Se Paulo Portas e Miguel Portas se aceitavam para além das suas imensas diferenças políticas, não é menos verdade aquilo que sucede na Marinha Grande, onde várias famílias, próximas pelo grau de parentesco, se dividem por distintas listas partidárias.
Um desses casos é o de Cidália Ferreira, candidata à Câmara pelo PS. Cidália Ferreira é esposa de um primo direito de Aurélio Ferreira, também ele candidato à Câmara pelo Movimento pela Marinha Grande (MpM).
“Conhecemo-nos desde que ele era muito jovem”, recorda a candidata socialista, que não tinha por hábito falar de política com Aurélio Ferreira nas reuniões familiares.
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“A sua candidatura surgiu no mandato anterior e a democracia faz parte da minha maneira de ser”, pelo que “aceitei a sua candidatura como aceitaria a de outro cidadão”, realça Cidália Ferreira.
Volvidos quatro anos de convívio na Câmara e em período de campanha, a vice-presidente da autarquia diz: “Tem havido respeito daminha parte, porque respeito a democracia e a liberdade de expressão, os valores que o 25 de Abril nos trouxe.”
Em vésperas de eleições, Aurélio Ferreira diz que a boa relação familiar se mantém. “Sabemos distinguir amizade familiar e relação política”, observa o candidato. “As questões põem-se sempre com muito respeito” ,explica o líder do MpM.
Num convívio de família “se a conversa da política vier, faz-se. Se não vier à baila,melhor ainda”, conta o candidato, que, nesse contexto, evita situaçõesde confronto.
Mas, se por acaso o tema for abordado, “fazêmo-lo com muita elevação e muito carinho familiar”, frisa o engenheiro.
Também na família Constâncio, pai e filho vestem cores políticas diferentes. Armando Constâncio (na Foto) é o número três na lista para a Câmara, pelo +Concelho. Já o filho, Bruno Constâncio, concorre na lista para a Assembleia Municipal, pelo PS.
“O Bruno sempre esteve no PS, a participar nas listas, e continua. Eu,a nível nacional, sou inquestionavelmente do PS”, sublinha Armando Constâncio. No entanto, “há outros valores do PS a nível local, quese estão a sobrepor aos interesses dos munícipes”, defende o candidato pelo +Concelho.
Além do filho, Armando Constâncio também tem uma sobrinha a concorrer numa lista diferente. É Joana Saraiva, candidata à Assembleia Municipal pelo BE. “Todos nos damos muito bem e em termos políticos não há problema nenhum”,afiança Armando Constâncio.
Os Granja são outro exemplo da sã convivência entre parentes com valores políticos distintos. Enquanto o pai, Artur Granja, é um dos elementos convidados pelo +Concelho para integrar o Conselho Consultivo Municipal, os filhos, João e André Granja, fazem parte das listas do MpM.
João Granja recorda que o seu envolvimento no MpM surgiu quando ainda só existia um manifesto a circular na Marinha Grande, onde várias pessoas desafiavam AurélioFerreira a candidatar-se à Câmara.
O jovem passou desde então a participar em várias reuniões, que chegaram a incluir o seu pai. Mas João Granja manteve-se sempre ligado ao movimento e integra este ano a lista para a Assembleia Municipal pelo MpM.
Quanto ao seu pai, acabou por se distanciar do movimento de Aurélio Ferreira e, mais recentemente,aceitou o desafio lançado pelo +Concelho,de integrar um futuro Conselho Consultivo Municipal, e ser uma espécie de consultor na área da Segurança, se acaso Carlos Logrado, líder do +Concelho, vencer a Câmara, explica João Granja.
“A política não é dos assuntos mais abordados lá em casa”, mas quando se fala sobre ela, o tom é leve. Porém, apesar da brincadeira, não deixa de existir “respeito mútuo”, frisa João Granja, que tem muitos amigos noutras listas, incluindo a madrinha do seu filho, Carla Franco, que lidera a lista do PS à Junta da Marinha Grande.
O convívio “é pacífico” realça também André Granja, que integra a lista do MpM para a Junta da Marinha Grande. “Ninguém vai ficar triste, garantidamente, se o outro ganhar”, sublinha André Granja.