É preciso unir para vencer. Foi esta a principal conclusão a que chegaram muitos dos agentes da cadeia de valor da resina natural do País, que se reuniram segunda-feira, no Edifício da Resinagem, na Marinha Grande, onde tinha lugar um workshop com vários parceiros do projecto RN21. Neste evento, Carlos Fonseca representava o ForestWISE, o laboratório colaborativo que lidera o consórcio RN21.
O projecto, que conta com 39 parceiros, entre academia, associações, empresas de extracção, de primeira e segunda transformação, visa modernizar e tornar a produção da resina natural mais sustentável em Portugal, abrangendo toda a cadeia de valor, desde a floresta até ao consumidor final, contando, para o efeito, com cerca de 17 milhões de incentivos do PRR.
Carlos Fonseca desafiava o sector para que o projecto RN21 não resulte apenas em novos produtos, mas culmine[LER_MAIS] também na criação de um cluster que melhor represente a fileira. É necessário que os agentes se “organizem para dar continuidade a esta oportunidade”, ultrapassando os problemas que o sector tem vivido.
Também Marco Ribeiro, presidente da Associação de Destiladores e Exploradores de Resina (Resipinus), considerou que este é o “momento-chave” para agir.
Sem dúvidas de que a resinagem é uma actividade que contribui para a sustentabilidade ambiental e social, o presidente da Resipinus lamenta que esta tenha deixado de ser rentável. E apontou motivos. Há etapas que não são produtivas; ausência de gestão florestal no País; falta de mão-de-obra (não haverá mais de 500 resineiros em todo o País, a maioria deles à beira da reforma); ausência de estratégia com metas e indicadores definidos; falta de informação sobre a realidade do sector (hectares explorados, produtividade, etc.).
Neste contexto, Marco Ribeiro propõe caminhos: melhoria genética das árvores; formação e profissionalização do resineiro; remuneração de serviços adicionais (como vigilância e protecção de incêndios); criação de estimulantes adaptados às características das parcelas; recipientes de recolha de resina fechados; rastreabilidade; valorização da matéria-prima e implementação de uma estratégia conjunta.
Desafiou a indústria de primeira e segunda industrialização a avaliar se estão comprometidas ou não com a utilização de resina nacional.
Também Firmino Rocha, em representação da Kemi- Pine Rosins (indústria de segunda transformação) se disse “adepto da criação de um cluster”.
A Finlândia, onde as explorações são pequenas, mas trabalhadas de forma integrada, deve ser um exemplo para Portugal, apontou ainda Armando Silvestre, da Universidade de Aveiro. Desenvolvimento de estimulantes, optimização de processos e aposta em mercados diferentes, como farmacêutica, cosmética e alimentação animal, podem ser saídas para promover a fileira, que pode usar matéria-prima nacional, se a tiver, observou.
Já no público, Hilário Costa, ex- presidente da Resipinus, defendia que os objectivos do RN21 só estarão alcançados se as indústrias de segunda transformação comprarem resina natural portuguesa. Posição idêntica manifestou João Mendes. O gestor questionava se a segunda transformação, também integrada no RN21 sentia algum compromisso ético com os resineiros portugueses.
Mas quer João Serrano, da Pino Pipe, como Firmino Rocha lembraram que os preços da resina natural portuguesa não são competitivos, sobretudo quando aplicada em produtos cada vez mais standardizados.
Notando “tensão” entre vários elos nesta cadeia de valor, Paulo Baptista dos Santos, da CIMRL, preferiu lembrar as vantagens alcançadas com constituição de outros clusters neste território, como o de moldes ou plásticos.