresentou uma solução ao Município de Leiria, que ficou de ser avaliada”. Segundo o presidente, em primeiro lugar, esta solução “satisfará todas as modalidades que hoje estão no estádio”, apostando-se na “adaptação ou readaptação do estádio para outro tipo de funções”. “Esta solução não poderá ter custos para a autarquia, e aí a UDL estaria na disposição de entrar no projecto”, refere Armando Marques, adiantando que a solução passaria pela “criação dos pólos desportivos necessários para a prática das modalidades que estão no estádio”.
Defendendo que o ponto mais alto do recinto foi a subida de divisão à Liga Portugal 2, o presidente não tem dúvidas que “será novamente palco de uma subida”. “Será a última subida da União de Leiria. Pois, uma vez na Primeira Liga, não tencionamos que volte a descer. Ansiamos que o estádio seja o palco da última subida da UDL o mais rapidamente possível, e se for já esta época, ainda melhor.”
Juventude Vidigalense olha com “tristeza” para danificação da pista
A intervenção na pista de tartan em 2020, a primeira desde a inauguração do estádio, foi recebida com agrado por parte da Juventude Vidigalense (JV), que considera ter “uma excelente pista de treino”. Ainda assim, o presidente do clube demonstra “alguma tristeza” com os “eventos que se fazem com alguma regularidade no estádio”, que “danificam muito o equipamento”. “São montados palcos, levam-se camiões, estruturas para ecrãs, um conjunto de coisas que deixam a pista muito marcada, sendo que já se encontram zonas com buracos e tartan claramente danificado.”
Nuno Cordeiro salienta tratar-se de “uma boa pista para a prática da modalidade”, tendo já sido “alcançados alguns resultados de relevo, em especial desde que houve manutenção”.
Sobre o futuro, defende que “existe muito espaço coberto que poderia ser reaproveitado para zonas de treino interior, uma vez que há disciplinas mais técnicas que são mais difíceis de executar em períodos de chuva”, apontando como uma possibilidade “mais ambiciosa” a criação de um Centro de Alto Rendimento para todas as modalidades, com alojamento para atletas de alto rendimento e a criação de um gabinete de performance.
BA quer equipamento de treino de obstáculos
O Estádio de Leiria é a ‘casa’ das secções de atletismo, esgrima e pentatlo moderno do Bairro dos Anjos (BA), e para o seu presidente, trata-se de um equipamento que tem como pontos fortes “a sua centralidade e acessibilidade e a diversidade de espaços de utilização, desportivos, de salas formação, alojamento, entre outros”.
Ainda assim, Abílio Figueira considera haver a “urgência na colocação de equipamento de treino de obstáculos, já que esta disciplina passou a fazer parte do pentatlo moderno, e havendo condições de treino desta modalidade no estádio, continua a garantir-se um dos pontos fortes, a acessibilidade dos atletas ao treino desta modalidade”.
Do ponto de vista da gestão da utilização do estádio, e considerando “a existência de muitos eventos com impacto na actividade regular de treinos das diferentes modalidades”, o presidente do BA alerta que “sempre que há um evento, torna-se difícil ou quase impossível aceder às instalações, muitas vezes durante vários dias, o que gera descontentamento nos seus praticantes, que acabam por optar por outras actividades em locais mais tranquilos, ou mesmo abandonando a actividade desportiva”.
Sobre a Sala de Armas, considera ter sido “uma boa solução para as necessidades dos atletas”, no entanto, face ao “crescimento do número de praticantes de esgrima e de pentatlo moderno”, surge agora a “necessidade de um espaço maior”.