Das primeiras vezes que votou, Pedro Vazão fê-lo por pressão dos pais e, admite agora, “inconscientemente”, sem saber muito bem as razões da escolha. Hoje, aos 28 anos, assegura, já “é diferente”.
A entrada no mercado de trabalho, primeiro como militar na Força Aérea e depois na indústria dos moldes, aproximou-o da política. “Penso mais no futuro e sei que eles [os políticos] e as decisões que tomam influenciam a minha vida, de forma mais ou menos directa. É importante que tenhamos uma palavra a dizer na escolha de quem nos vai representar”, afirma o jovem de Porto de Mós, reconhecendo, no entanto, que a “maioria” dos seus amigos e conhecidos “não ligam nada” ao assunto e não participam sequer nas eleições.
À pergunta de quem é a culpa desse desinteresse, Pedro Vazão não hesita: “É de todos”, a começar pelas famílias, passando pela escola e pelos políticos, sem deixar de fora os próprios jovens. “Em casa, vai-se passando a mensagem de que os políticos são todos iguais. Nas escolas não se fala de política e, muito menos, de forma cativante”, alega, frisando que a “imagem que os políticos passam” também não abona a seu favor.
“Prometem muito mas cumprem pouco”, complementa Eliana Correia que, nestas autárquicas, pode votar pela primeira vez. No entanto, a jovem, residente em Porto de Mós, já decidiu que não irá exercer esse direito. Porquê? “A política não me diz nada. Não sei em quem votar e, como desconheço quem são os candidatos, o mais sensato é não votar”, responde, reconhecendo, contudo, que a “política é importante”. Mas, “como ainda não me influencia directamente, passa-me ao lado. Talvez quando começar a sentir na pele as decisões dos políticos me venha interessar-me mais”.
Eliana Correia não está sozinha neste seu desinteresse pela política. Pelo contrário. A pouco mais de uma semana para as eleições autárquicas, o JORNAL DE LEIRIA foi ouvir jovens da região, com o objectivo de perceber se tencionam exercer o direito de voto e se conhecem ou sabem quem são os candidatos à câmara ou à junta de freguesia da sua terra.
Entre respostas que revelam total desconhecimento dos nomes, há quem identifique alguns dos candidatos dos partidos com maior representação. A principal razão apontada pelos inquiridos para esse desconhecimento é o desinteresse pela actividade política e a descrença nos partidos.
Menor integração, menos participação
As opiniões expressadas pelos jovens ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA estão em linha com os resultados de vários estudos sobre a ligação entre os mais novos e a política. Em 2015, o estudo Emprego, mobilidade, política e lazer: situações dos jovens portugueses numa perspectiva comparada, encomendado pelo então Presidente da República, Cavaco Silva, revelava que cerca de 57,3% dos jovens entre os 15 e os 24 anos não tinham nenhum interesse por política e apenas 8% afirmavam interessar-se “bastante” pelo assunto.
[LER_MAIS] Sobre a pertença a partidos, os autores do estudo, elaborado por investigadores do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), referiam “valores objectivamente muito baixos”, que oscilavam entre 1 e 2,7%.
Quanto aos tipos de actividade política já exercida, 6,6% daqueles jovens responderam “assinar uma petição”, seguindo-se as opções “dar dinheiro” ou “recolher fundos para uma iniciativa social ou política”, com 6,2%.
Este não é, no entanto, um problema exclusivo de Portugal, nota Pedro Magalhães. Investigador auxiliar do ICS-UL, frisa que “em todo o mundo os jovens adultos tendem a participar menos nas eleições”, situação que, “em grande medida”, se deve à sua “menor integração social e política”.
O investigador frisa que, como “os jovens têm maior mobilidade geográfica que os mais velhos e raízes menos sólidas na comunidade onde vivem”, sendo que “muitos ainda não trabalham e não pagam impostos e estão dependentes dos pais”, isso faz com que “o voto e as suas consequências ainda não sejam sentidos como algo que pode ter efeito nas suas vidas e nas vidas dos que os rodeiam”.
Por isso, “é natural que tendam a dar menos valor” às eleições, também porque “não tiveram tempo suficiente para se identificarem com os partidos existentes e criarem uma identidade política sólida”, alega Pedro Magalhães.
A essa razão, Maria José Brites, investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho e professora na Universidade Lusófona do Porto, acrescenta uma outra: “no caso português, não há uma aposta nas questões da cidadania de forma estrutural”.
Um “défice histórico” que, no seu entender, “é um contributo negativo assinalável para uma evolução mais favorável da participação cívica”, sobretudo, na política convencional. “Existem muitas formas de participar na sociedade.
Porém, temos uma tendência para considerar que a participação na política tradicional deve ser ou é mais valorizada”, nota Maria José Brites, sublinhando que “as sociedades em que vivemos fomentam, de alguma forma, isso mesmo”, com “a ideia arraigada de que só depois dos 18 anos, altura em que se pode votar, é que os jovens passam a adultos e a poderem exercer a sua vida política, o que não é verdade”.
“Seria muito importante desconstruir esta ideia de que há um clique transformador aos 18 anos”, defende. Autora de estudos sobre participação política, Maria José Brites refere que a investigação que tem produzido revela a “emergência de um capital cívico importante”, nomeadamente “em jovens que vivem em ambientes ricos no sentido do interesse e da conversa sobre notícias, seja na família, um reduto ainda muito valioso, com os amigos ou na escola”.
Essa é também a percepção de Pedro Magalhães. “Se na política convencional (tudo o que tenha a ver com partidos, manifestações, contactos com políticos) a participação dos jovens é mais baixa”, o mesmo não acontece “nalgumas formas de participação política menos convencional, como assinar petições, boicotar produtos por razões sociais e políticas ou mesmo recolher fundos para causas”, constata o investigador.
Considerando “a participação cívica num sentido mais lato — em associações e voluntariado, por exemplo — os jovens, especialmente os jovens adultos com idades entre os 25 e os 34 anos, tendem a ser nalguns casos mais activos que os mais velhos”, conclui Pedro Magalhães.
1 – Vai votar nestas eleições autárquicas?
2 – Conhece os candidatos da sua área de residência?
Andreia Nunes, 20 anos, Marinha Grande
1 – Não.
2 – Nem os conheço. Ouço falar sobre política, mas não me interessa.
Ana Sofia Santos, 24 anos, Marinha Grande
1 – Não. Nem nunca votei.
2 – Conheço pessoas do + Concelho, da Vieira, porque são parentes do meu filho. São a Elsa e o Vítor.
Rute Costa, 20 anos, Batalha
1 – A primeira vez que podia votar, não o fiz porque ainda não tinha cartão de eleitor. Agora, talvez vá, mas não está decidido.
2 – Conheço uma ou duas pessoas que integram a lista à junta, mas não sei quem são os candidatos à Câmara.
João Pires, 19 anos, Porto de Mós
1 – Vou. Será a primeira vez. A política não me interessa muito, mas sei que influencia o nosso futuro.
2 – Para a Câmara, sei que concorre Jorge Vala, Albino Januário e outro senhor que não me recordo o nome. Para a junta, não conheço nenhum.
Juliana Macedo, 18 anos, Porto de Mós
1 – Não. Ligo pouco à política.
2 – Só conheço o candidato [à Câmara] que é de Alqueidão, Rui Marto.
Raquel Silva, 19 anos, Porto de Mós
1 – Sim.
2 – Os da Junta de Freguesia mais ou menos. Da Câmara tenho uma vaga ideia mas não conheço bem. Não acompanho a política.
Bruno Silva, 25 anos, Porto de Mós
1 – Não tenciono ir. Já podia ter votado três vezes, mas só o fiz uma. Ainda não identifiquei a pessoa certa para votar.
2 – Concorrem Rui Marto (PS), Jorge Vala (PSD) e Albino Januário (independente). Sei também quem são os candidatos à junta de Porto de Mós, porque são pessoas da terra.
Eliana Correira, 18 anos Porto de Mós
1 – A política passa-me ao lado. Acho um assunto desinteressante. Como não sei em quem votar, não vou. Talvez quando a política me começar a afectar mais directamente, me venha a interessar mais.
2 – Não sei quem são.
Daniela Santos, 22 anos, Leiria
1 – Costumo votar sempre
2 – Todos os anos procuro conhecer todas as listas que estão a candidatura e, principalmente, os projectos que pretendem desenvolver durante o mandato. Certo que há campanhas eleitorais em que estou mais por dentro do assunto que outras, dependendo da proximidade, mas não faz sentido fazê-lo sem o mínimo conhecimento de quem compõe as listas e os projectos adjacentes para o futuro.
Ana Silveira, 24 anos, Alcobaça
1 – Conto ir votar, mas ainda não sei em quem. Desde os 18 anos que, sempre que houve eleições, votei. Votar é um dever cívico. Alguns dos meus votos foram nulos. Escrevi mensagens.
2 – Sei que o actual presidente da câmara se vai recandidatar e conheço um dos candidatos à Junta de Aljubarrota.