Jogou nas camadas jovens da União da Serra e do CD de Fátima, sua terra natal, mas cedo percebeu que não seria como futebolista que iria “fazer vida”. Formou-se na Escola Superior de Desporto de Rio Maior e enveredou pela carreira de treinador. Depois de algumas experiências no futebol nacional, em clubes como o Atlético Ouriense, Fátima e Tourizense, aventurou-se além-fronteiras.
O primeiro destino, com apenas 26 anos, foi a Tanzânia. Seguiram- -se as Maldivas, Finlândia, Tailândia, Índia e, mais recentemente, Angola, onde, no ano passado, se sagrou campeão nacional, como adjunto do Petro de Luanda.
“É muito difícil trabalhar profissionalmente no futebol em Portugal. O que tenho feito é aproveitar as oportunidades, que me têm permitido conhecer novos sítios e explorar culturas diferentes”, diz Joaquim Valinho.
A primeira aventura internacional do técnico aconteceu em 2016, a convite de Bernardo Tavares, de quem tinha sido adjunto do Tourizense e que, entretanto, havia rumado à Tanzânia para comandar o African Lyons.
Consciente de que era um projecto “arriscado”, porque, apesar de disputar a primeira liga, a equipa era “muito jovem” e dispunha de um orçamento “bastante baixo”, Joaquim Valinho aceitou o desafio.
Em termos desportivos, a experiência não correu de feição, com as dificuldades financeiras do clube a ditarem a dispensa dos técnicos seis meses depois. Mas a nível pessoal foi enriquecedor.
“A Tanzânia é um país com um nível de pobreza tremendo, mas ver a felicidade daqueles miúdos a jogar descalços na rua faz-nos repensar o que é, de facto, importante para sermos felizes.”
Parar os treinos para a oração
Estava em Portugal há pouco mais de um mês quando Bernardo Tavares o convida, de novo, para seu adjunto, agora nas Maldivas e para treinar o New Radiant Sport Club, uma das principais equipas do país, formado por 1200 ilhas no oceano Índico.
No clube, acumulava várias tarefas. Além do apoio ao técnico principal, Joaquim Valinho coordenava a área da formação, o que lhe permitia ter uma visão “diferente” da evolução dos atletas, “menos focada nos resultados”.
Em paralelo com o futebol, teve, mais uma vez, a oportunidade de contactar com a diversidade cultural, num país profundamente muçulmano e onde o turismo tem um forte impacto, sobretudo devido aos destinos paradisíacos.
A viver na capital Malé, uma ilha que atravessava em pouco mais de 20 minutos a correr, Joaquim Valinho conviveu também com os hábitos religiosos enraizados na sociedade. “Chegávamos a parar os treinos quando era a chamada para reza.
Os jogadores não iam à oração, mas naquele momento parava tudo. Outras vezes, em dias de jogos, fazíamos o aquecimento mais cedo para que pudessem fazer a reza. Temos de nos adaptar e encarar estas diferenças com espírito aberto.”
Ficou cerca de oito meses nas Maldivas, acabando por regressar a Portugal. Seria, no entanto, por pouco tempo. Voltou a fazer as malas, agora com destino à Finlândia para a sua primeira experiência como treinador principal do Peimari, um clube criado numa pequena aldeia numa perspectiva também de desenvolvimento comunitário.
Joaquim Valinho, que foi substituir um outro português que tinha estado seis anos no clube, treinava a equipa principal e os juniores, enquanto os restantes escalões eram assumidos por dois técnicos também lusos.
“A diferença é brutal. Uma pontualidade e uma organização extremas e um clima completamente diferente. Cheguei em Novembro. Amanhecia às 10 ou 11 horas da manhã e às 14 horas já o sol se estava a pôr”, relata o técnico, salientando também o carácter “mais frio” dos nórdicos.
No final da época, e apesar de se ter sentido “muito bem acolhido”, decidiu sair, uma opção que, admite, se deveu às saudades da vertente mais competitiva do futebol. “Vinha de projectos profissionais, com a pressão dos resultados. Ali, era um projecto completamente diferente, mas, sem dúvida, também muito enriquecedor”, reconhece o técnico.
Campeão em Angola
A Ásia apareceu, de novo, no caminho de Joaquim Valinho, agora para treinar na Tailândia. Seria, contudo, uma curta passagem, porque o clube não tinha condições financeiras para assumir a equipa técnica que constituiu, com três portugueses e um brasileiro.
Permaneceu, depois, quase um ano em Portugal, até que Bernardo Tavares o chamou para Goa (Índia). Era aí que estava quando surgiu a pandemia de Covid-19.
“Num momento treinávamos normalmente. Na semana seguinte estávamos confinados em casa, com o espaço aéreo fechado”, conta, revelando que acabaram por conseguir regressar ao País num voo de repatriamento alemão, com a ajuda do consulado português.
Já em 2020, surge o convite do Petro de Luanda para “observador e analista”. Joaquim Valinho fica até ao final da temporada nessas funções, mas na seguinte (2021-22) passa a adjunto de Alexandre Santos na equipa principal, que, doze anos depois, voltou a festejar o título de campeão nacional, venceu a taça de Angola e chegou às meias-finais do liga dos campeões africana.
“Foi uma época fantástica”, afirma Joaquim Valinho, que passou as últimas semanas em Portugal em estágio com a equipa, num momento em que o campeonato angolano está parado devido à realização do Campeonato Africano da Nações. Com a primeira volta cumprida, o Petro de Luanda segue na liderança e já garantiu o acesso à fase de grupos da liga dos campeões.
Extra-futebol, o técnico fala de Luanda como uma cidade com “um ritmo tremendo” e de Angola como um país “com desigualdades enormes, com uma pobreza que, às vezes, assusta, politicamente dividido e com pessoas muito acolhedoras”.