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É difícil ganhar ao Pai Natal. O Menino Jesus não tem qualquer hipótese. O Pai Natal tem a apoiá-lo um lobby tão poderoso, tão bem organizado, que deixa a léguas de distância a capacidade de o Menino Jesus continuar a impor-se.
A estrutura por detrás da imagem do Pai Natal é altamente profissionalizada, contando com os mais reputados especialistas de imagem e de marketing, utilizando as mais eficazes plataformas informáticas.
A do Menino Jesus é amadora, sem grande capacidade de renovação de imagem. O Pai Natal tomou conta da web. O Menino Jesus aparece em cada vez menos cartões de Feliz Natal. O Pai Natal sempre foi rico, gordo e anafado. Vive numa aldeia lá perto do Polo Norte, no maior conforto: cabana de madeira, lareira acesa, boa comida e bebida quentinha.
O Menino Jesus aparece nascido numa mangedoura, num curral húmido e sujo, embrulhado em pano cru. É filho de um simples carpinteiro cuja profissão seguirá, até aos 30 anos… O Pai Natal grita “ho, ho, ho”, é bonacheirão e divertese a descer pelas chaminés, nas casas que as têm. E o Menino Jesus, pequenino, chora ainda. O Pai Natal desloca-se num gracioso trenó, puxado por quatro luzidias e bem tratadas renas.
O Menino Jesus, deitado nas palhinhas, para além dos pais, tem apenas por companhia uma vaca e um burrico, esse mesmo que o há-de levar de Belém. O Pai Natal tem um saco cheio de prendas. O Menino Jesus, tão pequenino, nem as prendas dos Reis Magos consegue apreciar. O Pai Natal tem um séquito de duendes e elfos que trabalham na sua empresa de brinquedos, numa grande azáfama para corresponder aos pedidos das meninas e meninos.
O Menino Jesus o que mais poderá um dia fazer, na oficina de carpintaria de seu pai, serão uns toscos brinquedos de madeira. Aos meninos e meninas das famílias mais abonadas, o Pai Natal, vá-se lá saber porquê, compensa com mais e melhores brinquedos. Do Menino Jesus, nascido pobre, não é de esperar grande coisa… O Pai Natal tem o grande comércio e a grande indústria a apoiá-lo.
O Menino Jesus, em contrapartida, está a perder cada vez mais apoios mecenáticos. A figura do Pai Natal dá emprego direto e indireto a mais de 10 milhões de pessoas por esse mundo fora. A do Menino Jesus, nem a 100 mil. O Pai Natal até no jardim se pode expor, num grande insuflável. Do Menino Jesus, quase nu, espera-se discrição e recato, no interior das casas.
As réplicas do fato do Pai Natal podem-se vender aos milhões. Do Menino Jesus, o que copiar? O Pai Natal oferece-nos um mundo de abundância, de prateleiras repletas de brinquedos, de meninos risonhos, coradinhos, a boca lambuzada de guloseimas. O Menino Jesus traz-nos um incomodozinho, porque nos faz lembrar os mais pobres e necessitados e porque nos envergonha da opulência e do supérfluo.
O Pai Natal traja as cores vistosas da Coca-Cola. O Menino Jesus oferece-se apenas nas cores da sua quase nudez. O Pai Natal é americano. O Menino Jesus é de todos os que acreditam num Deus que se fez Homem. E os que acreditam que não há melhores prendas que a saúde, a paz interior e a paz no mundo.
