Amanda Gardim trocou o Brasil pela tranquilidade de Leiria e encontrou rapidamente emprego num café. Sukhvir Singh chegou da Índia há pouco mais de dois anos e já tem um negócio de barbearia que vai de vento em popa na Marinha Grande.
A segurança e a elevada empregabilidade da nossa região continuam de resto a ser fortes pontos de atracção para cidadãos estrangeiros. De acordo com o recém apresentado Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo – 2018 do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), entre 2017 e 2018, o número de estrangeiros residentes no distrito de Leiria aumentou 5,5%, totalizando, em 2018, 17389 pessoas.
Segundo os números oficiais, nos últimos cinco anos (2014-2018) a população de estrangeiros residentes no distrito aumentou 15%. As comunidades mais expressivas na região são actualmente a brasileira e a ucraniana, com 3694 e 3620 cidadãos, respectivamente. Sendo que a comunidade brasileira aumentou 16% entre 2014 e 2018, enquanto a comunidade ucraniana diminuiu 26% nesses mesmos cinco anos.
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A turbulência política do Brasil é uma das justificações para esta saída crescente dos brasileiros do seu país e, segundo a Amigrante – Associação de Apoio ao Cidadão Migrante, os dados oficiais estarão bastante aquém do aumento real de cidadãos brasileiros, bem como de outras proveniências, na nossa região, que se tem demonstrado bastante acolhedora.
Um País de várias cores
A nível nacional, os dados do SEF revelam que em 2018, pelo terceiro ano consecutivo, se verificou um acréscimo da população estrangeira, com um aumento de 13,9% face a 2017, totalizando 480.300 cidadãos estrangeiros titulares de autorização de residência, o que corresponde ao valor mais elevado registado pelo SEF desde o surgimento deste serviço, em 1976.
Os distritos que registaram maior aumento de estrangeiros residentes entre 2017 e 2018 foram Braga (24,4%), Porto (18,7%), Viana do Castelo (17,4%) e só depois Lisboa (17%). No entanto, em números absolutos, a capital do País é a que maior número de cidadãos estrangeiros recebe. É lá que residem mais de 213 mil imigrantes.
Já no interior do País, o cenário é inverso. Entre 2017 e 2018, Portalegre perdeu 0,3% estrangeiros residentes e fica-se hoje pelos 2449 imigrantes. Quanto ao distrito de Leiria, onde a população de estrangeiros residentes cresceu 5,5% entre 2017 e 2018, os 17389 cidadãos imigrantes concentram-se sobretudo no concelho de Leiria (5080), Caldas da Rainha (2127), Alcobaça, (1747), Marinha Grande (1706) e Pombal (1575).
Contudo, apesar de registarem números mais modestos, existem também comunidades com bastante expressividade nos concelhos a Norte do distrito de Lei- ria, como é o caso da britânica, explica João Carreira, presidente da Amigrante.
João Carreira considera que Leiria tem muita procura por parte dos estrangeiros, na medida em que é uma cidade relativamente pequena e calma, e onde há grande empregabilidade. Refere que são várias as comunidades que habitam no concelho, e nota que quem chega foi geralmente aconselhado a ficar, ou por amigos ou por familiares que chegaram primeiro e estão já integrados. “Leiria tem uma das maiores comunidades de paquistaneses em Portugal”, exemplifica o presidente da Amigrante.
A prestar apoio aos imigrantes, principalmente ao nível do trabalho burocrático de legalização, com maior incidência nos concelhos de Leiria, Pombal, Ourém, Alcobaça, Porto de Mós e Marinha Grande – porque há autarquias que já têm gabinetes que cumprem esta função – a Amigrante percebe que, de forma geral, a região aceita bem quem vem de outras origens. E são variadíssimas essas origens.
Os brasileiros, que são já a maior comunidade de estrangeiros residentes no distrito de Leiria, têm chegado desde que se intensificou a falta de emprego e de segurança no seu país. Chegam em grande quantidade mas também vão embora de forma sazonal, à medida que sentem que a qualidade de vida está a melhorar no Brasil, constata João Carreira.
Visão diferente tem a comunidade ucraniana. Começaram por chegar os homens, depois as mulheres, tiveram cá filhos, e agora estão a receber outros familiares, na perspectiva de viver em Portugal a longo prazo. São uma comunidade perfeitamente integrada, observa o presidente da Amigrante.
Nos últimos cinco anos, o número de estrangeiros residentes vindos do Reino Unido aumentou 46%. Com 1625 pessoas, esta é já a terceira maior comunidade no distrito de Leiria. João Carreira explica que muitas destas pessoas já chegam aposentadas e procuram ora a beleza das nossas praias ora a tranquilidade do interior do distrito.
Com 1186 elementos, o quarto maior grupo de estrangeiros residentes no distrito são os romenos, que nem sempre têm conseguido uma boa integração, em especial os de etnia cigana.
Quanto aos chineses, que são o quinto maior grupo de estrangeiros residentes no distrito de Leiria, chegam para trabalhar, para investir e para estudar. Entre 2014 e 2018, a comunidade no distrito aumentou de 781 para 1079 pessoas, uma subida de 27%.
Muito expressivo foi também o aumento de estrangeiros residentes vindos da Índia. Em 2018 eram já 416, mais 48% do que em 2014. Muitos deles estão a habitar e a trabalhar em fábricas da Marinha Grande. Mas neste caso, explica João Carreira, Portugal é apenas um pouso transitório, já que o objectivo da maioria destes cidadãos é conseguir residir no Reino Unido. Antiga colónia inglesa, a Índia tem com o Reino Unido muito mais afinidade na língua e na cultura, salienta o presidente da Amigrante.
Do Punjab para a Marinha Grande
Entre os imigrantes indianos que escolheram a região de Leiria para viver está Sukhvir Singh, de 29 anos. Natural do Norte da Índia, do Punjab, onde trabalhava como barbeiro, Sukhvir ouviu alguns amigos a falar sobre a forte empregabilidade da Marinha Grande, onde muitos compatriotas tinham encontrado trabalho em unidades fabris.
Também ele decidiu fazer as malas e chegou à Marinha Grande, com a esposa, há cerca de dois anos e meio. Nesta cidade abriu a sua própria barbearia, onde deu emprego a outros [LER_MAIS] indianos, e o negócio está a correr lindamente. Indianos, paquistaneses, nepaleses, brasileiros, chineses, ucranianos e também portugueses compõem a sua lista de clientes.
A vida pessoal atravessa também um período feliz, com a chegada de uma filha. Enquanto Sukhvir se dedica ao ofício que gosta, a esposa fica em casa a cuidar da menina de dois anos. Ao contrário de muitos indianos, o barbeiro já não pretende sair da Marinha Grande, uma cidade que diz ser “calma” e ter “boas pessoas”.
Foi também por intermédio de amigos que Pankaj Basra optou por se mudar do Punjab para a Marinha Grande. Tem 27 anos e nos últimos dois juntou-se a Sukhvir no negócio da barba e cabelo. Também ele era barbeiro na Índia. Ao contrário do colega, Pankaj Basra chegou sozinho e ainda não decidiu se quer manter-se por cá ou rumar ao Reino Unido.
À espera da sua vez, sentado no sofá da barbearia, Simean Singh, de 24 anos, acabou de chegar do Punjab. Depois de um mês a viver na Marinha Grande ainda não fala Português. Traduzido pelos compatriotas, faz saber que não se dedicou a nenhum ofício em particular na Índia depois de ter completado o liceu.
Sem habilitações superiores e sem dominar Inglês, tem a expectativa de encontrar trabalho numa fábrica na Marinha Grande, onde actualmente partilha apartamento com outros indianos. De Leiria rumo a Cabo Verde Roberta Monteiro, de 25 anos, chegou à cidade de Leiria há cerca de cinco anos. Chegou para estudar Engenharia Civil, no Politécnico de Leiria, já terminou o curso, e enquanto procurar uma empresa onde possa fazer estágio, trabalha ao balcão numa sapataria do LeiriaShopping.
Roberta chegou primeiro a Lei- ria, onde já tinha alguns amigos, e anos mais tarde chegou um irmão, para estudar em Lisboa. Também ele já terminou o curso e está agora a viver com ela em Leiria.
A ambição de Roberta não é ficar em Portugal definitivamente. “O meu objectivo é fazer cá um estágio profissional na minha área, para ter bagagem e uma perspectiva de um mercado de trabalho diferente, e voltar depois ao meu país”, explica a jovem cabo-verdiana. “Mas gosto muito de Leiria. Foi uma cidade que me acolheu bem.
E o Politécnico de Leiria ajudou bastante, esteve sempre disponível. Organiza bastantes galas e outros eventos com estudantes africanos, o que nos aproxima muito”, salienta Roberta, lembrando como estas iniciativas são importantes para quem vem de fora e assim encontra a sua comunidade.