Os gastos dos estudantes, sobretudo em alojamento, representam em média 80% do impacto económico directo dos institutos politécnicos nas regiões onde estão inseridos (ver quadro em anexo clicando no lado esquerdo superior) .
A conclusão é do estudo O impacto económico dos institutos superiores politécnicos em Portugal, do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), divulgado na semana passada, que analisa os impactos directos e indirectos da presença de 12 destes institutos nas regiões onde se inserem (com excepção dos Politécnicos de Coimbra, Lisboa e Porto).
Mais de 61 milhões de euros por ano é quanto valem os estudantes do Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria) para a região onde está inserido, um dos valores mais elevados entre os institutos analisados – Beja, Bragança, Castelo Branco, Cávado e Ave, Guarda, Leiria, Portalegre, Santarém, Setúbal, Tomar, Viana do Castelo e Viseu – que se explica por Leiria ter o instituto com maior número de alunos e um dos valores de encargos mensais médios por estudantes mais alto: os 554 euros gastos em média pelos alunos de Leiria só são superados nesta amostra pelos 587 euros médios em Setúbal.
Segundo o estudo, que analisa dados de 2017, o impacto directo das instituições corresponde aos gastos dos docentes, dos funcionários, dos estudantes e da própria instituição, de onde se excluem salários, por exemplo, e se contabilizam apenas os gastos correntes de bens e serviços em empresas locais.
No total dos gastos anuais, o Politécnico de Leiria tem um impacto directo nas regiões onde as cinco escolas estão inseridas de 76.163 milhões de euros. Num estudo semelhante encomendado pelo CCISP, em 2014, o IPLeiria tinha um impacto directo de 101.008 milhões de euros.
Uma das razões que podem explicar esta diminuição do valor é a queda do número de estudantes, de 12.102 para 10.914 alunos. Para além do impacto directo, o estudo analisa também os efeitos económicos “indirectos e induzidos” pela presença do IPLeiria na região, que ascendem a 129 milhões de euros.
Estes correspondem “à propagação/amplificação pela economia local do impacto da despesa inicialmente efectuada”, ou seja, ao incremento da actividade económica local decorrente das despesas efectuadas pelas empresas que fornecem bens e serviços à comunidade do ensino superior.
O documento revela ainda que o IPLeiria tem um peso de 4,18% do Produto Interno Bruto (PIB) regional, é o 2.º maior empregador na região onde se insere, tendo criado 4218 postos de trabalho e absorvendo 4,34% da população activa.
Por aluno, e em termos gerais, o impacto directo estimado nas regiões é de 6.850 euros, que se traduz num impacto total de 11.645 euros gerado por esse mesmo estudante.
O estudo considerou os gastos dos estudantes que [LER_MAIS] mudaram para a região para estudos (o chamado efeito de exportação) e dos estudantes que, sendo da região, iriam estudar para outra IES fora da região, caso o politécnico não existisse (efeito de substituição de importações).
No Politécnico de Leiria o efeito de exportação é de 59,1% e o efeito de substituição de importação de 68,5%. No que diz respeito aos gastos de docentes e não docentes, o estudo revela ainda que, incluindo os agregados familiares, os gastos médios dos professores são de 1827 euros mensais e os dos funcionários de 942,5 euros mensais.
Cada euro de investimento público nos institutos superiores politécnicos é transformado por estas instituições em pelo menos dois euros de actividade económica, constata ainda o estudo, que revela que o IPLeiria tem o segundo melhor resultado no retorno do investimento público, que multiplica por 4,68 cada euro investido.
Para Pedro Dominguinhos, presidente do CCISP, “quando um euro se transforma em três ou em quatro ou em cinco, na realidade, significa que as instituições têm uma capacidade muito forte”.
O estudo procurou analisar o impacto económico de uma instituição de ensino superior numa dada região, com o objectivo de medir o aumento do nível de actividade económica da região causado pela presença dessa instituição.
“Para este tipo de instituições é reconhecido que uma parcela significativa dos benefícios económicos gerados na economia local provém de fontes que são exteriores às instituições de ensino superior (IES), mas que lhes estão directamente associadas”, refere o documento.
No presente estudo foi adoptada a abordagem pelo lado da procura, focando-se nos impactos de curto prazo e nos efeitos das despesas de aquisição de bens e serviços da própria IES e dos indivíduos com ela directamente relacionados.
“Deve ser salientado que existe uma outra abordagem, pelo lado da oferta, que pode ser vista como complementar à adoptada, em que se procura medir o impacto sobre a formação de capital humano, os efeitos de disseminação da investigação e desenvolvimento, a transferência de tecnologia, a capacidade de atracção e/ou criação de novas empresas, entre outros.”
O CCISP tem em preparação outro estudo, que vai também medir o impacto da transferência do conhecimento produzido por estas instituições para a sociedade, que Pedro Dominguinhos considera ser uma questão “crucial, bem como o valor económico dos diplomados”.
Orçamento mais digno para premiar mérito
Perante as conclusões do estudo, Rui Pedrosa concorda que o financiamento deveria ser adequado ao impacto social e económico que instituto tem na região e no País.
“As instituições como o Politécnico de Leiria, que assumem a sua missão em pleno, seja no ensino, na inovação, na partilha e valorização do conhecimento, na internacionalização, deveriam ter um orçamento mais digno e mais compatível com o que fazem, que reconhecesse e premiasse o mérito e a actividade desenvolvida”, sublinha.
Mas, segundo o presidente do IPLeiria, “o que acontece é antes o prejudicar do Politécnico de Leiria, e da região, porque não lhe permite posicionar-se num mercado competitivo global”, porque , “retira capacidade de investimento” e “condiciona o fundamental papel de colocar o conhecimento ao serviço da sociedade”.
Os números revelados demonstram que os Politécnicos “são cada vez mais determinantes no desenvolvimento das regiões, assumindo em pleno a sua função, na formação, inovação, partilha e valorização do conhecimento, e na internacionalização das regiões”.