Com o Mundial do Catar a dominar a ordem do dia, é difícil esconder a ambição que muitos jovens têm de vestir as cores da selecção.
“Ter o símbolo da nossa nação ao peito é uma experiência incrível, acho que toda a gente tem o sonho de representar Portugal”, afirma, num treino, Francisca Alexandra, guarda-redes leiriense de 14 anos.
Começou a jogar à bola com os rapazes da escola e conta, entre risos, que acabou por escolher a baliza porque não gosta muito de correr. A paixão ficou, transformou-se em trabalho na Academia Desportiva CCMI, de Leiria, e já se traduz em conquistas que não ficam indiferentes às equipas técnicas nacionais, que a convocaram para três estágios.
“É um ‘bicho’ de trabalho, dedicada, trabalhadora, com uma humildade incrível e uma vontade extraordinária de aprender. Não é fácil encontrar, nem no futebol masculino, alguém assim”, justifica Make Pedroso, o treinador da atleta que tem “a ambição de chegar à selecção A”.
Um objectivo partilhado pela colega Matilde Neves, de 15 anos, que assume nunca ter pensado que o futuro passaria pelo futebol. Pelo menos até perceber que há cada vez mais investimento na modalidade feminina, ter trocado as equipas masculinas com quem jogou durante anos por uma formação de meninas e ser chamada a estágios nacionais.
Aluna de boas notas, adepta de surf e encantada com “o misto de emoções” do ‘desporto rei’, garante que se converteu à “oportunidade de aprender com as melhores jogadoras, com mais técnica e intensidade”.
“A Matilde é uma menina bastante agressiva na aproximação à bola, móvel a nível de jogo e tem uma personalidade muito curiosa que a faz evoluir porque está sempre disposta a trabalhar, dá tudo nos treinos e é muito humilde”, aponta a treinadora Beatriz Cavaco, de 25 anos.
“É um grande orgulho representar Portugal”
A poucas horas da estreia num estágio da selecção nacional do seu escalão, o “caçula da equipa” é posto à prova pelos colegas num exercício de aquecimento.
De sorriso envergonhado, Tomás Silva, de 16 anos e da Benedita, assume que está um pouco nervoso, mas garante que “é um grande orgulho representar Portugal”. Conta que gosta disto “pelo desporto e pelas amizades que se criam para a vida”, e não tem dúvidas de que esta chamada se deve “à dedicação e ao trabalho árduo dos últimos anos”.
Jogador do Centro Cultural Recreativo e Desportivo Burinhosa, admite que até pediu umas dicas ao colega Andriy Dzyalochynskyy, o leiriense que já fez três estágios e deu que falar com um golo na primeira internacionalização.
“Chegar lá e não errar, ser craque e brilhar”: são os conselhos do jogador que, aos 16 anos, é uma das promessas do futsal da região.
Contente com “o que se aprende” nestes encontros e ciente de que “é preciso trabalhar muito mais para conseguir destaque”, Andriy garante que há coisas que não se esquecem: “Arrepiei-me todo a cantar o hino, é uma sensação incrível que nem consigo explicar, só vivenciando”.
Para o treinador da equipa de Alcobaça, o facto de eles serem “dedicados, terem o sonho e a vontade” faz com que não se percam “nestas idades em que é complicado ter uma vida controlada”.
Orgulhoso pelo percurso trilhado, Nuno Veiga acrescenta ainda que ter “pela primeira vez dois jogadores da formação da Burinhosa na selecção nacional” é “reflexo do trabalho de equipa e da dedicação deles”.
“Significa que estamos a ser vistos, a fazer alguma coisa correcta e os jogadores percebem que, com trabalho, podem lá chegar.
Além disso, esta visibilidade ajuda clubes como o Burinhosa, histórico na modalidade e de uma aldeia pequena, a ter mais apoios e a continuar com o pavilhão cheio”, atira o treinador.
Vantagens que se multiplicam nos vários clubes de diversas modalidades que todas as épocas vêem as suas jovens promessas a voar mais alto nas equipas da selecção nacional.
Do futebol feminino ao futsal, mas sem esquecer também os vários exemplos que vamos registando no atletismo, no andebol, na patinagem artística e em tantas outras modalidades que são uma aposta forte na região.