A vida de João Rodrigues não foi fácil. Natural de Ansião, é um de seis irmãos e reside numa casa onde as condições são precárias.
Sem uma remuneração e vida profissional estável, este homem lamenta o facto de nunca ter conseguido melhorar as condições da sua habitação.
Faltava electricidade, paredes e caixilharia que impedissem a entrada do frio e do calor, ou um telhado em condições.
Aos 39 anos, João Rodrigues vivia num local sem o mínimo de condições de salubridade, situação há muito identificada pelo Município de Ansião.
“Já me tinham pedido para não desistir”, lembra, de sorriso no rosto ao olhar directamente para os sete voluntários que estão a reconstruir esta casa, em Fonte Galega.
A parceria entre a instituição Just a Change e o Município de Ansião identificou quatro dos casos mais críticos deste concelho, onde a habitação carecia de obras profundas e os proprietários não tinham meios para as realizar.
João Rodrigues está a ver a sua vida a mudar em 15 dias, o tempo estipulado para a requalificação total do espaço.
O projecto inclui a construção de uma fossa, alteração total do telhado, instalação de pladur nas paredes e de electricidade, além da troca de janelas e portas e melhoria da fachada.
Atento a tudo, o senhor João também é uma mais-valia nesta obra e ajuda o que pode – não tivesse sido a sua vida dedicada à construção civil.
“É bom e gratificante. Já lhes disse, identifico-me muito com eles. Não aprendi assim, mas gostava de ter aprendido, com pessoas que não me falassem mal. Eles são um bocado de mim. Parece que foram escolhidos a dedo, é tudo muito boa gente”.
João acredita que este será um novo recomeço na sua vida. “Também me estão a reconstruir a auto-estima, a integridade e a dignidade”, diz, emocionado.
João Cordeiro é um dos voluntários que está até ao final desta semana em Ansião. Natural das Cortes (Leiria), é a segunda vez que participa no Camp In de Verão da Just a Change.
“É compensador, vale a pena. Aprende-se muito, cansamo-nos, mas aprendemos como trabalhar em equipa e a organizar o tempo”, refere.
Com 20 anos, este estudante universitário quis dedicar o seu tempo livre a ajudar alguém e não hesita a recomendar a mesma actividade a outros. “É uma coisa que faz bem a nós, aos outros e a todos os envolvidos”.
Na obra, os voluntários trabalham sob as orientações de Samuel Amado, o mestre da obra, guiado pelo espírito de missão, com gosto em ensinar aos jovens noções básicas de construção civil.
“Eles saem daqui com outra maneira de ver a vida. Muitos dos voluntários são estudantes universitários, têm mais oportunidades na vida e os pais dão-lhes boas condições. Chegam aqui e levam com o impacto da realidade, de pessoas que vivem em situações precárias”, detalha.
O especialista enaltece a força de vontade dos voluntários que, durante o ano, fazem a diferença na vida dos outros. “Isto faz com que eles se sintam úteis na sociedade. Muita gente diz que os jovens não gostam de fazer nada, mas aqui eles estão a mostrar que fazem”, defende o encarregado.
No fim, “tudo compensa”
A coordenar esta obra está Rita Reboredo, uma jovem também repetente nestas andanças. Está longe de casa – é natural de Vila Real – mas a vontade de ajudar os outros fala mais alto.
“Sinto que estamos a dar uma nova vida, neste caso, ao senhor João. Por isso, por mais trabalho que tenhamos e por mais cansados que fiquemos, no final, tudo compensa”.
A vereadora com o pelouro da Solidariedade e Desenvolvimento Social, Cristina Bernardino, acompanha de perto o processo, uma vez que conhece o caso do senhor João.
“Quando tivemos conhecimento da existência da associação, achámos que era uma solução ideal para algumas situações que temos e que são tão urgentes para se trabalharem que não podemos estar à espera de soluções burocráticas.”
Quanto ao caso do senhor João, reconhece que “vivia em situações desumanas”.
“Sabemos que há pessoas que, por muito que trabalhem, que se esforcem, nunca irão conseguir ter condições económicas para melhorar. É uma obrigação do município e da comunidade envolver-se e procurar melhorar as condições de habitação”, reconhece.
Perante estes casos mais críticos, a vereadora admite criar um regulamento, “no âmbito das competências da própria câmara”, para realizar “pequenas remodelações” em habitações precárias.
Meio milhar de casas reabilitadas
A Just a Change é a ‘máquina’ que faz olear todo o processo de requalificação das casas.
Asseguram os voluntários, o financiamento e colocam mãos-à-obra em todo o País, tendo requalificado mais de 500 habitações desde 2010.
Este Verão, além de Ansião, os voluntários também estarão a requalificar habitações em Alvaiázere e Óbidos, entre Agosto e Setembro.