Este verão não é o meu. Esta história não é a minha.
Nesta varanda tropical onde me sento agora, reconheço apenas a toalha e os calções. Vieram numa mala com excesso de bagagem de um longo e penoso inverno.
Para dizer a verdade, agora que me sento na varanda equatorial, já não sei dizer o que pesava mais. Se a tralha, se o inverno. Este corpo não era o meu. Esta história não era a minha.
Às vezes vivemos tempo de mais em invernos gastos. Rarefeitos. Algures, a ideia de um verão imaginado que quanto mais depende de nós, mais longe fica.
Agarramo-nos a medos e (in)seguranças vazias no quentinho da lareira de sonhos hibernados. Adormecidos como nós. Ligeiramente confiantes de que chegará o tempo de fazer tudo em dias sem tempo para nada.
Nesta varanda tropical, não consigo deixar de pensar no que me levou a querer começar tudo de novo. Se o desejo, se a necessidade. Se a tristeza, se a felicidade.
Começar de novo é um parto difícil. Mas será, porventura, tão prometedor como nascer pela primeira vez. Vistas bem as coisas, não há ser humano que chegue ao mundo sem desatar num desconfortável berreiro de quem chora sem saber ao que vem.
Onde vai. É igual para todos. [LER_MAIS] A vida começa com choro mesmo. Perdido e estridente. Indefeso e desacomodado. Não sei em que parte do caminho construímos a ilusão de que seria diferente depois.
Nascer dá luta. Mas para valer a pena, devíamos repetir a ousadia em qualquer parte da vida. Com olhos capazes de gostar do mundo como quem vê pela primeira vez.
Com a coragem de deixar invernos, estações e apeadeiros onde nos demoramos sem sentido por desconhecer que o destino está sempre num tempo ou num espaço onde não planeámos a viagem.
Hoje, a certeza de que este verão é o meu. A certeza de que esta história é a minha.
Como se eu própria tivesse ficado este tempo todo aqui sentada, nesta varanda tropical, à espera de mim mesma.
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