O valor mediano da avaliação bancária não pára de subir e em Junho era de 1.070 euros por metro quadrado em Leiria, um aumento de 175 euros (20%) face a igual período do ano passado, de acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística.
Valores que pecam por defeito, frisam os agentes imobiliários ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA, que dizem que a habitação em Leiria se está a vender, na maioria dos casos, acima de dois mil euros o metro quadrado.
“Os valores da avaliação bancária estão desfasados da realidade”, garante Nuno Serrano, responsável pela Predial Leiriense.
E dá um exemplo. Recentemente foi vendido um T3, com 140 metros quadrados, semi-novo, na Urbanização de Santa Clara, por cerca de 320 mil euros. Feitas as contas, são 2.285 euros o metro quadrado.
“Acabei de vender um T3, pequeno, pelos tais mil euros o metro quadrado, mas tem 40 anos e precisa de obras”, conta.
Quanto aos apartamentos novos, na cidade de Leiria, “não se avalia nada a menos de dois mil metros o metro quadrado”, garante, lembrando que há habitação à venda por 350 mil e 400 mil euros, mas neste caso os compradores raramente precisam de crédito bancário.
E os valores da avaliação bancária referem-se, precisamente, a pedidos de crédito para a compra de habitação.
Seja como for, os dados do INE revelam um aumento dos preços do metro quadrado, em praticamente todas as cidades do distrito para as quais há dados disponíveis.
A subida dos preços de mercado é directamente influenciada pela escassez da oferta, tendência que se vem agravando nos últimos anos.
“Na crise de 2010 acabaram os pequenos construtores, que conseguiam colocar no mercado apartamentos a preços razoáveis”, lembra Nuno Serrano.
Actualmente quem constrói, ou reabilita, “são empresas estruturadas”, com outra capacidade financeira, “que não precisam de vender depressa” e podem praticar preços mais elevados.
Por outro lado, é inegável que os custos têm subido. “Não apenas dos materiais, como da mão-de-obra, que não há”, diz o responsável da Predial Leiriense.
Os casais jovens, em início de vida, são quem mais dificuldades sente para comprar casa.
“Dificilmente têm capacidade financeira para pagar um crédito, e muito menos têm o dinheiro que cobrir a parte que os bancos não emprestam”. E arrendar também está cada vez mais difícil e mais caro.
Segundo os dados do INE, é em Peniche que o valor do metro quadrado é mais alto: 1.392 euros em Junho deste ano, mais 31% do que no mesmo mês do ano passado.
Segue-se a Nazaré, com 1.366 euros/m2, uma subida de 8%, e Óbidos, com 1.269 euros, mais 4%.
“Peniche é muito procurado por estrangeiros, que têm outro poder de compra e vêm numa perspectiva de rentabilizar o investimento, o que acaba por tornar pouco relevante o preço inicial”, explica Nuno Anjos, gerente da ERA Peniche/Óbidos.
Concelhos onde a escassez da oferta “é muita”, porque não há construção nova, explica o responsável. A habitação que vai aparecendo é muitas vezes resultado de projectos de reabilitação, que ficam “mais caros”.
“Tudo isto dificulta a vida às famílias que querem comprar casa”, reconhece, prevendo que a situação se venha a complicar ainda mais, devido à subida das taxas de juro.
A falta de casas para comprar tem impactos igualmente no mercado de arrendamento. “Não havendo construção nova, não há casas para trocar nem para arrendar”.
Por outro lado, as poucas que há no mercado de arrendamento estão vocacionadas para os estudantes, durante o ano lectivo, e no Verão são arrendadas a turistas. Muitas outras estão afectas a Alojamento Local, “porque a rentabilidade é maior e a carga fiscal menor”, diz Nuno Anjos.
No cômputo nacional, o valor mediano da avaliação bancária foi de 1.407 euros em Junho, mais 27 euros que o observado no mês precedente. Em termos homólogos, a taxa de variação fixou-se em 15,8%, revelam os dados do INE.
Leiria entre os distritos com mais procura
Leiria, tal como Braga, Setúbal, Faro, Coimbra e Aveiro, está entre os distritos que maior aumento da procura de casa registaram no primeiro semestre do ano, face aos seis meses anteriores.
Segundo o estudo recentemente divulgado pela Imovirtual, baseado em dados disponíveis na plataforma, cerca de 60% da procura de casa acontece hoje fora dos grandes centros, onde se nota um aumento do interesse de mais 4% em relação ao semestre anterior.
A procura dos consumidores por casas no interior do País, no primeiro semestre do ano, face ao semestre anterior, aumentou sobretudo nos distritos de Braga (13,7%); Setúbal (9,4%), Faro (6,9%), Aveiro (6,2%), Leiria e Santarém (4,9% em ambos).
Assim, nos primeiros seis meses de 2022, os distritos intermédios mais procurados são, por esta ordem, Braga, Setúbal, Leiria, Faro, Coimbra e Aveiro.
“É também interessante vermos cada vez mais pessoas interessadas em Aveiro, Leiria e Santarém, regiões com grande potencial de desenvolvimento e crescimento, em linha com uma tendência de descentralização e mudança para o interior”, analisa Ricardo Feferbaum, diretor-geral do Imovirtual.
Ainda assim, com um crescimento da procura na ordem dos 1,8%, as duas maiores áreas metropolitanas continuam as ser as mais procuradas (com Lisboa a representar 23,5% do total da procura de casa, seguida pelo Porto, com 18,3% do total da procura).