Esta era fácil, mais fácil do que conjugar com o número zero. Havia muita malta que se estendia ao comprido com o zero vezes um, que respondia um. Eu não. Eu tinha aquela "douta" e "extraordinária" capacidade de perceber que era zero.
Depois, claro, de também eu ter errado antes de alguém me ter ensinado através de um conjunto de rebuçados que foi comendo à minha frente. Aprendi à custa de muita saliva na boca, isso é que foi!
Quando, por fim, feito parvo, deixei escapar o último rebuçado que servia de exemplo prático à minha lenta compreensão, percebi, finalmente, que qualquer número multiplicado por zero seria sempre zero.
A internet e os telemóveis com máquina de calcular ainda eram coisas de um futuro longínquo ou ficcionado. "Queixo-me" de "barriga cheia", logo eu que ainda nem sequer cheguei aos cinquenta (cruzes canhoto!). Imagino como terão sido os tempos de criança dos meus pais. Ou dos meus idos avós! Enfim, que exercício infantil estou eu para aqui devotar-me. E que bem me está a saber escrever com tamanha futilidade…
[LER_MAIS] Voltemos, pois, à tabuada. A tabuada do dois, do três, do quatro e do cinco também eram relativamente fáceis. Principalmente a do dois e a do cinco. A do seis já era um bocadinho complicada, mas a do sete e a do oito é que eram mesmo tramadas! Mas tramadas mesmo! Não havia exemplo que me safasse e me fizesse compreender a simplicidade da complexidade matemática. Nem com rebuçados!
"Tadinho" de mim (juro que não tenho o síndrome de Calimero!), pobre criança, a sofrer o bullying de ter que aprender como os homens. Uma injustiça! (Oops, se calhar sofro mesmo do síndrome de Calimero…). Mas não tenham pena de mim, por favor! Imploro-vos! Vá lá, agora a sério, deixem-se disso. Não fui assim tão infeliz e também não era assim tão limitado.
Quando chegava à tabuada dos nove, aquilo é que era brilhar, de viva voz, ao mais alto nível: "três vezes nove, vinte e sete, viva a nossa camionete!"; "nove vezes nove, oitenta e um, sete macacos e tu és um!" Sabem uma coisa?
Tenho saudades dos tempos de miúdo. Agora toda a gente leva a vida demasiado a sério. Que seca! Em pequeno, quando me perguntavam o que queria ser quando fosse grande respondia sempre: "eu não quero ser grande!". Eu tinha razão.
*Presidente da Fade In