Texto publicado originalmente na edição de 18 de Janeiro de 2024 do JORNAL DE LEIRIA
Dois álbuns de originais, a participação numa colectânea e os concertos já em agenda significam que 2024 será, muito provavelmente, o ano mais preenchido até à data para a pianista Inês Condeço, de Leiria, que depois de disponibilizar o longa duração de estreia, Lacuna, no Bandcamp, logo no início do mês, se prepara para o lançar, esta sexta-feira, 19 de Janeiro, nas restantes plataformas digitais de streaming.
“Com piano, voz e sintetizadores como instrumentos centrais, a artista explora sons e atmosferas que organicamente vagueiam entre a esperança e o abismo”, pode ler-se no texto que acompanha Lacuna no Bandcamp. “Somos guiados por ambientes sonoros contrastantes, transitando entre a luz e a escuridão, o familiar e o desconhecido, tendo uma experiência auditiva tão introspectiva quanto universal”. A descrição é fiel e a impressão mais forte quando se ouve Lacuna pela primeira vez é mesmo a de quem viaja sem sair do lugar.
Um trabalho criado “de rajada”, do zero, ao longo de um mês, como um ilustrador a desenhar a partir de uma folha em branco, construído “por camadas”, a respirar “na exploração, no improviso”, explica Inês Condeço durante a conversa com o JORNAL DE LEIRIA. “Quando entrei para estúdio para gravar, que é o meu estúdio, na verdade tinha ideia de fazer algo diferente, uma coisa mais electrónica ainda, mais industrial. No decorrer das gravações acabei por ir para aqui, um álbum muito contrastante, umas coisas mais electrónicas, outras mais calmas, tranquilas, mais vulneráveis, também. Acabei por aceitar esse contraste e estou muito contente com o resultado”.
Com mistura e masterização de Nuno Rancho, e capa de Nuno Filipe, Lacuna conta com Pedro PMDS na faixa “Reminiscência”.
Entretanto, a 4 de Janeiro, numa iniciativa do projecto Unha, saiu a compilação Not Your Fault, que se destina a recolher fundos para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e em que Inês Condeço participa com o tema “Limbo” numa lista de 17 autoras.
Há mais: ainda no primeiro semestre de 2024, está prevista a edição de um álbum de música experimental e improvisada, de casta electrónica, composto a meias por Inês Condeço e Pedro PMDS, que já se apresentaram ao vivo em duo e começaram a colaborar no contexto da pós-graduação Arte Sonora: Processos Experimentais da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Inês Condeço usa, principalmente, a voz, que expande até ao território da performance com a declamação de poesia escrita por Luís Santos.
Nascida numa família do teatro, Inês Condeço – que reside na zona de Lisboa – estudou no Orfeão de Leiria com Luís Batalha, Susana Serra, Pedro Rocha, Mário Nascimento e Joaquim Branco, no Conservatório de Ourém e Fátima com Pedro Cruz, em Lisboa com João Vasco e na Universidade de Évora com Ana Telles.
É licenciada em Música (vertente de piano) e influenciada por artistas tão diferentes como John Coltrane, Miles Davis, Chick Corea, Keith Jarrett, Hania Rani, Nils Frahm, Yann Tiersen, Floating Points ou Caterina Barbieri.
Em 2022, lançou o primeiro single a solo, “Scenes”, e assinou a banda sonora para a curta Havia um Homem (em colaboração com Paulo Simões e com a mãe, Vitória Condeço) a partir de um conto de José de Almada Negreiros.
Depois da apresentação de Lacuna em Leiria, no Teatro Miguel Franco, no mês de Dezembro, em 2024 Inês Condeço espera dividir o tempo entre o estúdio que mantém em Almada (no espaço gerido colectivamente existe também um ateliê para outras artes) e o palco: os espectáculos já confirmados incluem o ZDB, a SMUP, o B.O.T.A. e a Casa do Comum.