A mais recente noite do festival Clap Your Hands ainda influencia o estado de espírito de Inês Condeço. “Estou mesmo muito feliz”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “Foi a melhor estreia que podia ter tido”. O concerto do último sábado, no Teatro Miguel Franco, é o culminar de um percurso iniciado aos cinco anos de idade e que agora, com a pianista pela primeira vez a solo, se encontra numa oportunidade de partilha com o público. “Era essa a intenção, levar as pessoas a viajar comigo”.
Em palco, um piano clássico, acústico, em que, além do teclado, Inês Condeço utiliza também as cordas, com palhetas de guitarra e baquetas de percussão, um sintetizador, sons pré-gravados e a voz colocada sem palavras, como efeito ou textura. Cinco temas, em algum momento com algum elemento de improvisação, ou seja, o próximo espectáculo, necessariamente, será diferente.
“A improvisação sempre esteve presente, essa busca de outros timbres, a exploração”, refere a compositora de 33 anos, que cresceu em Leiria e actualmente vive e trabalha em Lisboa, onde dá aulas de música e piano. “Hoje, com este projecto, sinto-me liberta para partilhar a busca pela minha linguagem”.
Como a banda sonora de um território que é diferente para cada pessoa, o alfabeto de Inês Condeço expressa-se num ambiente de fusão, sem fronteiras. A música erudita, o jazz e a electrónica misturam-se num caldeirão de influências que remontam aos discos de Coltrane, Miles Davis, Chick Corea e Keith Jarrett (ainda o favorito) que começou a escutar em casa dos pais durante a infância, tem ligação directa com as primeiras aulas de improvisação no Orfeão de Leiria, com o professor Pedro Rocha, e se inspira na sonoridade “muito visual, muito paisagística” da pianista polaca Hania Rani. E de muitos outros nomes ou géneros. Nils Frahm, Yann Tiersen, Floating Points, Caterina Barbieri. “O meu gosto musical alargou-se bastante nos últimos anos”, comenta. “Sempre senti que precisava de criar algo meu. É um bocadinho juntar tudo o que ouvi”.
Nascida numa família do teatro, Inês Condeço interessou-se pelo piano aos cinco anos de idade, estudou no Orfeão de Leiria com Luís Batalha, Susana Serra, Pedro Rocha, Mário Nascimento e Joaquim Branco, no Conservatório de Ourém e Fátima com Pedro Cruz, em Lisboa com João Vasco e na Universidade de Évora com Ana Telles. É licenciada em Música (vertente de piano) e frequenta uma pós-graduação em Arte Sonora na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Pelo meio, manteve, com apresentações públicas, um trio de soprano, clarinete e piano.
Em 2022, surgiu o primeiro videoclipe, para o tema “Scenes”, gravado no Teatro Miguel Franco com o produtor Nuno Rancho e disponível no YouTube.
Também no ano passado, Inês Condeço assinou a banda sonora para a curta Havia um Homem (em colaboração com Paulo Simões e com a mãe, Vitória Condeço) a partir de um conto de José de Almada Negreiros.
Nos próximos meses, é certo que vai regressar ao palco, para actuar ao vivo e prolongar o diálogo com a plateia. “A minha música remete muito para lugares meus, alguns mais escuros, outros mais luminosos”.
O itinerário é tanto da artista como de quem a segue. E, no horizonte, já se vislumbra o primeiro álbum.