Sim. Os educadores confrontam-se inevitavelmente com ciclos alternados de ânimo e desânimo. Num mesmo ano, na mesma turma…
Já quase desesperei, frente a alunos adolescentes, desinteressados de tudo, de todas as matérias, parecendo vogar nas ondas do acaso, sem vontade de conhecer e saber.
E até já apanhei, ao longo de minha vida de quase quatro décadas de aulas, alunos oportunistas (só nos apercebemos depois…) e outros inteligentemente manipuladores (os mais “perigosos”!) e outros mal educados.
Que nos confrontam, perturbam e cansam quase até à exaustão e nos deixam com muitas dúvidas de como será o futuro com eles. E ficamos por vezes interiormente convictos, embora não o possamos dizer alto porque é uma heresia quando falamos de educação, que nem todos crescem como bons seres e que nem todos serão boas pessoas.
Mas, depois, ao contrário, quantas vezes nos renovamos com jovens magníficos, que nos fazem esquecer todos os desânimos? Não apenas por eventualmente serem bons alunos, mas sobretudo por serem sensíveis, educados, cultos, empenhados, preserverantes, sonhadores. Jovens que nos preenchem a “alma”, nos deixam cheios de energia e confiantes, por que não dizê-lo, no futuro que há-de vir.
Comovi-me com o testemunho de Greta Thunberg, a jovem que lançou o movimento #Schoolstrike4climate. E fiquei esperançado que o seu apelo à greve estudantil mundial – para que seja dada prioridade governamental à crise climática-, fosse amplamente tido em conta.
Porque não se trata de uma acção própria de um devaneio juvenil, a olhar condescendentemente. Trata-se, em primeiro lugar, da consciência que o nosso mundo caminha para uma ruptura ecológica [LER_MAIS] sem precedentes e, depois, que os jovens devem fazer algo para mudar alguma coisa.
O que me surpreendeu, no final de tudo, foi a energia que as escolas parecem ter colocado na adesão a esta “greve” – muito menos do que esperava. Porque o papel dos educadores e das escolas deveria ter sido o de falar sobre o tema, explicar o sentido da exigência, incentivar à acção, apoiar massivamente e com todas as energias esta “greve”.
A obrigação das escolas deveria ter sido a de sair à rua.
Onde estão as Eco-Escolas e os Clubes de Ecologia, onde está a Formação Cívica e para a Cidadania, as Ciências Naturais, a Físico-Química, a História, a Filosofia?
Há alturas em que “não faltar às aulas” para “dar o programa” se torna o mais falacioso e cómodo dos argumentos.
Há alturas em que muitas escolas parecem esquecer os seus desígnios e prioridades, mais se parecendo com centros de acomodamento e de resignação.
Ora, bem sabemos desde Sócrates que não há maior “pecado educativo” que educar para a resignação. Por isso, nas greves que se seguirão, professores e pais devem compartilhar o sentimento genuíno, intenso e poderoso de Greta Thunberg e serem solidários com todos os milhares de jovens idealistas que sentem a mesmas peocupações e urgência de mudança.
É um imperativo. Afinal de contas são sempre os ideais que transformam e podem melhorar o mundo.
*Professor