Um estudo prospectivo inédito liderado por David Ângelo, médico-cirurgião natural de Porto de Mós, concluiu que o recurso a técnicas cirúrgicas minimamente invasivas da articulação temporomandibular (ATM) em idade pediátrica melhora a qualidade de vida dos doentes.
O trabalho desenvolvido no Instituto Português da Face foi apresentado, no início do mês, no congresso anual da Sociedade Americana de Cirurgiões da Articulação Temporomandibular, onde alguns especialistas mostraram interesse em aplicar os métodos de David Ângelo.
O estudo contribuiu para a mudança de paradigma da forma como os especialistas abordam a disfunção da ATM (auxilia o movimento de abrir e fechar a boca) nas crianças, passando a intervir numa fase mais precoce e não só depois dos 18 anos.
“Ao longo do tempo fui sendo confrontado com casos de crianças, a partir dos 5 anos, mas mais comum entre 10 e 16 anos, que apresentavam problemas da articulação temporomandibular”, conta ao JORNAL DE LEIRIA.
O tratamento de David Ângelo cumpria as guidelines europeias e americanas, que passava por fazer medicação e tratamentos conservadores, pelo menos até aos 18 anos. “Internamente sentia-me frustrado por não fazer mais nada, porque eram crianças que, às vezes, tomavam anti-depressivos e analgésicos todos os dias, com consequências severas e sem grandes resultados”, constata.
Foi após o caso de um jovem de 13 anos, que o cirurgião decidiu avançar com a sua equipa para um estudo e avaliar o impacto de técnicas como a artrocentese (lavagem da articulação, com lubrificação) e a artroscopia (repor o menisco articular na posição anatómica), nessas crianças.
“Faz com que o movimento seja restabelecido, sem dor, sem limitações funcionais e sem manter este processo degenerativo da articulação temporomandibular”, explica David Ângelo.
Durante três anos foram tratados 26 doentes com disfunção ATM, que tinham dor e/ou limitação da abertura máxima oral ou alterações para a função mastigatória. “Não só fomos extremamente eficazes na resolução dos sintomas, até mais do que na população adulta, como não observámos nenhuma complicação associada a este tipo de técnicas em crianças”, revela.