O Centro Hospitalar de Leiria (CHL) já esgotou 90% da sua capacidade actual para internamento de doentes Covid-19.
Ao final do dia de terça-feira, das 84 camas disponíveis para esta patologia, 78 estavam ocupadas, sendo que na Unidade de Cuidados Intensivos restavam apenas duas, de um total de dez.
Esta pressão sobre o hospital é reflexo do aumento de casos ocorridos nos últimos dias na região, onde se verificou também uma subida do número de óbitos.
Só nos últimos sete dias, a Covid-19 fez mais 13 vítimas mortais nesta zona (dez no distrito de Leiria e três no concelho de Ourém).
Destas, cinco eram utentes de dois lares atingidos por surtos de infecção, um em Alburitel (Ourém) e outro em Santa Eufémia (Leiria).
De acordo com dados facultados pelo CHL ao JORNAL DE LEIRIA, ao início da noite desta terça- feira estavam internados no hospital de Leiria 78 doentes Covid- 19, oito dos quais em cuidados intensivos.
Leiria é, para já, a única capital de distrito de fora da lista de 191 municípios considerados de elevado risco de contágio e, por isso, sujeitos a recolher obrigatório.
Nessa lista estão Alvaiázere, Ansião e Ourém, que, desde a meia-noite desta segunda-feira, se encontram sob confinamento parcial, com restrições à circulação na via pública (entre as 23 e as 5 horas, durante a semana, e entre as 13 e as 5 horas, ao fim-de-semana).
De fora, ficou a Batalha, que esteve incluída no primeiro grupo de concelhos sujeitos a confinamento parcial, por apresentar um rácio de novos casos superior a 240 por 100 mil habitantes.
No entanto, a evolução da situação pandémica no concelho, levou o Governo a decretar a sua exclusão da lista, juntamente com outros seis municípios.
Entretanto, na terça-feira, à saída da audiência com o Presidente da República, o líder parlamentar dos Verdes dava conta que o Governo estará a ponderar a criação de uma escala de gravidade dos concelhos mais afectados pela Covid-19.
Entre o total de pacientes, encontravam-se dois dos cinco que a unidade recebeu nos últimos dias provenientes dos centros hospitalares do Médio Ave e do Tâmega e Sousa, ao abrigo dos acordos de parceria dentro dos Serviço Nacional de Saúde.
Os números
13
78
Nesta fase, o CHL tem 84 camas afectas ao tratamento de doentes Covid-19, dez das quais em cuidados intensivos, 20 em cuidados intermédios e 54 em enfermaria, depois do reforço feito na última semana, com a disponibilização de mais 27 camas para esta patologia.
À agência Lusa, a instituição adianta que “não é possível, neste momento”, fazer a previsão “com um mínimo de rigor” de quando será atingido o limite de camas ocupadas, “pois depende exclusivamente da evolução pandémica a nível local, regional e nacional”.
“Quando e se isso acontecer, o CHL activará a fase seguinte do seu plano de contingência, que permitirá alargar a área de tratamento de doentes Covid-19”, acrescenta a instituição.
Entretanto, prevê-se que, dentro de dias, comece a funcionar a unidade de retaguarda para doentes Covid-19, que irá funcionar no Seminário Diocesano de Leiria e que ajudará a aliviar a pressão sobre o hospital.
Carlos Guerra, comandante distrital da Protecção Civil, adiantou ao JORNAL DE LEIRIA que estrutura “já foi validada pela Segurança Social e pela Saúde” e que estará operacional na próxima semana, podendo acolher até 100 doentes e dando apoio a todo o distrito.
“As instalações têm 45 quartos duplos. Dependendo das orientações das entidades de saúde ao nível da ocupação do espaço, podemos, em limite, ter [LER_MAIS]ali 100 pessoas”, refere Carlos Guerra, sublinhando que a entrada em funcionamento desta unidade de retaguarda permitirá “libertar camas dos hospitais para os casos mais graves de Covid-19 que necessitam de internamento para tratamento hospitalar”.
Em Fátima, irá funcionar uma unidade semelhante, em instalações de uma congregação religiosa, que abrangerá o distrito de Santarém.
Surtos em lares com cinco óbitos
Nos últimos dias, surgiram vários surtos em lares da região, dos quais resultaram já cinco mortes. Destas, duas ocorreram no Lar Eira da Torre, na freguesia de Santa Eufémia, concelho de Leiria, vitimando dois utentes com 94 e 95 anos.
Nesta unidade, que acolhe 56 idosos, estavam, à hora de fecho desta edição, confirmados 32 casos positivos – 29 utentes e três funcionárias -, sendo que quatro desses idosos encontravam-se hospitalizados.
Em declarações ao JORNAL DE LEIRIA, Vanessa Póvoa, directora técnica da instituição, descrevia, na terça-feira, a situação como “muito difícil, um pesadelo” e enaltecia “todo o apoio” que tem sido disponibilizado quer pelo Centro Distrital da Segurança Social quer pela Saúde Pública.
A responsável reconhecia ainda que a idade avançada dos utentes – “grande parte acima dos 85 anos” -, associada facto de muitos deles terem “problemas de saúde, nomeadamente ao nível respiratório”, tem dificultado o controlo da situação.
Em Alburitel, o Lar Residencial Abrigo Nossa Senhora da Ajuda está também a braços com um surto de Covid 19, que já provocou três mortes. No total, a instituição tem 49 pessoas infectadas, entre utentes e funcionários.
Já esta terça-feira, o presidente da Câmara de Peniche, Henrique Bertino, confirmava à Lusa a existência de um foco de infecção num lar na freguesia de Serra d’el Rei, com “cerca de 10 infectados”.
Neste concelho, registou-se um outro surto no jardim de infância de Ferrel, com “mais de uma dúzia” de casos positivos, que levou ao encerramento do estabelecimento, frequentado por 115 crianças.
Ainda em Peniche, foram confirmados sete casos entre os cerca de 40 trabalhadores da Docapesca. Centro de deficientes com 30 casos No Centro de Apoio a Deficientes Profundos João Paulo II, em Fátima, estão, para já, confirmados 30 casos positivos, entre utentes e funcionários. Segundo a Agência Lusa, a Autoridade de Saúde recebeu um alerta, na semana passada, para dois casos positivos na instituição, tendo sido iniciado um rastreio.
Numa primeira fase foram testados “todos os colaboradores e utentes” do piso onde esses casos surgiram. Esta quarta-feira, Joaquim Guardado, administrador da instituição, que pertence à União das Misericórdias Portuguesas, adiantava ao JORNAL DE LEIRIA que estavam confirmados “14 casos positivos entre os 192 utentes e 16 entre os 200 funcionários”.
Segundo o responsável, estavam ainda a ser feitos cerca de 180 testes aos trabalhadores afectos aos restantes módulos do edifício. “O surto parece controlado, porque, pela organização do espaço [funciona por módulos], foi possível confinar os utentes aos seus espaços. Aguardamos com expectativa o resultados dos testes, que devem ser conhecidos amanhã [esta quinta-feira]”, avançou Joaquim Guardado.
Surto no CHO infectou 14 pessoas
Um surto registado no Centro Hospitalar do Oeste (CHO), que terá começado no Serviço de Medicina do Hospital de Caldas da Rainha, fez 14 infectados (dez doentes e quatro funcionários), havendo ainda 11 profissionais em isolamento profilático.
O surto foi confirmado este domingo, tendo sido testados 42 pacientes e 110 funcionários do CHO. Em informações enviadas ao JORNAL DE LEIRIA, a instituição adianta que, além dos funcionários infectados relacionados com aquele surto, está confirmada a infecção por Covid-19 de “mais seis profissionais e de 11 elementos em isolamento profilático”.
São, especifica o CHO, casos “não relacionados com este surto, que podem ter sido contagiados no local de trabalho ou na comunidade”. Por seu lado, o CHL tinha, à data de terça-feira, 20 profissionais infectados e 9 em isolamento profilático.
Municípios reforçam apoios Com o agravamento da situação, os municípios da região têm vindo a anunciar novas medidas de combate à crise pandémica e de minimização dos impactos sociais e económicos daí resultantes.
Depois de as Câmaras de Leiria, Alcobaça e Ourém terem anunciado, na semana passada, novas medidas de apoio, como reduções fiscais e campanhas que visam auxiliar a economia local, nomeadamente o comércio tradicional, esta semana os Municípios de Batalha e Porto de Mós aprovaram os seus orçamentos para 2021, com aumento de verbas para reforçar o combate à pandemia.
Entretanto, a Câmara de Castanheira de Pera pôs em funcionamento uma linha telefónica (913 807 281), que funciona 24 horas por dia, para apoio aos munícipes em questão relacionadas com a Covid-19.
A autarquia disponibiliza também apoio na entrega de bens essenciais, medicamentos e no apoio social ou na orientação de pessoas em isolamento, com sintomas ou que tenham testado positivo.