“Tanto se tem falado da greve dos professores, mas pouco se tem falado da greve dos auxiliares de acção escolar. Sem uns ou sem outros, ou sem ambos, a escola não abre. Os alunos não têm aulas. Os programas ficam por dar. Os alunos ficam confusos. Os pais têm de se multiplicar em soluções para o dia dos seus filhos, que no acto da matrícula ficou contratualizado ser passado na escola até à hora de término.”
Este é o desabafo de uma mãe que fala em representação do grupo de pais dos alunos do 2.º ano da Escola Básica dos Capuchos, em Leiria.
Cátia Dias Nunes é mãe de uma criança que em 25 dias úteis, só teve metade do tempo em aulas. Doze dias foram de greve de professores ou assistentes operacionais.
Pais pagam ATL duplamente
“Sem auxiliares a escola não abre. Os alunos que têm ATL na escola não podem lá ficar e não há devolução do valor. Os pais têm de encontrar solução. Eu tive de pagar no privado. Além dos 60 euros do ATL da escola, tive de pagar mais 180 euros, porque não tenho onde deixar o meu filho”, revela ao JORNAL DE LEIRIA a encarregada de educação.
Segundo relata, nem todos os pais têm a mesma possibilidade e há quem esteja com problemas nas empresas, porque são obrigados a ficar com os filhos em casa. “As aprendizagens não estão a ser feitas e quando há aulas são conturbadas e não se verifica uma sistematização da matéria. Os miúdos perdem ritmo e andam confusos”, constata ainda.
Os pais apontam que quando um aluno falta sistematicamente e sem justificação, a situação é classificada como abandono escolar. Pais e filhos são sinalizados. “O direito à educação é um direito constitucional, o direito à greve também. Mas, então, qual deve prevalecer? Qual deve ser salvaguardado, sob pena de comprometer o futuro de uma geração já altamente penalizada pela pandemia?”, questionam.
Alunos abandonados
Para este grupo de pais, está-se a verificar um abandono. “Não por parte dos alunos, mas por parte dos profissionais de educação. A escola não tem, há já algum tempo, um director responsável – alguém a quem os pais possam ver como um interlocutor e líder da instituição de ensino em situações de crise, como a de greves que vivemos. Desde 3 Janeiro de 2023 (dia de arranque do 2.º período), os alunos do 2.º ano desta escola tiveram 12 dias de aulas, em 25 dias úteis. Por semanas consecutivas, os alunos tiverem apenas dois dias de aulas”, revela.
O problema coloca-se porque “falta a professora ou “faltam as auxiliares que abrem o portão às 8:45 horas, quando somos agraciados com a sua assiduidade (que no total, faltaram oito dias), mas que só deixam entrar os meninos na escola após a chegada da professora – por vezes, depois das 9 horas”.
Mesmo nas situações em que a professora falta apenas à primeira hora, Cátia Dias Nunes informa que os pais já levaram as crianças e não são avisados de que haverá aulas mais tarde. Por isso, quando há aulas, muitas vezes, são apenas com quatro ou cinco alunos que ficaram.
Apelo enviado a várias entidades
“Quase 50% é abandono escolar, e abandono dos alunos, que ficam à sua sorte quando tiverem de estar em pé de igualdade com outros alunos de outras escolas. Se falarmos com os pais de alunos de outras escolas, ficam incrédulos com o caso da Escola Básica dos Capuchos. Parece mentira, assim como é, na prática, mentira que estes profissionais estejam a lutar por escola melhor. Estão a lutar, sim, para que não haja escola – pelo menos Escola Básica dos Capuchos, pois muitos pais já tentaram transferência para outra escola pública, ou privada”, adiantam os pais.
Este grupo de pais fez chegar um apelo a várias instituições, nomeadamente ao Agrupamento de Escolas D. Dinis, à vereadora da Educação da Câmara Municipal de Leiria, grupos parlamentares, entre outras entidades que “de alguma forma tutelam o futuro das crianças ou têm o poder de intervir em prol dos mesmos”. Das 15 missivas enviadas, a resposta chegou apenas do grupo Parlamentar do Chega e da vereadora da Educação, que, segundo os pais “rejeitou responsabilidades ou poder de acção”.
Cátia Dias Nunes afirma que este é uma forma de alertar a comunidade para o que se está a passar e para o impacto que está a ter não só na vida das famílias como nas aprendizagens das crianças. “Não encontramos nenhuma solução, mas as crianças dos Capuchos não estão em pé de igualdade com as outras que têm tido mais aulas”, reforça.