Patrick Silva, natural do concelho de Porto de Mós, é um dos investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC) que pode ter aberto a porta a mais uma etapa na busca por um tratamento eficaz da doença de Machado-Joseph.
Embora rara, esta patologia afecta milhares de pessoas em todo o mundo, muitas delas de ascendência portuguesa.
Os pesquisadores determinaram que a carbamazepina, fármaco utilizado no tratamento da epilepsia, pode também ajudar nesta doença neurodegenerativa, ainda sem cura, que provoca problemas na marcha, no equilíbrio, na fala, na deglutição, nos movimentos oculares, no sono e, eventualmente, a morte.
Patrick Silva, 27 anos, natural da Tremoceira, é doutorando na Universidade de Coimbra, investigador no CNC-UC, tendo-se formado em Farmácia Biomédica, no mesmo estabelecimento de ensino superior.
“Um dos mecanismos da doença, que afectam os doentes, é a concentração de uma proteína ‘mutante’ nos neurónios”, explica o jovem.
Este processo leva à morte destas células nervosas no cerebelo.
“Em traços largos, o que estudámos foi a eliminação dessa proteína acumulada, com o emprego da carbamazepina, fármaco aprovado para outras indicações patológicas, incluindo a epilepsia.”
O composto químico acciona a autofagia, um mecanismo através do qual a célula degrada e recicla organelos e moléculas disfuncionais, permite que esta continue a ser viável, eliminando a proteína “mutante”.
Verificar a validade desta teoria foi a que se propôs o estudo coordenado por Luís Pereira de Almeida, docente da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e investigador principal do CNC-UC, e por Ana Ferreira, do CNC-UC.

A conclusão desta investigação, realizada em modelos in vitro e in vivo da doença, já se encontra publicado na revista científica Neuropathology and Applied Neurobiology.
Segundo um comunicado da Universidade de Coimbra, a equipa resolveu testar a carbamazepina após ter percebido, “numa investigação anterior, que a via da autofagia está desregulada na doença de Machado-Joseph, o que significa que a proteína mutante não é eliminada eficazmente. (…) A [LER_MAIS]estimulação da autofagia, por uma estratégia de terapia génica, promoveu neuroprotecção em modelos da doença”, explica Ana Ferreira, primeira autora do artigo científico.
Nas experiências realizadas com ratinhos, “após a administração da carbamazepina, num regime de tratamento específico, percebemos que o fármaco foi capaz de aumentar a autofagia e promover a degradação da proteína mutante. Além disso, o tratamento reduziu os défices motores e a neuropatologia nos modelos animais de doença”, destaca a investigadora.
Ao demonstrar que a carbamazepina pode ser útil para tratar a doença de Machado-Joseph, e possivelmente outras doenças semelhantes, este estudo representa “um passo em frente na procura por um tratamento eficaz para esta doença neurodegenerativa, apesar de estar longe de ser uma cura”, concluem os autores do estudo.
Além de Luís Pereira de Almeida, Ana Ferreira e Patrick Silva, participaram no estudo Sara Carmo-Silva, José Miguel Codêsso e Clévio Nóbrega, também investigadores no CNC, e Alberto Martinez e Marcondes França Jr., do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Brasil).
O artigo científico pode ser consultado aqui
Essa alteração origina uma forma mutada da proteína ataxina-3 que tende a acumular em forma de agregados no cérebro, conduzindo também a disfunção e morte neuronal.