A popularização do uso de dispositivos digitais como o telemóvel, no quotidiano, coloca desafios ao ambiente da sala de aula.
Deve-se bani-los, ou permitir e promover o seu uso racional?
A directora do Instituto D. João V, do Louriçal (Pombal), entende que as novas tecnologias são uma mais-valia numa sala de aula.
Mas, como acontece com quase tudo na vida, sempre com o peso e medida correctos.
Mónica Gama diz que a integração destas novidades tem de ser feita à medida que se trilham novos percursos pedagógicos, sempre caminhando e nunca correndo.
“Deve haver uma estratégia e do professor, que deve ter formação adequada, para não se sentir inseguro na sala de aula, até porque os alunos já estão muito despertos para a realidade do mundo virtual e da Inteligência Artificial e não podemos deixá-los nesse mundo à parte.”
No estabelecimento de ensino do Louriçal, as ferramentas digitais são utilizadas predominantemente para pesquisa, para busca de novas técnicas de trabalho ou apresentações de tarefas ou matérias.
“São um bom auxílio”, diz Mónica Gama. Mas há regras. Os telemóveis, no Instituto D. João V, tal como em muitos outros estabelecimentos de ensino, são colocados numa caixa no início das aulas e só retirados quando há tarefas nas quais eles são necessários ou quando as aulas terminam.
“No 5.º ano, usamos muito a ferramenta kahoot”, diz a professora.
E, claro, uma das ferramentas mais usadas é o tradutor, quando há alunos que não dominam ainda português.
No entanto, não há permissão para usar outra aplicação ou aceder a conteúdos, que poderiam ser indevidamente usados em testes de avaliação.
José Artur Pinto, professor de Matemática e Ciências da Natureza, do 2.º Ciclo, no Colégio de Nossa Senhora de Fátima, em Leiria, vê algumas vantagens no uso de aplicações e telemóveis na sala de aula.
“Nas aulas de Matemática não uso, mas em Ciências da Natureza, há aplicações muito úteis que utilizamos para identificar plantas, como a Pl@nt.net. E ainda, como sou muito duro de ouvido, também uso o BirdNET, para identificar aves, através do canto”, conta. Estas ferramentas são uma importante ajuda quando faz saídas de campo com alunos do 5.º ano.
Pau de dois bicos
Os jovens, acredita José Artur Pinto, encaram os desafios que lhes são colocados, de uma forma pedagógica e como um desafio.
“O conhecimento está ali, ao alcance de um clique. O ‘professor Google’ pode ser muito útil, até porque os telemóveis e internet não servem apenas para brincar, jogar ou para as redes sociais”, afirma.
Ainda assim, ressalva que a tecnologia pode ser um “pau de dois bicos”.
“São ferramentas fantásticas, mas também podem ajudar a produzir miúdos completamente alheados.”
José Artur diz que o equilíbrio entre o virtual e o real será dificíl, se não se tomarem medida práticas e pedagógicas.
“Tenho miúdos, no clube de observação de aves, que não conseguem ver um pássaro ao longe. Só conseguem ao perto, por estarem tão habituados ao ecrã do telemóvel.”
Afirma ainda que o pensamento, se não houver cuidado, poderá ficar simplificado, num cenário maniqueísta, de certo e errado, de branco e preto, tal como o binário informático 0-1.
“Os nossos alunos sabem que, até às 16:30 horas não há telemóveis e brincam e socializam, contudo, assim que podem ir buscar os telemóveis à caixinha, param tudo e ficam a olhar para os ecrãs.”
Por tudo isto, o conselho do professor José Artur é limitar o contacto das crianças com o mundo virtual até ao 2.º Ciclo, para que estas socializem e amadureçam, e, só então, sob supervisão de professores preparados, apresentá-las ao mundo virtual.
“Está agora a introduzir-se manuais digitais em Portugal quando, ao mesmo tempo, as escolas de Silicon Valley, nos EUA, estão a deixar de usar computadores, porque privilegiam a escrita com papel e lápis como forma de ensinar a raciocinar de forma complexa.”