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Home Entrevista

Filipe Duarte Santos: “Para lutar contra a seca, podemos reciclar a água e dessalinizar”

admin por admin
Fevereiro 23, 2022
em Entrevista
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Filipe Duarte Santos: “Para lutar contra a seca, podemos reciclar a água e dessalinizar”
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Nos últimos tempos, ouve-se muito a expressão “Portugal tem de se habituar às novas estações do ano”. Perdemos mesmo as quatro estações?
As estações continuam. Resultam da inclinação do eixo da Terra, relativamente, à perpendicular ao plano da órbita do nosso planeta em torno do sol. O que está a acontecer é relativo às temperaturas médias. O que se observa no planeta e, em particular, na Península Ibérica e em Portugal, é que a média da temperatura subiu em todas as estações meteorológicas, sejam elas no Pólo Norte ou na Argentina. Além disso, a média da precipitação baixou. Em Portugal continental, em vez de termos anos húmidos, anos normais e anos secos, agora, praticamente não temos anos húmidos, temos apenas os normais e os secos.

E este ano é seco?
Sim, é. Tivemos uma seca grave entre 2004 e 2005. Depois, 2017 também foi um ano mau. Desde 2004 até agora, em oito desses anos, tivemos precipitação baixa. O clima que, no passado era predominante no norte de África, está a saltar para o sul da Europa e, no norte de África, o clima está a ficar mais próximo do deserto que está a crescer do sul. A Califórnia, neste momento, vive uma seca e tem tido secas sucessivas. Na Austrália e, em certas regiões no sul da África, a mesma coisa. Esta mudança no clima tem origem nas emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera. Os cientistas já [LER_MAIS]previam isto nos anos 80, do século passado. Escrevi um artigo com o meu colega Ricardo Aguiar, que, tanto quanto sei, foi o primeiro em Portugal, onde referíamos que as alterações climáticas iriam trazer menos precipitação a Portugal. Era conhecido e estava previsto por cientistas de todo o mundo.

Mas ainda este fim-de-semana tivemos um ex-ministro da Agricultura, Capoulas Santos, na comunicação social a dizer que “temos de relativizar o problema” e que são normais os períodos de seca.
Afirmações destas dividem o público, dificultam uma acção e mostram o que podemos esperar de quem tem o poder? Esse é um fenómeno que não acontece apenas em Portugal. Acontece muito, por exemplo, em Espanha e nos EUA. É a negação. Somos confrontados com coisas que nos incomodam, que preferíamos que não acontecessem e tendemos a negá-las. É uma atitude humana frequente. Evidentemente, podemos ter a opinião de que não é bom os governantes dos países fazerem afirmações que parece quererem convencer a população de que uma realidade que existe, não existe. É uma estratégia política de poder. Nos Estados Unidos, há muitas pessoas que negam as alterações climáticas ou admitem, mas dizem que não podemos estar preocupados com elas porque combatê-las, do ponto de vista económico, é muito gravoso e desacelera a economia. “Na Califórnia há mais secas? Temos de nos habituar.” Quando os cientistas rebatem e dizem haver causas conhecidas e ser preciso deixar de emitir tanto CO2 para a atmosfera e de consumir tanto carvão, insistem que não se pode fazer isso. Estamos num impasse à escala global, quando isto é um problema que nos acompanhará e aos nossos filhos, netos e bisnetos. A alteração climática não se resolve em décadas. Na melhor das hipóteses, levará 150 anos… Cerca de 80% das fontes primárias de energia são fósseis. Não podemos deixar de consumir estes combustíveis de um momento para o outro, porque é um problema que temos adiado. A União Europeia é líder na transição energética e a China também é muito consciente disse. É um país que tem a maior indústria do mundo de energias renováveis. Tem, literalmente, montanhas cobertas por painéis solares e desenvolveu energia eólica offshore e inshore, numa escala brutal. A China tem 1.300 milhões de pessoas e uma grande dependência do carvão. Percebe perfeitamente que está a sofrer as consequências gravosas da mudança do clima e entende que se deve fazer uma transição e está a fazer o esforço. Já não digo o mesmo dos EUA, que sabem do problema desde os anos 80. “Sabemos da mudança do clima, mas não faremos a transição energética, porque prejudica a economia!”

E Portugal? Diz-se que o País está avançado na questão das renováveis e já se fecharam as centrais térmicas de Sines e Pego… mas, quando há seca, não há água para as centrais hidroeléctricas.
Água é vida! Uma região com cada vez menos água, terá cada vez menos vida. Se não arranjarmos outras disponibilidades de água, se restringirmos a actividade agrícola, será negativo para as regiões onde isso acontecerá, sobretudo para o sul do País. Não sei todos os detalhes, porém, parece-me que houve uma reacção, que deveria ter sido mais pensada, de começar a gerar energia hidroeléctrica para compensar o fecho das centrais térmicas e não importarmos mais energia, com a esperança da chuva no Inverno. O presidente da Câmara de Pedrógão Grande, António Lopes, diz que “era do conhecimento das autoridades e de quem está a gerir as barragens as condições de meteorologia que se adivinhavam, a não previsão de pluviosidade”. Noutros anos de seca, os níveis de água não baixaram tanto, especialmente, após um ano com muita chuva. Partilho dessa surpresa. Mas vamos pela positiva. Gostaria de mencionar um site, que é da União Europeia e que é pago também pelo Estado Português, que tem informação sobre a precipitação nas semanas futuras. Qualquer pessoa o pode consultar. Não é um site de previsão do tempo, como o IPMA ou Accuweather. É mais avançado e indica, até meados de Março, a anomalia da precipitação. É o effis.longterm.forecasts/, que tem projecções mensais e todas as pessoas têm possibilidade de ver a previsão a médio prazo. Serve para o público, serve para a Protecção Civil e incêndios florestais e para outros fins. É algo que é conhecido das autoridades e de quem gere as barragens. Pode ser consultado por todos e, depois, cada um pode ter a opinião que muito bem entender.

Como se pode reduzir o impacto da seca?
Portugal teve um desempenho extraordinário na qualidade da água que bebemos, em relativamente pouco tempo. Também houve progressos notáveis no tratamento das águas residuais, mas o passo seguinte é fazer o tratamento dessas águas nas ETAR e, em vez de as libertar nas zonas costeiras, proceder ao tratamento terciário, que retira a matéria orgânica em suspensão e os agentes patogénicos e fica-se com água que se pode beber. Pode parecer esquisito, mas é possível. Em Singapura, que é uma ilha com 5,5 milhões de pessoas, com uma área do tamanho de 1/4 da área metropolitana de Lisboa, colecta-se a água da chuva, como se fazia no Algarve, nas açoteias, e a água é toda reciclada. Cerca de 40% da água consumida tem tratamento terciário e é encaminhada para as canalizações de casas e de hotéis, cerca de 10% é água do mar dessalinizada e querem aumentar essas percentagens para que o país seja auto-suficiente, porque têm de importar água da Malásia. Em Portugal, há águas residuais, após tratamento, utilizadas no regadio e, no Algarve, em alguns locais, para lavar as ruas e regar campos de golfe. E, quanto à dessalinização temos uma central em Porto Santo que dá de beber à população. No Algarve, há uma unidade hoteleira que também tem uma pequena central dessas, mas que tem tido dificuldade em obter licenças. Para lutar contra a seca, podemos reciclar a água e dessalinizar. Podemos usar a produção fotovoltaica para esses processos. E tratar melhor a floresta autóctone? A floresta é essencial para reter a água no solo. Num monte escalvado, que tenha ardido, quando chove as cinzas impermeabilizam o chão e a água escorrega, sem se infiltrar. Mas a floresta absorve-a e o solo com coberto florestal mantém a humidade, gera biodiversidade e riqueza para o País. Se não florestarmos, estaremos a ir no mau caminho.

Se o clima se tornar semelhante ao do norte de África, como será o nosso País?
Este decréscimo de precipitação, em valor absoluto é praticamente o mesmo em todo o território continental. Em Espanha, acontece o mesmo. Decresceu entre 150 a 200 milímetros. Ou seja, onde chovia, em média, 500 milímetros por ano, se tirarmos 150 é uma grande fatia! Se for no Gerês, que tem uma média de 1.600 milímetros, a percentagem é menor, mas, do Tejo para baixo, as coisas são complicadas. Tínhamos, no passado, no interior sul do Alentejo, um clima onde chovia 500 milímetros, que também sofrerá um impacto. Portugal tem, de norte para sul e do interior para a costa, uma enorme variação na precipitação e a diferença na temperatura, entre o norte e o sul também se irá acentuar.

Podemos aprender a lidar com a seca com países como a Espanha?
Só em Espanha, nas centrais de dessalinização, produzem-se cinco milhões de metros cúbicos de água doce, por dia. Têm 765 centrais, dessas, cerca de 100 produzem 100 mil metros cúbicos diariamente e usam muita água reciclada com tratamento terciário para irrigação. Cerca de 17% da água de regadio é reciclada. Provavelmente, o licenciamento dessas centrais em Espanha é mais fácil do que entre nós. Muitas são mesmo propriedade de associações de agricultores. As populações dos países reagem às circunstâncias onde se encontram. Estou convencido de que Portugal se irá adaptar a esta nova situação de seca. Tenho, contudo, de salientar que o primeiro passo é uma utilização mais eficiente da água. Não se pode deixar as torneiras abertas e é preciso verificar se não há perdas de água. Em média, há 30% de perdas na água distribuída à população pelos municípios, embora nem todas sejam físicas por avaria na canalização. Há água consumida que não é paga. Isto não é razoável. Quem cumpre, paga por quem não paga, que pode até viver na casa do lado. É preciso fiscalização. Tornar tudo mais eficiente é o primeiro passo. Muita da agricultura usa o regadio por gravidade, a água desliza da sua fonte até aos terrenos, pelos declives, mas nesse processo, há muita perda e a que não é utilizada, perde-se. Mas se houver tubagens com água sob pressão, que seja aberta e fechada conforme a necessidade, poupa-se imenso. É preciso investimento. Há já muitos agricultores que praticam agricultura de precisão com gota-a-gota e são líderes no sector.

Perfil
Uma vida dedicada ao clima

Licenciado em Ciências Geofísicas, Filipe Duarte Santos é professor catedrático de Física na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Nasceu em Lisboa, em 1942.

Dedica-se, desde 1980, à investigação nas Ciências do Ambiente e em especial às mudanças globais e alterações climáticas. É docente convidado de várias universidades nos Estados Unidos e Europa.

Com cerca de 120 artigos científicos publicados, coordenou a redacção do primeiro e único “livro branco” sobre o estado do ambiente em Portugal, publicado em 1991. Desde 1998, integra o Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável e é membro da Academia das Ciências de Lisboa.

É gestor da área de Desenvolvimento Sustentável do Programa Ibero-Americano CYTED – Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento.

Em 2005, foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e, em 2008, recebeu o Prémio Universidade de Lisboa. No ano passado, publicou o livro Alterações Climáticas, pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Etiquetas: alteração climáticaalterações climáticasclimaclimatologistaclimatólogodesafiodessalinizaçãoentrevistaFilipe Duarte Santosgeofísicoseca
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