A vontade de conhecer mais mundo, de ver para lá dos limites do concelho onde nasceu – Pombal – e de Portugal, começou a despertar em Inês Gonçalves ainda nos bancos da escola básica, estimulada pelos professores e apoiada pelos pais. Aos 26 anos, a jovem, formada em Ciência Política, conta já com experiências em França, Alemanha, México e Holanda.
Há cerca de um ano, mudou-se para Bruxelas (Bélgica), para integrar a equipa da Direcção-Geral de Economia e Finanças da Comissão Europeia (CE), que é responsável pelo plano de Recuperação e Resiliência, a chamada ‘bazuca’.
A par do trabalho que faz na CE comopolicy officer no InvestEU Programme, um programa de investimento para relançar a economia, Inês Gonçalves está também a desenvolver uma plataforma digital de cuidados para a saúde feminina – a Femtrust. Trata-se, explica, de um projecto em parceria com dois amigos, cuja ideia será apresentada no final deste mês em Berlim, na competição Stage Two, o primeiro concurso para as melhores startups de universidades europeias.
Inês Gonçalves é ainda coordenadora do Inno4YUFE, um projecto de inovação e empreendedorismo da YUFE – Young Universities for the Future of Europe, “um consórcio de dez universidades europeias que funciona como uma aliança transnacional que abrirá caminho para o desenvolvimento das universidades do futuro”.
[LER_MAIS]Natural de Ponte da Assamaça, Pombal, Inês Gonçalves quis ser “várias coisas”, desde socióloga, designer de moda até arquitecta. Chegou a fazer o exame que lhe daria acesso ao curso de arquitectura, mas “à última hora” escolheu Ciência Política, licenciatura que fez no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, com o apoio de uma bolsa da Associação Duarte Tarré, a quem diz “dever muito”.
“[Ciência Política] Era uma ideia que andava a amadurecer. Não tinha bem a noção do que seria o curso, mas acreditava que me podia ser útil no desígnio de me envolver em algo que tivesse impacto na vida das pessoas”, recorda Inês Gonçalves.
Para essa consciencialização muito contribuiu a experiência que teve durante o 11.º ano, quando integrou o programa de voluntariado da Comissão Europeia, que cumpriu nos subúrbios de Paris ao serviço da Solidarités Jeunesses, uma organização criada depois da I Guerra Mundial para unir os jovens franceses e alemães. “Quando lá estive, usavam o circo na reabilitação de crianças em risco.”
Sobreviver a um sismo de 7.1
A segunda experiência internacional aconteceu no segundo ano do curso, quando fez Erasmus na Alemanha. No ano seguinte, em 2014, ganhou uma bolsa Ibero-Americana Santander Universidade para fazer um semestre na Universidad Nacional Autónoma de México, acabando por ficar quatro anos neste país. Primeiro como estagiária na Embaixada de Portugal, integrando a equipa da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, e depois como directora de novos negócios da Rebold, uma agência especializada na análise de dados para o desenvolvimento de negócios.
“O México foi uma experiência genial”, afirma Inês Gonçalves, contando que aí viveu aquele que considera o momento “mais marcante” da sua vida, ao sobreviver ao sismo de 7.1 na escala de Richter ocorrido a 19 de Setembro de 2017 na Cidade do México. “Nunca tinha estado numa situação em que as pessoas dependessem tanto umas das outras. A cidade ficou bastante destruída. Na minha rua, a população organizou-se para fazer resgates e para arranjar comida para as forças de segurança, que acorreram ao local”, conta.
Já em 2019 regressou à Europa para fazer o mestrado em Políticas Públicas e Desenvolvimento Humano, com especialização em Governança e Inovação, das universidade das Nações Unidades e de Maastricht, na Holanda. Como orientador da tese teve Jo Ritzen, antigo vice-presidente do Banco Mundial e ex-ministro holandês da Educação Cultura e Ciência.
Findo o mestrado, candidatou-se e foi aceite para trabalhar na Comissão Europeia. Em Novembro do ano passado, mudou-se para Bruxelas, com a capital da Bélgica a viver “um brutal” confinamento. Trabalha na Direcção-Geral de Economia e Finanças, mais concretamente no InvestEU Programme.
Voltar a Portugal não faz, para já, parte dos planos de Inês Gonçalves, que agradece aos pais por “nunca” lhe terem cortado as asas e deixa um conselho aos mais jovens: “explorem o mais possível aquilo de que gostam e tentem conhecer o que há para além dos limites da porta de casa. Como dizia José Saramago ‘enquanto não fores, será sempre tempo de partires’”.