O primeiro aniversário do ingresso da Leiria Cidade Criativa da Música na Rede de Cidades Criativas da UNESCO foi marcado por várias actividades, no fimde- semana, mas uma delas foi a inauguração de duas esculturas interactivas de arte pública, colocadas na Praça Eça de Queiroz.
São o resultado de um desafio proposto pelo artista Pedro Lino, que a autarquia abraçou, para a criação de duas esculturas em pedra, tendo a música como tema.
Baptizou-as como “Bancos de Som”, adivinhando-lhes futuras brincadeiras de crianças e tardes passadas em família a explorá-las. Além dos seus significado e significante, assumem uma função prática, pois podem ser utilizadas como bancos ou como verdadeiros instrumentos musicais; um metalofone e uma harpa.
“Foi uma experiência nova para mim, porque jamais tinha feito algo do género”, conta o autor, que é natural das Cortes (Leiria), freguesia onde ainda vive e tem a sua oficina. Reconhece que dar uma função musical às suas peças foi a parte mais trabalhosa. “Tive de fazer pesquisa dos materiais, confirmar que o conceito resultava e estive até ao último minuto na dúvida de saber se tinha boa acústica.”
Pedro Lino estudou Cantaria Ornamental na extinta Escola de Artes e Ofícios da Batalha, e isso deu-lhe o conhecimento necessário para executar estas duas grandes peças, a partir de blocos de mármore “pele de tigre” de Estremoz, uma pedra rija, que o artista classifica como “lindíssima”.

Ao longo de dois meses, as peças foram esculpidas a golpes de cinzel e serra, a fim de lhes retirar o miolo, com o intuito de criar caixas acústicas de ressonância. Lino afirma que, agora, gostaria de ver o interior “miolo” acabado e colocado ao lado dos “Bancos de Som”, numa espécie de referência visual ao processo e como forma de enriquecer a mensagem não verbal que quis transmitir.
[LER_MAIS]Embora reconheça uma certa atitude “camaleónica” ao seu trabalho, o estilo de Pedro Lino é marcado por linhas limpas, arestas vivas, planos rectos e formas cúbicas.
Custa-lhe determinar quando uma peça está concluída, um traço que, afinal, é comum à maioria dos criativos de primeira água. “Se pudesse continuar a trabalhar, continuava. Estou sempre à espera de conseguir alcançar um resultado ainda melhor.”
Mimosear antigas pedras
Logo no início da carreira, uma especialização em Conservação e Restauro, em Lisboa, haveria de ditar o percurso profissional do criativo.
“Ingressei na In Situ, empresa de restauro e conservação de âmbito nacional”, recorda. Pelas suas mãos passaram e foram acarinhadas e tratadas as pedras de antigos mosteiros, conventos, igrejas e monumentos de outras eras de grande interesse histórico e cultural. A experiência acabaria por ditar um voo a solo, com a abertura da sua própria empresa de restauro e conservação, a Pigmento Efémero – Arte e Restauro de Património Histórico e Cultural.
“Costumo trabalhar para outros artistas, vários particulares, empresas, museus, Parques de Sintra e DGPC. Aparte isso, dedico-me à escultura da minha própria criação”, resume. Recentemente, para colocação em espaços públicos, já lhe pediram para esculpir um menir de grandes dimensões e já deu forma a um cavalo marinho em metal e cerâmica.
“Desde que comecei a trabalhar a pedra, que faço esculturas. Faço-o para me sentir bem. Participei em várias exposições, colectivas e individuais, em todo o País.”
“Para um dos conventos de Fátima, fui desafiado a dar forma a um Cristo, com cerca de três metros em calcário de Fatima e que alia linhas convencionais, estilizadas, sem grandes pormenores”, descreve.
A título de curiosodade, recentemente, fez o restauro da obra A Caminho da Cidade, da autoria de Anjos Teixeira (filho), após uma das mulheres que nela figuram ter sido derrubada por um veículo.
Montpellier, em França, e a Ilha do Sal, em Cabo Verde, são dois dos locais fora de fronteiras onde podemos encontrar esculturas de arte pública assinadas por si.
Como quase todos os artistas nacionais, o trabalho na empresa consome-lhe a maioria do tempo, pois há obrigações a cumprir e contas para pagar. “Sempre que tenho um tempo livre, aproveito para investir nas minhas criações.”
Encontra-se, neste momento, ocupado a realizar o restauro dos vitrais da fachada principal do Mosteiro de Alcobaça.
Devido ao estado avançado de degradação, terão de ser retirados, restaurados e recolocados.
É um processo moroso, com técnicas próprias de mestre artífice, usadas desde há séculos que, ainda hoje, na sua oficina na Reixida, Pedro Lino continua a utilizar.