Deverá ter fim à vista o programa da Agência para a Competitividade e Inovação para apoiar a factura energética das indústrias consumidoras de gás natural, que desde o ano passado atribuiu cerca de 85 milhões de euros em subsídios a empresas de vários sectores.
Segundo notícia avançada pelo Público, “embora o valor dos apoios pagos ainda esteja longe dos 235 milhões de euros de dotação total”, afecta à globalidade das modalidades do Apoiar Indústrias Intensivas em Gás, “o Governo entende que já não se justificam mais subsídios”.
Àquele jornal, fonte oficial do Ministério da Economia e do Mar adiantou que, depois de 30 de Junho, quando termina o prazo do aviso que está em vigor, “não está previsto abrir novos avisos, tendo em conta a forte descida do preço do gás nos últimos meses”. Contudo, empresários de indústrias de vidro e de cerâmica, altamente consumidoras de gás, manifestam apreensão com o fim dos apoios, numa altura em que ainda sentem os impactos da subida de custos da energia.
Hermenegildo Santos é sócio- gerente da Vidrexport, empresa da Marinha Grande, que se dedica à produção automatizada de garrafas, mantendo também activa, em menor escala, a produção manual de artigos em vidro. O empresário salienta o enorme peso que os custos da energia, incluindo o gás, têm nesta actividade, razão pela qual deveriam manter-se os apoios [LER_MAIS]e até com mais expressão do que tiveram.
A Vidrexport emprega 49 colaboradores e produz diariamente cerca de 19 mil toneladas de vidro. Alcançou em 2022 um volume de negócios de mais de seis milhões de euros, canalizando mais de 80% da sua produção para o exterior.
O empresário diz só ter tido apoios até Março, porque a fórmula usada para calcular essa ajuda está, do seu ponto de vista, desajustada àquilo que são as necessidades reais das indústrias. E, mesmo o valor que ainda foi recebendo, “foi pouco”. “Embora tenha havido uma redução do preço do gás, continua a custar mais do dobro do que em 2021. Devido ao aumento dos custos de produção, já tivemos de aumentar o preço final dos nossos produtos. Mas os clientes ouvem dizer que o gás está mais barato e que há apoios e nós tivemos de voltar a baixar os preços”, explica o sócio-gerente.
“Nenhum empresário deste sector verá com bons olhos o fim deste apoio. Por pouco que fosse, era importante para estas empresas altamente exportadoras”, considera Carla Moreira, responsável pela Arfai, fabricante de cerâmica, de Alcobaça. A Arfai emprega cerca de 100 pessoas e fabrica 40 mil peças por mês.
Registou no ano passado 3,8 milhões de euros de volume de negócios, exportando quase tudo o que produziu (98%).
“O gás é o nosso segundo maior custo, só superado pela mão-de-obra. E no ano passado fomos fortemente penalizados com os aumentos do gás. Pagámos cinco vezes mais do que era habitual”, salienta a empresária. “Estes custos já tiveram reflexos no preço final dos nossos produtos e temo que percamos competitividade”, alerta.