Com o Dia dos Namorados a bater à porta, o JORNAL DE LEIRIA foi perceber que desventuras têm levado os pares dos nossos dias a recorrer à terapia de casal. Quisemos também saber que tipo de ferramentas podem ser usadas para reatar relações que, à partida, parecem condenadas.
Algumas conclusões podem desde já ser apontadas. A boa notícia é que há sempre hipótese de fazer renascer uma relação a dois, assim ambos se comprometam nesse projecto conjunto. A notícia menos boa é que, pela vida matrimonial afora, não há “uma fase”, mas “muitas fases” susceptíveis de afastar os parceiros, sendo a idade da reforma uma das etapas críticas.
Daniela Anéis, psicóloga da Marinha Grande, que na última década tem trabalhado na terapia de casais, explica [LER_MAIS]que, embora seja uma intervenção muito desafiante para o profissional, existe sempre a possibilidade de reatar, independentemente do problema que afaste os casais. Para isso, ambos têm de se empenhar em trabalhar na relação, salienta.
Geralmente, são as mulheres quem toma iniciativa de procurar ajuda, explica Daniela Anéis. Chegando ao consultório, são diversas as razões apontadas para o “desconectar emocional” com o parceiro. “O assassino número um do romance é a rotina”, mas há também a questão dos filhos e do trabalho. E, por vezes, como consequência desse afastamento, surgem as traições.
“E há crises cíclicas. Geralmente associadas ao nascimento do primeiro filho, à entrada da criança na escola, e mais tarde, à entrada do filho na faculdade, que sai de casa e deixa os pais sozinhos.” E até os casamentos longos podem sentir uma crise na idade da reforma, nota a psicóloga. “Trabalho com um par, casado há mais de 30 anos, que está a viver isso”, exemplifica.
Acontece porque quem se aposenta primeiro vai criando as suas novas rotinas. Já quem se aposenta a seguir pode querer ter outras, nota a especialista, relembrando que é preciso encontrar equilíbrio entre tempo individual, de casal e de família.
Cada situação é tratada de forma personalizada, sendo que há “trabalhos de casa” comuns: investir no romance, dentro e fora de casa, preparando algumas saídas à noite; redescobrir a intimidade; encontrar tempo para fazer actividades divertidas em conjunto.
Margarida Vieitez acompanha casais há mais de vinte anos e é autora de oito livros sobre relações amorosas. É especialista em conflitos conjugais e familiares e refere que a procura por este tipo de ajuda tem aumentado, devido à maior informação e sensibilização promovida pelos media.
Também Margarida Vieitez explica que são vários os motivos de pedido de auxílio: “traição, dificuldade de comunicação, insatisfação e afastamento emocional e sexual, gestão das diferenças, discussões e escalada de conflitos, violência verbal, psicológica e física”. E observa igualmente que há cada vez mais idosos a procurar terapia.
“São na sua maioria casais que viveram toda a sua vida focados nos filhos e se esqueceram que tinham uma relação antes de eles nascerem. Com a saída de casa dos filhos, não sabem como se relacionar e precisam aprender.”
Para ultrapassar as diferenças, a especialista recomenda “exercícios para melhorar a comunicação, a aproximação emocional, a empatia para com as necessidades emocionais e afectivas”.
E ajuda os parceiros “a criar competências relacionais e gestão das diferenças, a reconstruir a confiança e a fomentar o romance”. E a taxa de sucesso, aponta, é “bastante elevada”.
Dificuldades económicas também “abanam” relações