Ana Carreira, Alice Costa, Ana Marques, Joana Lopes e Vitória Gameiro, alunas do 10.º ano do Centro de Estudos de Fátima (CEF) jamais vão esquecer a experiência que tiveram com jovens da Amazónia, que lhes passaram a tarefa de defender o ‘pulmão’ do mundo. As jovens foram seleccionadas pela Assembleia Jovem de Ourém (AJO) para um intercâmbio em Ourém, no Estado Pará, no Brasil, no âmbito do projecto Eu no Mundo AMOURÉM.
Depois de receberem um grupo de estudantes brasileiros, em Março deste ano, foi a vez das cinco alunas viajarem até ao Brasil, de 7 a 15 de Outubro, dando sequência ao intercâmbio promovido pela Assembleia Municipal de Ourém (AMO), presidida por João Moura.
Durante a sua estadia, visitaram várias escolas, a comunidade indígena Tembé Tenetehara, aprenderam práticas de subsistência rural, tais como a produção de alimentos regionais, como tapiocas e açaí, dançaram as músicas locais e navegaram a bordo de um dos barcos típicos. As jovens contam ao JORNAL DE LEIRIA que foram recebidas com “muito afecto, de forma calorosa e com muitos abraços”.
“Partilharam tudo connosco. A qualquer lado onde íamos, davam-nos presentes, coisas simples, mas com valor. Adultos e jovens receberam-nos como se fôssemos amigos há muitos anos”, constatam. Uma das percepções que tiveram é que “eles são pessoas mais simples e são felizes com muito pouco”.
“As escolas são mais pequenas, têm turmas maiores e não têm aulas o dia todo, pois à tarde ajudam nas actividades em casa e no campo”, adiantam. Esta experiência tocou as alunas que admitem que os jovens em Portugal são “mais materialistas”.
A reflexão que fizeram fá-las agora valorizar ainda mais “as relações e o convívio com os amigos e família e não tanto os bens materiais”. “Tudo isto é mais importante do que o consumismo que está muito presente na nossa sociedade”, frisam.
Esta não foi a única aprendizagem que as ‘embaixadoras’ da Amazónia em Ourém trouxeram. A viagem permitiu-lhes explorar a biodiversidade e perceber o impacto que a desflorestação – devido às práticas das pedreiras – e as alterações climáticas estão a provocar na floresta.
“Somos porta-vozes da luta que têm travado para manter a biodiversidade e para comunicarmos às novas gerações a importância de preservar essa biodiversidade e poupar água”, exemplificaram as jovens, ao referir que aquela zona do Brasil tanto sofre com inundações provocadas pelas chuvas torrenciais, como com a seca.
Também contactaram com uma realidade bem diferente: são autossustentáveis e autossuficientes. “Foi muito gratificante e ficámos ainda mais conscientes da necessidade de continuar a ter uma atitude responsável, contribuindo para a redução da pegada ecológica e evitar as alterações climáticas”, afirmaram.
Momentos intensos
Esta mensagem será em breve transmitida aos colegas do 3.º ciclo e ensino secundário do CEF, com a organização de sessões de sensibilização. Para já, as alunas estão a realizar testes e a recuperarem os conhecimentos perdidos.
O contacto com os amigos brasileiros será mantido. Desde a vinda dos jovens a Ourém, que os alunos têm um grupo online em comum, onde mantêm a conversa em dia e já falaram na possibilidade de um dia se voltarem a encontrar. Desenvolvido em colaboração com o município de Ourém do Pará, o projecto Eu no Mundo AMOURÉM visa promover o intercâmbio cultural e sensibilizar para o desenvolvimento sustentável, capacitando os jovens portugueses para que se tornem agentes activos na promoção da sustentabilidade e na preservação ambiental. João Moura afirma que o balanço desta experiência é “totalmente positivo”.
“É um orgulho perceber que as nossas crianças foram muito bem acolhidas e tiveram uma experimentação incrível de vivências, seja a nível cultural, onde participaram em actos de heranças culturais, por exemplo, com os nativos de tribos índias, seja pela gastronomia local que puderam provar, seja de visitação da Amazónia”, constata.
Para o presidente da AMO “foram momentos muito intensos, onde se criaram fortes laços de amizade, com tudo o que os diferencia e os separa, mas que, com as redes sociais, podem continuar a cimentar a relação”.
Segundo revela, a comitiva testemunhou “que os meninos do Brasil têm uma educação muito rica, não só nos conteúdos programáticos como nos conteúdos civilizacionais e de comportamento”.
“Hoje somos um País credor de receber mão-de-obra qualificada e isto pode ser uma janela de oportunidades”, aponta.
Depois de toda a “vivência muito intensa”, João Moura garante que fará “um esforço grande para dar continuidade a este projecto”, mantendo a ligação à Amazónia que tem um município chamado Ourém.
“É com eles que temos de reforçar e cimentar mais relações. No futuro poderemos inclusive trocar experiências na área da saúde, da protecção civil ou da educação. Há todo um conjunto de parcerias que podem ser concretizadas. Demos o mote com crianças porque dá uma ideia de futuro e de continuidade”.