Patrício Gaspar era um adolescente quando, no final de 1997, abriu o Sol Leiria, onde os pais investiram numa loja, a Clínica de Beleza Donsilia. Lembra-se que o espaço foi anunciado como um centro comercial “moderno”, ao nível do “melhor” que havia no País.
“Chegou a ser apresentado pelos promotores como o ‘Cascais Shopping de Leiria, para realçar a sua modernidade ”, recorda o barbeiro, que, há dois anos, deixou o espaço que ocupava na loja de família e mudou-se para o Largo de Infantaria 7. Não por ter desistido de acreditar numa solução para o empreendimento, fechado há cerca de 25 anos, mas por uma questão de estratégia.
“O meu negócio vive muito da proximidade com clientes. No Sol Leiria, é preciso ir de propósito”, justifica Patrício Gaspar. Já a clínica dos pais mantém-se, sobretudo, por serem “instalações próprias”, mas também devido à fidelização de clientes, e é uma das duas únicas lojas a funcionar no edifício. A outra é um gabinete de designer de interiores, que abriu há poucos meses. Há mais duas lojas, também viradas para a rua, que está à venda e que, ao que o JORNAL DE LEIRIA apurou, pertence ao Grupo Nov, que detém uma “boa parte” das fracções.
É, aliás, nessa qualidade que, segundo Joaquim Paulo Conceição, administrador do grupo empresarial, está a ser “preparada” uma assembleia de condóminos, que deverá ser convocada durante o mês de Novembro, para “ver o que se pode fazer”.
“Agarrados à lei”
“Não vamos desistir de tentar encontrar uma solução. Tal como está, não serve quem ali investiu, nem a cidade. É um espaço nobre, numa zona que tem vindo a ser requalificada”, nota Joaquim Paulo Conceição, reconhecendo, no entanto, que a legislação representa “uma dificuldade”, já que a alteração de actividade exige que “100% dos condóminos estejam de acordo”. “Estamos agarrados à lei”, reforça.
Ora, é precisamente este ponto que pode travar uma eventual solução, já que “há mais de 100 fracções, algumas pertencentes a massas falidas de empresas que já não existem, outras a herdeiros de quem investiu e até casos em que não se sabe quem é o proprietário”, adverte Patrício Gaspar, que, apesar das dificuldades, diz continuar a acreditar “numa solução” e no potencial do empreendimento. “É um património que não devia estar devoluto, num tempo em que falta habitação e espaço para associações”, afirma.
Ao longo dos 25 anos em que o Sol Leiria tem estado fechado, as poucas tentativas para o viabilizar esbarraram, precisamente, na “falta de consenso” entre os proprietários dos mais de 100 espaços comerciais. Chegou a ser elaborado um estudo de viabilidade económica, que apontava a necessidade de alterar o interior do edifício, com o melhoramento das lojas, a criação de salas de conferência e de uma área restauração.
Em cima da mesa esteve também a constituição de uma Sociedade Anónima, liderada pela Lena Engenharia e Construções (agora Grupo Nov), que faria as obras necessárias à reabertura do centro comercial e assumiria a sua gestão. Mas a crise económica e a falta de acordo entre os lojistas inviabilizou a concretização do projecto.
Câmara tem fracção
Entre os proprietários está a própria Câmara de Leiria, que detém uma fracção no local. Gonçalo Lopes, presidente do município, acredita que, o actual contexto, com “tendência de crescimento económico e dos mercados de escritórios e de habitação, prevê-se que Leiria continue a ser uma das cidades mais procuradas”, para viver e trabalhar. Pelo que, fará sentido “aproveitar um edifício muito bem localizado”, adaptando-o a novas funcionalidades.
“Não pode ser transformado em hotel [já existe um no local, o Eurosol Residence] e dificilmente poderá manter-se como centro comercial, excepto as lojas viradas para a rua. Mas pode servir outras realidades, para escritórios e até alguma habitação”, avança o autarca.
Gonçalo Lopes garante que a câmara “está disponível” para colaborar com os proprietários na definição de uma solução, mas defende a necessidade de um “entendimento conjunto para que seja um investimento estratégico e, dessa forma, se aumente a probabilidade de sucesso”. “Terá de ser uma estratégia global, sob pena de o resultado ser uma manta de retalhos.”
Enquanto não há solução à vista os proprietários vão acumulando prejuízos. Não conseguem rentabilizar o investimento que fizeram, estão sem acesso aos espaços que compraram e continuam a pagar IMI.