Tem as prateleiras lá de casa cheias de troféus, porque é uma das melhores jogadoras de padel do Velho Continente, mas passa os dias ocupados não a treinar, mas a dar treinos. Os alunos, que vão crescendo em catadupa, são dos “oito aos setenta”.
O fenómeno está definitivamente instalado na cidade. Há “muitos casais” e muitas vezes são famílias inteiras, de pai, mãe e filho e filha, todos prontos a aprender com a recente medalhada no Europeu de veteranos.
Susana Feitor Dias não tem mãos a medir para tanta solicitação, mas quando há uma dúzia de anos trouxe a modalidade para Leiria, “a segunda cidade do País” a ter campos, a infra-estrutura foi recebida com escárnio e mal-dizer.
“O pessoal nem sabia o que era e achava muito estranho”, recorda. Os que tiveram a coragem de a acompanhar nos primeiros tempos dos dois campos no Clube da Escola de Ténis de Leiria (CETL) foram apelidados de “padeleiros”.
Os praticantes de ténis estavam “muito reticentes” e “olhavam de lado” para aquelas caixas de vidro. Garantiam que aquilo não era para eles, que jamais experimentariam o padel, porque era “muito simples” e “destinado aos tenistas frustrados”.
Agora dá vontade de rir, não é Susana? “Foi difícil de introduzir, mas sabes o que aconteceu? Caíram lá todos!”
Houve “um primeiro grupinho de dez a 15 pessoas” que teve a coragem de experimentar.
“Todos gostaram e o número de praticantes começou a crescer com o passa-a-palavra. Depois, como só tínhamos dois campos, nem queriam que houvesse muita divulgação, porque já não havia espaço para jogar. Hoje em dia, e ainda bem, há mais clubes, mais campos e mais gente. Assim é que é giro.”
Para alargar a oferta, já que a procura é alta e até já existe dificuldade em marcar hora nos diversos espaços existentes na região, o CETL tem um projecto para construir três campos cobertos.
Está pensado “há uma série de anos”, mas devido aos problemas com os terrenos em que o clube está implantado tem sido sucessivamente adiado. Poderá, no entanto, haver novidades a breve prazo.
Padel em vez de ténis
O primeiro contacto da vice-campeã mundial master em 2019 com a modalidade aconteceu há mais de duas décadas, quando ia de férias com os pais para o Sul de Espanha.
Na altura, era jogadora de ténis e não podia desleixar a preparação durante o período estival, pelo que tinha de treinar uma hora ao clube mais próximo, onde se deslocava com o progenitor, Joaquim Dias, então presidente do CETL.
“Já começava a ver alguns campos de padel e a cada ano que voltava havia mais e mais. Chegou a um ponto em que os campos de ténis começaram a desaparecer e em seu lugar nasciam outros de padel. Era uma loucura. Começámos a achar estranho e a observar o jogo. Achámos aquilo giro e achámos que podia ser uma nova vertente para o clube.”
[LER_MAIS]Tem sido. Actualmente, o número de praticantes na agremiação de São Romão é “ela por ela”. Com a pandemia, então, está a entrar muita gente nova, porque estas modalidades de raquete foram consideradas das mais seguras pela Direcção-Geral da Saúde.
“Hoje em dia, toda a gente já jogou pelo menos uma vez padel”, atira Susana Feitor Dias. Quem experimenta fica convencido, porque “é um desporto fácil”.
A modalidade continua a evoluir de forma fulgurante, espalha-se rapidamente pelo mundo e quer entretanto figurar no lote das olímpicas. Ainda por cima, é uma actividade física que faz crescer os elos entre as pessoas, muitas vezes dentro da própria família.
“Nos torneios sociais é muito comum aparecerem equipas compostas por pai e filha”. É, por outro lado, “o único desporto que tem tantos praticantes homens quanto mulheres”.
É este “convívio” que propicia que faz a diferença.
“Logo de início entra-se na parte competitiva, porque é fácil começar a servir, é fácil responder e é fácil trocar a bola. A partir do momento em que se consegue estas três coisas está-se a jogar. Estás entre amigos, surgem as brincadeiras e começa a competição, o que não se consegue no ténis numa primeira abordagem, porque tem um tempo de aprendizagem muito mais longo. Vais convidar um amigo para joga ténis e passam o tempo a apanhar bolas do chão.”