Cansados, irritados, zangados e desolados. É assim que se sentem os empresários da Rua dos Mártires, em Leiria, via que liga as rotundas Melvin Jones e Papa Francisco, perante as obras que se iniciaram a 7 de Janeiro – com um mês de trabalhos de arqueologia – e perduram sem fim à vista. A duração dos trabalhos inicialmente prevista era de 180 dias.
A Câmara de Leiria explica que o atraso se prendeu “com situações alheias aos trabalhos previstos na empreitada, nomeadamente incongruências detectadas ao nível das infraestruturas enterradas e arqueologia”.
Na última reunião de Câmara, o presidente Gonçalo Lopes admitiu que “foram surpreendidos com falta de informação base ao projecto”. A estimativa da conclusão da obra está agora prevista para o final de Novembro.
Estas são justificações que “servem de pouco” para quem se vê “prejudicado” no seu dia-a-dia. Conceição Abreu (Sana), sócia-gerente do Externato Infantil e 1.°ciclo O Castelinho, mostra a sua revolta: “É indecente. Sei que as obras têm de ser feitas, que é preciso melhorar, mas não era necessário ser tudo de uma vez. Não podemos abrir as janelas, tendo em conta a poeira, que prejudica os meninos, sobretudo, os que já têm problemas respiratórios, e o acesso é muito complicado”, revela.
Segundo esta responsável, a “cratera que abriram à porta” ainda dificulta mais o acesso à escola de crianças com 3 e 4 anos. “Os pais têm de as trazer ao colo ou às cavalitas. Já tivemos um dia sem água das 9 às 18:30 horas e é muito complicado deixar o carro longe e trazer as compras a pé.”
Conceição Abreu garante que já perdeu inscrições e tem dificuldade em angariar novas crianças, assim como explicar a quem vem de fora onde fica a escola. Além disso, acrescenta, não compreende por que razão as obras pararam durante o mês de Agosto, “quando as escolas estão fechadas”.
A responsável lamenta ainda a falta de sensibilidade de quem está a trabalhar na requalificação. “Os palavrões são tantos que já tivemos de pedir a intervenção da polícia para sensibilizar os trabalhadores, já que temos aqui crianças.”
“Temos sorte que ainda não começou a chover, porque se tal suceder isto passa a ser um lamaçal. Se o colégio fechar – tem 53 anos e não depende de nenhum apoio – vou pedir responsabilidades à Câmara e mover-lhe [LER_MAIS] um processo.”
O sócio-gerente do café Deusa, mais abaixo, também garante que já perdeu clientes. “Não tendo como chegar de carro, deixaram de vir. Tenho sempre o café cheio de pó, a sujidade é constante e os transtornos são enormes”, constata Arlindo Gameiro.
A mesma situação é vivida por Arsénio Santos, sócio-gerente da AS+Películas, empresa de vidros para automóveis topo de gama. “Sem acesso para aqui chegar não consigo atender os clientes. A porta até está fechada para evitar o pó que é constante”, conta, lamentando que nem tem onde estacionar os veículos.
“Os custos mensais não diminuíram. Tenho de pagar as contas e até os impostos à Câmara, que se falha não nos compensa, o que teria de fazer se fosse o contrário”, acrescenta, admitindo que a sua vantagem é conseguir deslocar alguns clientes mais assíduos para outra loja.
“Muitos outros deixaram de vir.” A intervenção, que representa um investimento na ordem dos 494 mil euros, decorre desde a Rotunda Papa Francisco até à Rotunda Melvin Jones, numa extensão aproximada de 433 metros.
Mais estacionamento previsto
Segundo a Câmara de Leiria, os trabalhos consistem na “requalificação do espaço público, dimensionando e ajustando o perfil da rua ao sentido único de tráfego, aumento da largura de passeios e reorganização dos estacionamentos, a substituição da conduta adutora e da rede distribuidora de abastecimento de águas, a substituição da rede de drenagem de águas residuais e ramais, a remodelação da rede de iluminação pública e da rede de
drenagem pluvial e do mobiliário urbano”.
"O Município, em diálogo com moradores e comerciantes, decidiu reforçar o número de
lugares de estacionamento, que passam a ser oito, situação que não estava contemplada no projecto inicial.”