Há um sem número de situações nas quais a Guarda Nacional Republicana (GNR) diz presente e que vão muito além da fiscalização de trânsito ou da prevenção, combate e investigação de crimes.
A prevenção de incêndios, o apoio a idosos em situação de isolamento social, a presença dissuasora nas imediações de escolas ou protecção do ambiente são áreas nas quais a GNR também trabalha.
Na actividade dos militares do Comando Territorial de Leiria, que abrange todo o distrito, há protagonistas habitualmente menos visíveis, como cães e cavalos. O JORNAL DE LEIRIA foi conhecer o trabalho desta força, que tem apostado num serviço de proximidade junto da comunidade e que procura fazer a diferença.
Encontrar pessoas, droga ou dinheiro é uma das missões das equipas cinotécnicas do Comando Territorial de Leiria, sediadas no Destacamento de Pombal. Quando os cães saem na patrulha acompanhados do ‘seu’ militar – a quem obedecem – sabem ao que vão, de acordo com o equipamento que vestem.
Neste comando, os seis cães estão especializados em três níveis de intervenção. Quando alguém se perde ou está evadido, o binómio cão/militar vai para o terreno para actuar na busca de pessoas em grandes áreas. Habitualmente seguem de açaime para evitar mordidas inesperadas. “Imagine-se alguém perdido. Ao ver um cão à frente assusta-se e, com medo, tende a afastá-lo. O animal vai sentir-se ameaçado e pode morder, pois está treinado para reagir”, explicam os militares de Pombal.
Encontrar dinheiro escondido ou droga em habitações ou veículos faz parte da missão dos canídeos. Um deles detectou cerca de 1.500 euros dentro de uma lata de batatas fritas, exemplificam. “A detecção de droga e papel moeda é principalmente vocacionada para as operações especiais de prevenção criminal e operações policiais ligadas à prática de estupefacientes ou utilização de armas de fogo”, afirmam. Os cães procuram o odor a pólvora para encontrar armas.
Além de técnica e perícia, o treino exige muita paciência. É preciso garantir que os cães obedecem cegamente à voz de comando dos militares, sobretudo, quando a ordem é largar. Durante uma acção, o objectivo é causar o menor dano possível, “daí a mordida ser o mais controlada possível”. Tal como no uso da arma, que é utilizada como último recurso e o militar não dispara a matar, o cão só morde em situações específicas. Além de buscas de pessoas em viaturas para detectar imigrantes ilegais ou de objectos lançados por suspeitos em fuga, o binómio actua no patrulhamento de áreas de serviço e como reforço em grandes eventos.
Os cães também se aposentam, quando a sua idade ou aparecimento de doenças os impedem de manter uma acção policial de alto nível. Estes animais podem ser adoptados por qualquer cidadão.
A galope para prevenir furtos
A poucos metros do canil da GNR, um rádio passa música na cavalariça onde estão quatro cavalos e éguas de raça russa (dois equídeos morreram recentemente), que pertencem à esquadra do Destacamento de Pombal, constituída por seis militares.
No Verão, o policiamento é dirigido para as zonas balneares, no combate aos furtos em veículos em estacionamento, e na vigilância da floresta contra incêndios. Ao longo do ano é realizado um policiamento de proximidade junto das populações, sobretudo, dos territórios de baixa densidade populacional. A presença desta força baixou consideravelmente os furtos. Também nas zonas florestais onde ocorre o patrulhamento, a incidência dos fogos é reduzida. Estar em cima de um cavalo permite ao militar ter uma amplitude visual muito maior e a presença a cavalo impõe maior respeito. O patrulhamento desta esquadra “funciona muito como dissuasão e prevenção”, constata o comandante do Destacamento de Pombal, Diogo Mendes. “A população mais envelhecida gosta da nossa presença. Como temos um patrulhamento mais lento, as pessoas vêem-nos e metem conversa. É um verdadeiro policiamento de proximidade”, acrescenta.
Cumprem cerca de 20 quilómetros, em cada giro. Em 2024, realizaram, cerca de 270 patrulhas.
Instalações sem condições
Há muito que as condições no Comando Territorial da GNR de Leiria deixaram de ser as ideais para as funções cada vez mais exigentes e o acréscimo do número de valências a que a GNR tem vindo a dar sequência. Há vários anos que se fala na mudança para um novo espaço, mas os mais de 200 militares continuam a trabalhar num edifício, sem capacidade de ampliação.
Nos pequenos edifícios do comando estão, entre outras, as valências do Núcleo de Investigação e Apoio a Vítimas Específicas (NIAVE), o Núcleo de Investigação Criminal de Acidentes de Viação (NICAVE), Secção de Policiamento de Proximidade da GNR, que dá apoio aos idosos, crianças e pessoas com deficiência, o Destacamento de Trânsito, sala de situação, atendimento ao público e diverso expediente.
Com responsabilidade nos concelhos da Batalha, Leiria, Marinha Grande e Porto de Mós, a Secção de Policiamento de Proximidade do Destacamento de Leiria assenta nos programas Escola Segura, Idosos em Segurança, Comércio Seguro e apoio a pessoas com deficiência.
“Somos o lado mais humano das forças policiais”, assume um dos militares, ao explicar que a sua actuação trabalha em parceria com outras forças policiais, secções e núcleos. Além de incidir na prevenção, a proximidade aumenta a confiança dos cidadãos, que acabam por revelar informação que pode ser bastante relevante no combate ao crime. Nas escolas, por exemplo, é mais fácil a denúncia de vítimas de abuso sexual ou de violência doméstica.
Os maus da fita
Os militares do trânsito são olhados pela população como os maus da fita. São eles que multam quem infringe as regras. A fiscalização rodoviária nas principais vias nacionais é uma constante, com o objectivo de garantir a segurança dos automobilistas. “As pessoas gostam pouco, mas a intervenção dos militares é provocada pelo seu comportamento”, aponta o comandante do Destacamento de Trânsito de Leiria, Ricardo Vieira.
Os radares não são fixos, mas a Guarda só opera aparelhos de forma estacionária, sempre em locais onde há maior registo de acidentes ou de infracções.
O Serviço da Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) é uma das valências mais conhecidas, sobretudo, na fiscalização da contaminação das linhas de água, actividades extractivas, fito-fármacos e na defesa da floresta contra incêndios. São este militares que validam e investigam os fogos, antes de o processo passar para a Polícia Judiciária.
Além da recolha de animais selvagens e espécies protegidas, durante o Verão, o SEPNA recolhe, de 15 em 15 dias, amostras das águas de praias balneares e fluviais para análise da Agência Portuguesa do Ambiente.
Espaço é pequeno para trabalho do CSI
Num espaço exíguo do Comando Territorial da GNR de Leiria, os militares desenvolvem o trabalho de investigação e procuram dar resposta aos crimes, ignorando a falta de condições de trabalho. Não obstante, o Núcleo de Investigação Criminal (NIC) de Leiria, o CSI da GNR, tem alcançado bons resultados, como comprovam as 37 prisões preventivas, determinadas com base na solidez das provas obtidas.
A equipa da GNR faz a recolha e transporte da droga apreendida para o laboratório de polícia científica, garantindo o seu acondicionamento. Sempre que há um crime, a equipa desloca-se ao local.
“A parte criminalística é composta pelo núcleo de apoio técnico, que faz a recolha de vestígios, e o núcleo digital forense, que faz a análise digital”, explica Daniel Matos. O responsável do NIC de Leiria acrescenta que são os militares desta secção que examinam os locais dos crimes e recolhem os vestígios lofoscopios deixados pelos suspeitos.
Através de programas tecnológicos é possível fazer a comparação das impressões digitais e identificar o possível autor do crime, que, caso tenha cadastro, está inserido na base de dados nacional e internacional. Para terem valor jurídico, têm de ser garantidos 12 pontos de correspondência.
Os vestígios deixados no local do crime seguem para as diferentes valências da Polícia Científica. Para tal, é preciso assegurar a não contaminação do espaço.
A máquina fotográfica, utilizada por um militar com formação e acreditação para tal, é um instrumento de trabalho utilizado para registar e apoiar o trabalho da investigação.
Numa sala praticamente da mesma dimensão estão os militares responsáveis por toda a análise da informação agregada nos vários sistemas de informação nacionais e europeus. Todas as amostras forenses são também introduzidas nessa mesma base de dados para colaborar com futuras investigações ou até para preparar operações, como sucede no 13 de Maio.
Os números
863
37
Volta a Portugal e Frontex