Foi com uma convicção e com uma certeza que Adriano Neto, presidente da Junta de Amor, saiu da visita à unidade de biogás que a Genia Bioenergy, empresa espanhola especializada em descarbonização, tem a funcionar na COPAV, cooperativa pecuária localizada na província de Córdoba, semelhante àquela que está projectada para a freguesia.
A convicção do autarca é que esta será “a solução para acabar com o problema” com que a povoação se debate há anos, com os campos “inundados de efluentes” suinícolas. A certeza é que “a população tem de ser e vai ser ouvida” no processo.
“Não tenho dúvidas de que este é um bom projecto para a freguesia e para a região. É bom para todos. Estamos a falar de uma unidade topo de gama”, que “vai funcionar bem”, “sem problemas ao nível dos cheiros”, afirmou Adriano Neto, na viagem de regresso a Leiria, depois da visita às instalações da COVAP, que o JORNAL DE LEIRIA acompanhou a convite da câmara.
Além de elementos do executivo da junta e da população de Amor, a comitiva integrou autarcas de Monte Real, que também sofre com os espalhamentos de efluentes, e do Coimbrão, onde será instalada outra unidade de biometano, pela mão da empresa Molgás e que, tal como a da Genia Bionergy, já tem o processo de licenciamento de actividade em curso.
No conjunto, as duas unidades darão resposta “provavelmente a 70% do efluente produzido no concelho”, avança Luís Lopes, vereador do Ambiente da Câmara de Leiria, revelando que “há mais intenções” de investimento.
Organizada pela câmara, em parceria com a Associação de Suinicultores de Leiria e com a empresa espanhola, a visita a Córdoba pretendeu que a comitiva visse no terreno o funcionamento da unidade que, embora ainda em fase de conclusão, já está a produzir biogás. “É tudo feito em circuito fechado”, salientou Amândio Santos, coordenador da instalação da Genia Bioenergy em Portugal.
Localizada a cerca de três quilómetros do centro da vila de Pozoblanco, a unidade da COVAP tem capacidade para tratar até 500 toneladas de resíduos por dia (efluentes pecuários, sobretudo de bovinos, e material do matadouro e das fábricas de lacticínios da cooperativa). Da sua valorização, resulta a produção de biogás para consumo próprio da cooperativa, que tem mais de 4.500 produtores associados, e de bio-fertilizante. O projecto contempla ainda uma central de biomassa e outra fotovoltaica.
Licenciamento em curso
“A unidade de Leiria será maior e mais tecnológica, com tecnologia especializada para o chorume de porco”, explica Gabriel Butler, CEO da Genia Bioenergy, frisando que o investimento a fazer em Amor ronda os 35 milhões de euros, ou seja, mais 10 milhões do que o inicialmente previsto.
O objectivo é concretizar um projecto “transformador” e “um exemplo de sustentabilidade”, que “transformará um problema ambiental em recursos: biogás [a partir do qual será produzido biometano], água reutilizável e composto agrícola”.
O pedido de licenciamento de actividade da unidade foi iniciado há cerca de duas semanas e, apesar de ainda não haver decisão sobre a necessidade de avaliação de impacto ambiental, o estudo já está a ser trabalhado.
“É importante salvaguardarmos os impactos todos, com ou sem exigência de estudo”, alega Amândio Santos, que antevê que “a grande dificuldade” seja o licenciamento. A expectativa é que o processo administrativo demore “cerca de nove meses” e que a obra seja executada num prazo “entre 12 a 15 meses”.
Reconhecendo que o histórico do problema pode levantar dúvidas quanto à concretização do projecto, Luís Lopes acredita que desta vez será diferente. Por um lado, o contexto internacional pôs em evidência a necessidade reduzir a dependência energética do exterior, por outro, trata-se de uma empresa com now how na área e de um investimento privado, “o que vincula as pessoas”.
Também David Neves, presidente da Associação de Suinicultores de Leiria e da Recilis, considera que “estão reunidas todas as condições” para que este seja “um projecto de sucesso, que vai mudar significativamente a visão que se tem do sector”. O dirigente frisa que a tecnologia a usar “já está testada” e que “95% dos suinicultores da região” assumiram o compromisso de entregar o efluente.
O projecto conta ainda com a adesão de produtores avícolas e de ovos da região. Para “dar transparência” ao processo, estão previstas sessões de esclarecimento sobre os projectos e uma visita semelhante com representantes da freguesia do Coimbrão a uma unidade da Molgás.
A unidade de biometano prevista para Amor terá capacidade para tratar 400 mil toneladas de efluente agropecuário (suinícola e avícola) por ano. Da sua valorização, resultarão 300 mil toneladas de bio-fertilizantes e o reaproveitamento de água para apoio ao combate aos fogos, rega e uso nas explorações. Segundo dados revelados pelos promotores aquando da apresentação do projecto, a unidade produzirá biogás, que será transformado em biometano, suficiente para suprir “30% das necessidades de gás” do concelho de Leiria, e contribuirá para uma redução de CO2 na ordem das 300 mil toneladas/ano. O gás produzido será injectado na rede, que tem condutas próximas do local onde será construída a unidade