Os componentes preciosos contidos nos catalisadores de automóveis tornaram esta peça num dos principais alvos dos ladrões. Os furtos desta natureza têm aumentado um pouco por todo o País e no distrito de Leiria, só no passado fim-de-semana, foram vários os automobilistas lesados.
Desde o início do ano e até ontem, o Comando Distrital da PSP de Leiria tinha registado 82 ocorrências de furtos de catalisadores, mais 14 do que em todo o ano de 2020. Só no passado mês de Junho, a PSP de Leiria registou 24 furtos destas peças. Em 2019, note-se, a polícia não tinha verificado nenhuma situação do género.
“Das investigações realizadas foi possível identificar duas pessoas, sendo que uma delas foi constituída arguida. Pelas informações recolhidas, existem diversos suspeitos de vários pontos do País a praticar este tipo de crime por todo o território nacional”, nota o comando distrital.
Rui Fernandes, da Marinha Grande, estava a pescar na madrugada de sábado, junto ao Farol de São Pedro de Moel, quando lhe furtaram o catalisador do carro. Foi a única peça que levaram, mas cuja substituição, mesmo que por uma peça usada, custará cerca de 300 euros. “Volto a pescar no mesmo sítio, mas de pé atrás”, expõe Rui Fernandes, apreensivo com este tipo de crime, que também já lesou amigos seus, na Nazaré.
À janela da cozinha, Sandra Santos apercebeu-se este domingo, pelas 16.30 horas, que algo de errado se passava junto ao seu carro, estacionado na rua, na zona da Embra, na Marinha Grande. Havia uma mulher dentro de uma viatura, enquanto um homem, no exterior, examinava o carro de Sandra. E foi num ápice que este se preparou para usar uma rebarbadora.
“Como já tinha ouvido falar de furtos de catalisadores, porque aconteceu a um conhecido meu, no Vale Sepal (Leiria), comecei logo a gritar e eles fugiram”, relata Sandra,que ainda teve tempo de registar a matrícula. Sente-se “revoltada” e “insegura” numa zona da cidade que, até agora, “era tranquila”.
O episódio repetiu-se no mesmo dia, [LER_MAIS]em São Martinho do Porto (Alcobaça). “Aconteceu tudo na minha rua. O cão dos meus vizinhos não parava de latir e foi assim que eles se aperceberam do que estavam a fazer dois homens junto ao seu carro”, explica Rita Soares. Foram travados quando estavam a tentar levar o catalisador e ainda foi possível registar a matrícula, conta a vizinha. “É uma rua calma. Não eram pessoas daqui”, afirma a moradora.
Sobre estes casos recentes, que envolvem uma viatura cuja matrícula foi partilhada pelos lesados nas redes sociais, a PSP informa que o processo se encontra em segredo de justiça.
Também Mafalda Silva não chegou a tempo de impedir os estragos no catalisador, quando um grupo de quatro pessoas, no passado dia 14, à tarde, tentava furtar aquela peça do seu carro, estacionado na zona movimentada da rodoviária, na Marinha Grande.
Cortado com recurso a uma rebarbadora, o catalisador ficou preso por poucos centímetros, resultando num prejuízo de cerca de 600 euros, conta Mafalda, revoltada.
O nosso jornal apurou que o objectivo do furto é revender os catalisadores a algumas oficinas, que os usam para substituir peças do género que estejam danificadas. Noutros casos, o propósito é entregá-los a empresas que extraem e reciclam os componentes valiosos contidos no catalisador, tais como platina, ródio ou paládio.
Operação Carbono passou por Leiria
Desde o início de 2020, altura em que se verificaram as primeiras ocorrências, e até ao final de Junho, a PSP registou 2.772 ocorrências, tendo efectuado 307 detenções de suspeitos por furto de catalisadores em todo o território nacional, avançou aquela força policial à Lusa. A PSP explicou ainda que se verificou o aumento deste tipo de crimes desde o início do confinamento, representando “cerca de dois milhões de prejuízos causados às vítimas”.
Também no final de Junho, a PSP deteve sete pessoas, na Operação Carbono, nos distritos de Leiria, Santarém, Porto e Coimbra, envolvendo a prática de crimes de furto e receptação de catalisadores e branqueamento de capitais.
A operação visou residências de suspeitos dos furtos, sucateiras e outros locais “referenciados durante as investigações por comercializarem ilicitamente esses componentes, sob a forma de resíduos, provenientes de furtos das viaturas”, referiu a PSP.