Fariam bem em aprender sobre Milo de Croton, lutador do século VI a.C. em Itália, celebrado durante a sua vida em todo o mundo grego e até na corte Persa, e ainda mencionado um século mais tarde por Heródoto e Demócrito, e noutros séculos por Shakespeare, Rabelais, Alexandre Dumas e Victor Hugo. Milo de Croton é o primeiro atleta desportista a quem se pode esboçar um retrato, pois ele era um símbolo para os seus contemporâneos e, para além disso, quase igualmente comparado a Héracles.
Há pouca informação pessoal sobre Milo. Sabemos que a luta era o seu principal desporto, que a sua carreira começou cedo, foi regular e longa (ele consegue permanecer ao mais alto nível entre os 14 e os 40 anos obtendo seis vitórias olímpicas, o que era raro).
Teve também um papel intelectual em propagar as ideias de Pitágoras, tendo-se casado com uma das suas filhas, um papel religioso quando foi feito sacerdote de Hera, e um papel militar na guerra contra a vizinha cidade de Sybaris.
Obtém assim uma influência política, a que podemos comparar a transição de Arnold Schwarzenegger do culturismo para ator e depois para governador da Califórnia.
Milo foi também creditado com uma série de realizações, destacando-se a sua força excecional: evitando um colapso do telhado em casa de Pitágoras sobre os seus convidados; a morte de um touro com uma só mão e, em seguida, comê-lo durante o resto do dia (o desempenho em consumir alimentos contribui para a sua reputação), ou ainda, pondo em fuga as primeiras fileiras do exército sybarite – até à sua morte, cheio de orgulho, na floresta de Crotona, onde tentou em vão dividir um carvalho com as mãos, acabando por ficar preso e devorado por lobos.
A lenda é evocada em algumas pinturas e de forma magnífica na escultura de Edme Dumont ou ainda de Pierre Juget com a obra Milon de Croton, encomendada para o Palácio de Versalhes, estando o original conservado no museu do Louvre.
[LER_MAIS] Morte lendária? Seja como for, Milo de Croton representa o nascimento do desporto, isto para dizer, uma atividade particular tanto como um estatuto associado, o de atleta.
Pois é, foi no século VI que se criaram as primeiras instalações desportivas, que foi estabelecida a nudez atlética, que se definem as regras de dieta atlética e como fabricar o corpo do atleta.
Este é o século de Milo, o atleta torna-se um modelo social e estético (motivos de atletas surgem para decorar vasos e preencher a estatuária nas cidades, e o vencedor é recompensado com fama, comida e dinheiro).
Mas o que é mais surpreendente, é claro, é que uma crítica do desporto acompanha o seu nascimento. Pitágoras, embora perto de Milo, condena o princípio da concorrência. Xenófanes, seu contemporâneo, já lamenta o reconhecimento desproporcional apreciado pelo atleta – a sua contribuição para a cidade parece-lhe muito menos importante do que a do poeta ou filósofo.
No século II d.C. Elien critica de forma abrangente, argumentando que a força do atleta não é uma força, é artificial confrontada com a força efetiva do trabalhador. Crítica filosófica, social e política: os fundamentos são colocados.
*Coeógrafo
Texto escrito de acordo com a nova ortografia