Corria o ano de 1940 quando um grupo de habitantes da freguesia de Pousos se juntou, numa casa de madeira próxima à igreja local, para fomentar o convívio, dinamizar jogos tradicionais e bailes. A II Guerra Mundial marcava a actualidade e terá sido este acontecimento que deu origem ao nome da associação. “O clube nasce em 1940, num tempo de guerra, e a história conta que o próprio nome do Grupo Recreativo Amigos da Paz [GRAP] tem a ver com o momento histórico que se vivia”, conta Manuel Faria, actual presidente do clube que, desde então, reconfigurou-se e passou a dedicar-se ao desporto.
A primeira morada do GRAP ainda hoje se mantém como sede social e as instalações desportivas não ficam muito longe, uma vez que recebem os cerca de 300 atletas que se dedicam às modalidades de futebol, futebol de praia e voleibol.
Com 85 anos de história, a instituição afirma-se como um clube ecléctico e de portas abertas para a comunidade.
O atletismo e andebol passaram pelo clube, que se afirmou com o futebol e, actualmente, após alguns altos e baixos, está na 1.ª Divisão distrital de Leiria, dedicando-se também à formação, ao futebol de 9 e de 7 e ao voleibol.
No futebol de praia, o clube é um dos mais reconhecidos a nível nacional. A história deste emblema cruza-se com o arranque da modalidade de forma organizada pela Federação Portuguesa de Futebol e, a militar no Campeonato Elite, já recebeu no seu areal vários nomes sonantes deste desporto, como André Lourenço e Bernardo Lopes.
Os desportos de areia são, claramente, uma aposta do GRAP e o próximo projecto é a criação de um segundo campo arenoso, para a prática de voleibol de praia. Como esta modalidade obriga à instalação de tubos e postes para a colocação da rede, não se torna possível adaptar o campo de futebol a esta solução, pelo que o clube pretende alargar o campo já existente, criando um espaço “permanente e exclusivo” para o voleibol de praia.
O GRAP foi ainda desafiado a abrir a modalidade de andebol de praia, uma vez que já recebe atletas que, durante o Verão, se dedicam a este desporto. Com as infra-estruturas apropriadas para seguir em frente, a ideia está a ser consolidada pela direcção.
No âmbito do aniversário, são várias as iniciativas que a associação dos Pousos tem preparadas ao longo do ano. No sábado, várias entidades oficiais, patrocinadores e sócios vão celebrar os 85 anos de vida do GRAP e será apresentada uma camisola especial, que será utilizada dentro de campo no dia seguinte.
Para recordar a génese deste clube pousense, serão também realizados, ao longo do ano, torneios de sueca e jogos de chinquilho.
Manuel Faria confessa ainda que gostaria de criar um “espaço histórico” na sede social do clube. Actualmente, os Lobos de Leiria usufruem do espaço para os seus treinos de jujitsu e boxe e o presidente do GRAP pretende aproveitar ainda mais o espaço e relembrar o passado com um lugar dedicado ao convívio entre os sócios, onde possam beber café, conversar e contemplar os troféus que materializam a história do clube.
GRAP reergue-se
Não foi há muito tempo que o GRAP desistiu do Campeonato de Portugal e regressou às distritais. Manuel Faria foi quem tomou essa decisão, num período conturbado em que as contas acumulavam e o futuro do clube estava em risco.
O sucesso desportivo na época 2019/2020 confrontava com a falta de dinheiro e a entrada de um investidor parecia vir resolver o problema. Contudo, já com a equipa a disputar a quarta divisão nacional, as receitas não chegaram e não foi possível fazer face às despesas.
A visão de Manuel Faria colocou o futuro do clube à frente dos resultados desportivos e a equipa desistiu a meio do Campeonato de Portugal, para evitar a insolvência.
Cinco anos depois, o dirigente não se arrepende da decisão e afirma que o clube reergueu-se deste momento. Agora, quer passar a pasta a outra pessoa. “Gostaria que este esforço dos últimos cinco anos, de reerguer o clube e reorganizá-lo, fazer com que seja credível e com que as pessoas confiem os filhos em quem cá está, tivesse continuidade. Costumo brincar e dizer que gostava de ter outra disponibilidade se me apetecesse ir às Caraíbas sem estar muito preocupado com as coisas do dia-a-dia”, refere o antigo comissário da PSP.
Manuel Faria reforça o papel formador deste clube. “Se os jovens andarem aqui no futebol ou a praticar desporto, isso retira-os de uma série de coisas que os leva, muitas vezes, a serem aquilo que tive de tratar profissionalmente, ou o que tive de ouvir de pais a chorar porque os filhos enveredaram por caminhos estranhos. Havendo um ou outro que se desvie desses caminhos, a missão está cumprida”, remata.