PUBLICIDADE
  • A minha conta
  • Loja
  • Arquivo
  • Iniciar sessão
Carrinho / 0,00 €

Nenhum produto no carrinho.

Jornal de Leiria
PUBLICIDADE
ASSINATURA
  • Abertura
  • Entrevista
  • Sociedade
  • Saúde
  • Economia
  • Desporto
  • Viver
  • Opinião
  • Podcasts
  • Autárquicas 2025
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Abertura
  • Entrevista
  • Sociedade
  • Saúde
  • Economia
  • Desporto
  • Viver
  • Opinião
  • Podcasts
  • Autárquicas 2025
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Jornal de Leiria
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
Home Opinião

Invisibilidades

Cláudia Camponez, psicóloga educacional por Cláudia Camponez, psicóloga educacional
Outubro 10, 2022
em Opinião
0
0
PARTILHAS
0
VISUALIZAÇÕES
Share on FacebookShare on Twitter

Um dia destes, ao chegar a uma escola, parei por breves instantes a observar quatro adolescentes que jogavam basquetebol no recreio. Nenhum deles me viu. Para além de os olhar do lado de fora do muro, a urgência de encestar não lhes permitia distrações com espetadores. Teria sido giro ver quatro jovens despojados de Wi-Fi a interagir verdadeiramente, coisa rara nos dias que correm, mas aquela cena deixou-me triste. Um dos rapazes estava, apenas e claramente, a fazer número. Reclamava para si a posse de bola, uma vez estar sempre em posição estratégica, mas de todas as vezes que o fez foi ignorado. Ele estava lá, mas ninguém o via na verdade! O que estaria ele a sentir por trás do sorriso que procurava manter? O que o faria permanecer ali? O que levaria depois, em pensamento, para a sala de aula? O que falaria ele com os seus botões?

Não ser visto nem achado também é uma forma de agressão. É diminuírem-nos de tal forma que nos tornamos invisíveis. É ler nas entrelinhas que não há espaço para nós. É criar perceções negativas de nós próprios e do mundo. É exclusão social e acentuação das fragilidades e isso tem um impacto gigantesco nas nossas vidas, muitas vezes com repercussões que se generalizam e perpetuam em vários contextos.

Não gosto da palavra bullying, nem gosto deste tema, mas em meia dúzia de dias deparei-me com três situações que apesar de não representarem o verdadeiro bullying, repetido e intencional, mexeram com as minhas entranhas. Para além da história do basquetebol, duas crianças, em contexto de consulta, confessaram: “não gosto de meninos gordos” e “não brinco com os meninos novos porque já tenho amigos”.

Apoquenta-me pensar que seja assim, que não nos vejamos todos. Apoquenta-me saber que no sítio da brincadeira resida sofrimento e que o medo e a insegurança silenciem as gargalhadas inatas dos mais jovens. A aprendizagem só toma lugar se nos sentirmos em paz com o que nos rodeia. Já bastam os fantasmas que trazemos cá dentro e as distrações inerentes à sala de aula, quanto mais sentir que não se pertence ao grupo e experimentar sentimentos de rejeição constantes. Na realidade, a aprendizagem até é o menos. A saúde psicológica/emocional é que fica em maus lençóis e sem ela o caminho é demasiado sombrio.

Acho que já vos disse que detesto quem detesta e que abomino quem despreza. Bem, na verdade não é tão assim. Sou mais do tipo de tentar perceber o detestável e o desprezível, mas toda a situação que promova a não aceitação de uma criança enfurece-me e obriga-me a chamar o autocontrolo à razão, não é fácil dar uma resposta ponderada a comportamentos agressivos, incendeiam-nos com emoções fortes.

Todos precisamos de ajuda numa situação de discriminação, de violência ou de exclusão. E quando digo todos, somos mesmo todos. Estes fenómenos não resultam apenas de características individuais. Infelizmente, também são promovidos pela forma como a sociedade se organiza do ponto de vista político, económico e social, situação que cria condições para a desigualdade de poder e de acesso a recursos.

As crianças observam e aprendem. E todos nós já fomos crianças. Diferenças socioeconómicas, questões étnicas e ligadas ao aspeto físico, orientação sexual, resultados académicos, diversidade funcional, normas subjacentes às questões de género… tudo se envolve em preconceitos e se incute, mesmo que inconscientemente. Somos modelos das gerações futuras. Temos o dever de nos lembrar disso.

Basta alguém ser “diferente” e fugir à definição social de norma para ficar exposto a comportamentos e comentários discriminatórios. O bullying surge como consequência e reflexo da existência de hierarquias sociais de poder, sendo também utilizado como mecanismo para a perpetuação dessas mesmas desigualdades e hierarquias. Por isso, enquanto a sociedade não muda, mudemo-nos a nós próprios e ajudemos os mais novos a ver o outro como igual a si. As escolas podem implementar programas de prevenção e combate ao bullying, como o disponibilizado pela Associação Plano i, e receber formação através da associação No Bully Portugal, por exemplo. Em casa, a estratégia passa pela promoção do diálogo e comunicação assertiva, pela consciencialização dos nossos privilégios e, mais uma vez, pela tolerância, empatia e capacidade de reflexão.

O jovem que jogava basquetebol é autista. Trabalha semanalmente no sentido de conseguir desenvolver a sua reciprocidade social. Ele estava a tentar, mas ninguém se importou com isso.

Etiquetas: Cláudia Camponez
Previous Post

Prosperidade sem crescimento

Próxima publicação

Cinema e TV | Isto é uma coisa a ver: Blonde

Próxima publicação

Cinema e TV | Isto é uma coisa a ver: Blonde

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

  • Empresa
  • Ficha Técnica
  • Contactos
  • Espaço do Leitor
  • Cartas ao director
  • Sugestões
  • Loja
  • Política de Privacidade
  • Termos & Condições
  • Livro de Reclamações

© 2025 Jornal de Leiria - by WORKMIND.

Bem-vindo de volta!

Aceder à sua conta abaixo

Esqueceu-se da palavra-passe?

Recuperar a sua palavra-passe

Introduza o seu nome de utilizador ou endereço de e-mail para redefinir a sua palavra-passe.

Iniciar sessão
Nenhum resultado
Ver todos os resultados
  • Opinião
  • Sociedade
  • Viver
  • Economia
  • Desporto
  • Autárquicas 2025
  • Saúde
  • Abertura
  • Entrevista

© 2025 Jornal de Leiria - by WORKMIND.