No último ano, mais de metade dos utentes (52%) do distrito enfrentaram algum tipo de indisponibilidade de medicamentos. Destes, 20% foram obrigados a recorrer a uma nova consulta para obter o fármaco disponível e 5,5% tiveram mesmo de parar o tratamento.
Os dados são revelados por um inquérito, realizado pelo Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR), segundo o qual, as regiões “mais desertificadas e economicamente mais desfavorecidas do interior do País” são as que declararam maiores dificuldades no acesso à medicação prescrita.
O estudo Impacto da indisponibilidade do medicamento – Análise regional e por tipologia, divulgado pela Associação Nacional de Farmácias (ANF), revela que a falta de medicamentos afectou 52,2% dos portugueses (Leiria está dentro da média nacional), sendo que nos distritos de Beja e da Guarda a percentagem chega quase aos 70%.
“A indisponibilidade de medicamentos levou ainda 1,4 milhões (21,50%) de utentes a recorrer a consulta médica para alterar a prescrição”, realça a ANF em nota de imprensa, sublinhando que o recurso a essas essas consultas “causou elevados custos, quer para o sistema de saúde (35,3 a 43,8 milhões de euros) quer para o utente (2,1 a 4,4 milhões de euros)”.
“O problema da falta de alguns medicamentos é preocupante para os médicos, sobretudo quando se trata de princípios activos únicos e sem possibilidade de substituição. Os constrangimentos para os doentes são graves, tendo que recorrer-se ao tratamento com medicação de uso hospitalar, com as consequências nefastas [LER_MAIS] que a utilização de um serviço de urgência comporta”, afirma Rui Passadouro, médico em Leiria.
Para Carlos Cortes, presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, os dados, não só do País mas também do distrito de Leiria, são “impressionantes” e “assustadores” e vêm “mostrar que a indisponibilidade de medicamentos não é só uma sensação dos médicos, e traduzindo uma realidade que os utentes enfrentam no seu dia-a-dia”.
“É uma situação muito preocupante e com impacto grande sobre a saúde das pessoas, que não têm acesso atempado ao medicamento de que precisam e que se vêem forçadas a passar novamente pelo processo de marcação de consulta, que, por vezes, é difícil”, afirma o dirigente da Ordem dos Médicos, que destaca ainda os “impactos económicos”, quer para o sistema de saúde quer para os utentes, que têm de suportar “custos acrescidos com deslocações e taxas moderadoras”.