Na diferença identificar algo em comum e com a ajuda de todos afirmar o individual em prol do colectivo. É assim que há um novo espaço ao ar livre para estar e conviver, na Quinta do Alçada, em Leiria, imaginado e instalado por crianças e jovens que estão a utilizar as práticas artísticas para transformar o bairro e melhorar efeitos sociais e emocionais da vida em comunidade.
Aquela que é, desde o último desconfinamento, a primeira intervenção, no exterior, do projecto Sob o Mesmo Céu, aconteceu, maioritariamente, no sábado, 5 de Junho, orientada pelo colectivo Til, para colocar, junto à Rua Pedro Álvares Cabral, bancos e canteiros construídos pelos mais novos a partir de materiais reaproveitados, como, por exemplo, pneus, tijolos, plásticos e tábuas de madeira.
Pelas próprias mãos, e ideias, sem ficar à espera que outros resolvam.
Com idades entre os 7 e os 15 anos, os 35 participantes do Sob o Mesmo Céu, que é financiado pela Gulbenkian através da iniciativa Partis para a inclusão social, são originários de famílias portuguesas, brasileiras, ucranianas, guineenses e marroquinas.
Além do colectivo Til, o projecto tem como parceiros o Uivo (artes visuais), o Casota Collective (vídeo e áudio) e a Escola de Emoções, entre outros, num esforço coordenado pela associação InPulsar que está a decorrer desde Janeiro de 2019 e termina em Dezembro de 2021 – ou mais tarde, se for aprovado o pedido de extensão por mais sete meses, já efectuado, para compensar o impacto do confinamento.

No sábado, 5 de Junho, realizou-se mais uma etapa do processo guiado pelo colectivo Til, que usa o desenvolvimento de mobiliário urbano como veículo para a aplicação de conceitos educativos relacionados com o aprender fazendo. Um território de liberdade e criação para reforçar a autonomia de crianças e jovens no Sob o Mesmo Céu.
“Tudo é decidido por eles”, explica Gonçalo Lopes, do colectivo Til. E o ponto de partida é um apelo directo à participação: “Pensem o que bairro precisa e experimentem”.
Mapear a espaço público da Quinta do Alçada e desenhar soluções com base no diálogo entre moradores, começou por ser, aliás, a primeira fase do Sob o Mesmo Céu, que procura “promover competências socio-emocionais, mas, também, melhorar o sentimento de pertença ao bairro”, explica a coordenadora do projecto, Tânia Marques.
Para recuperar a história da Quinta do Alçada, têm sido preciosos os contactos com utentes do lar de idosos da Amitei, com quem os mais novos trocam cartas.
As origens do bairro são, justamente, o tema dos desenhos produzidos pelas crianças e jovens do Sob o Mesmo Céu para pintar caixas de electricidade. Outras intervenções no exterior, desde 2019, incluem entrevistas em vídeo a residentes, uma exposição e uma galeria efémera com colagens e fotografias. Mas há mais: o Sr. Alçada, colocado numa praça central, a representar a multiculturalidade e abertura ao outro, e a ilha de sons, que continua em preparação.
Numa das actividades, os mais novos assumiram a voz do bairro e apresentaram propostas, em reunião com a Câmara de Leiria.
Tânia Marques confia que os resultados do projecto já são visíveis: “sentimento de apropriação”, “sentido de compromisso”, “espírito de iniciativa”, “redução de estereótipos”.