Natural do Carriço, no concelho de Pombal, Luís Oliveira venceu a última edição do Forskar Grand Prix, considerada a maior competição de comunicação científica da Suécia, que junta investigadores de todo o país, desafiados, em apenas quatro minutos, a apresentarem o seu trabalho científico da forma “o mais envolvente e divertida” possível.
O jovem de Pombal levou o desafio à letra e encarnou o papel de “um hacker das células”, para explanar a investigação que tem desenvolvido na área da “reprogramação” de células, de forma a usá-las no combate ao cancro.
“O nosso sistema imunológico existe para proteger o organismo de doenças, mas o cancro é um inimigo inteligente que encontra maneiras de se esconder. A investigação que temos desenvolvido vai no sentido de fazer a reprogramação de células. Ou seja, pegar nas células tumorais e transformá-las em células imunitárias”, explica Luís Oliveira.
Segundo o jovem, trata-se de “virar o cancro contra ele próprio, levando as células tumorais a auto-aniquilarem-se”. O passo seguinte é usar “a possibilidade de reprogramação dessas células no desenvolvimento de terapias” aplicadas ao tratamento de doenças oncológicas, adianta Luís Oliveira, que acredita que a investigação em curso pode ser “bastante promissora”.
O grande objectivo, frisa, é tentar que o trabalho laboratorial seja transposto para a componente clínica, com terapias que ajudem os pacientes. “O cancro é um flagelo, mas também se está a trabalhar muito na busca de soluções”, observa o cientista, de 28 anos.
Paixão pela investigação
A mudança para a Suécia, em Setembro de 2021, surgiu de um desafio lançado pelo seu orientador de mestrado, que estava a começar um grupo de investigação na Universidade de Lund, cidade localizada no sudoeste do país, perto de Malmö.
“Pareceu-me uma boa opção para o doutoramento”, diz Luís Oliveira, que mantém a ligação à Universidade de Coimbra. Foi, aliás, nesta instituição que se licenciou em Bioquímica, uma fase da sua formação que lhe permitiu “confirmar” que a investigação é a sua praia. Segundo conta, durante o ensino secundário, que cumpriu na escola da Guia, em Pombal, ainda ponderou seguir Medicina.
“Nas série americanas, como a Anatomia the Grey, a Medicina e a investigação andam de mãos dadas, mas a realidade portuguesa, e até europeia, não é bem assim. A Medicina está focada na prática médica. Não há muita margem para a investigação”, refere Luís Oliveira, que acabou por optar por Bioquímica, juntando a Química e a Biologia, “as duas áreas que mais gostava”.
À licenciatura, seguiu-se o mestrado em Biologia Celular e Molecular, aprofundado o gosto pela investigação. Está, actualmente, na fase final do doutoramento e não pensa, para já, regressar a Portugal, lamentando que os recursos disponíveis para a ciência no País não acompanhem a qualidade dos nossos investigadores, que “ombreiam com os melhores”. “Faltam-nos recursos, mas não nos falta talento.”