Na última década do milénio passado, enquanto ciclista, Fernando Mota uma boa dezena de Voltas a Portugal e cinco Vueltas a Espanha.
No currículo conta com títulos de campeão nacional de elite e de sub-23, mas não tem dúvidas em afirmar que os momentos “mais prazerosos” que a modalidade lhe deu aconteceram precisamente quando fez a Grandíssima, mas de mota, levando atrás de si os cameramen a captar imagens para a RTP.
Para este desportista de Pombal, de 55 anos, esta oportunidade permitiu-lhe associar duas paixões.
“Por um lado, tenho mota desde os 18 anos. Por outro, o ciclismo, que se entranha e fica para sempre. Ali, era estar no olho do furacão. Era o mesmo que estarmos sentados numa poltrona no meio do relvado a ver um jogo de futebol. Muitas vezes, dava por mim a pensar ‘não faças isso’ ou ‘ataca agora’. Vivemos tudo de forma mais intensa.”
Claro que são “momentos intensos”.
Das domingueiras à Vuelta a Espanha
Tudo começou nas chamadas domingueiras, provas que ocorriam em aldeias da região de Leiria, como Amor ou A-do-Barbas. Fernando tinha os seus 18 anos e apenas dava umas voltas com os amigos, “sem qualquer plano de treino”, mas quando começou a participar percebeu que havia um lugar para ele no ciclismo Foi convidado por uma equipa de sub-23 e logo foi campeão nacional. Já na elite começou no Lousa, passou pela Sicasal, pelo Boavista e pelo LA Pecol, antes de terminar no “projecto falhado” do Benfica. A carreira foi praticamente toda feita no estrangeiro e só vinha a Portugal integrado nas equipas que lutavam pela vitória na Grandíssima. Contribui, inclusive, para três triunfos, por Joaquim Gomes e Cássio Freitas. “O ciclismo é feito de escolhas e eu fiz uma conciente. O que gostava era de correr no estrangeiro e isso só estava disponível para duas equipas, mas implicava que o meu papel na Volta estava condicionado. O que fazia, fazia com gosto, consciente de que era o que tinha de fazer. Sempre foi gratificante ajudar um colega meu.”
“As descidas são complicadas e até tenho uma história. Para conseguirmos estabilizar a moto a subir, àquelas velocidades tão baixas, temos de acelerar e travar ao mesmo tempo. É um equilíbrio difícil e depois de fazer meia hora de acelerador e travão, cheguei ao fim da subida e a bomba de travão foi-se. Tive de fazer toda a descida sem travão de trás.”
[LER_MAIS]Aquelas “injecções de adrenalina a descer” de bicicleta “só têm paralelo nas motas”, admite. “Tem mesmo de haver aquela competição entre nós e as bicicletas. Nunca podemos ser ultrapassados. Temos de ter essa margem para segurança dos ciclistas. E para isso temos mesmo de acelerar, porque nas descidas sinuosas as bicicletas têm vantagem.”
Esses tempos acabaram porque não conseguia conciliar com o facto de ser treinador, mas Fernando Mota, que na modalidade também foi “jornalista, organizador de ventos, treinador, director e até massagista”, fez mais tarde a Volta a Portugal de uma outra forma.
Nos últimos anos, foi convidado para ser uma espécie de motorista e relações públicas num dos veículos dos patrocinadores do evento.
De quatro rodas é “muito mais tranquilo”, admite, lamentando não poder estar na prova que começou esta quarta-feira por motivos profissionais.
“É mais uma tarefa de sociabilização, de cativar as pessoas. Damos um cheirinho de adrenalina, explicamos a essência do ciclismo e ficam com uma ideia completamente diferente. Gosto de fazer, porque transmito o meu amor a pessoas que ainda não têm essa paixão.”