Partes de crânios e ossos longos pertencentes a diferentes humanos, adultos e crianças, também ossos de diversas espécies animais. Todos eles foram encontrados na semana passada, no Algar da Malhada de Dentro (concelho de Ourém) e ali terão sido depositados em possíveis rituais fúnebres, entre 5.000 e 500 a.C, apontam os investigadores como cronologia provável.
Estes são os primeiros resultados da expedição, que decorreu nos dias 12, 13 e 14 de Julho neste ponto da Serra de Aire e Candeeiros, e que levou um grupo de arqueólogos a explorar e a viver naquele algar, durante três dias, a 100 metros de profundidade. Segundo a investigadora [LER_MAIS]principal, Alexandra Figueiredo, professora do Instituto Politécnico de Tomar, apesar de muito “exigente” em termos de logística, capacidades físicas e psicológicas, para os elementos envolvidos, esta expedição foi “um sucesso”, tendo cumprido todos os objectivos a que se tinha proposto.
Êxito para o qual foi essencial o acompanhamento assegurado pelo grupo de espeleologia CEAE da Liga para a Protecção da Natureza, realça a docente.
A descida demorou cerca de três horas e meia e todo o tempo no interior do algar foi aproveitado ao máximo, com alguns dos elementos a abdicar de dormir para tornar a expedição o mais proveitosa possível, salienta a investigadora.
Daniel Alves, especialista da área da antropologia, que acompanhou o grupo, explica que no local foram encontrados ossos de vários humanos e animais. Da área da zooarqueologia, Anderson Tognoli, explica que, além de ossos de animais mais comuns, como de coelho, lebre, ovelha e cabra, foi encontrada uma segunda haste de veado, animal que não é muito registado. Uma primeira tinha já sido recolhida aquando das prospecções realizadas pela equipa no ano passado.
Contudo, nenhum artefacto foi encontrado, acrescenta Alexandra Figueiredo.
Em relação ao local, a investigadora conta que se trata de uma remobilização. Ou seja, o lugar não se encontra na sua primeira posição. Terá havido uma deslocação de sedimentos provocada provavelmente pelo abatimento de galerias superiores ou por fluxo hídrico, que terá empurrado terras e vestígios arqueológicos da sala original até à zona actual em que foram encontrados.
Quanto aos ossos exumados, foram devidamente acondicionados e transportados em recipientes de esferovite, para manter a humidade e a integridade dos elementos, e encaminhados para os laboratórios do projecto MEDICE II – Memórias, Dinâmicas e Cenários da Pré-História à Época Clássica.
Trabalho conjunto
Este projecto, que procura estudar cultos e rituais realizados em grutas e monumentos megalíticos, é coordenado pelo Politécnico de Tomar, pela associação CAA Portugal e pela Universidade Autónoma de Lisboa. E dele fazem parte sete instituições de ensino superior e cinco centros de investigação, acrescenta Cláudio Monteiro, um dos coordenadores.
A apresentação preliminar destes resultados será realizada durante o Seminário Internacional, no próximo sábado, dia 20, pelas 15 horas, na Junta de Freguesia de Alburitel, apoiada pela Câmara de Ourém.